domingo, 27 de março de 2011

O Desporto não é uma ilha rodeado de crise

Diz Daniel Bessa, no Expresso de 26 de Março, pg 3, do Caderno de Economia que:

"O Estado português está há muito em processo de falência."
...
"Não vejo outra solução que não seja falar verdade (enfrentar a realidade, dizia aqui, apenas duas semanas atrás) Saber do que falamos e de quanto falamos (municípios e regiões autónomas, empresas públicas, BPN, parcerias público-privadas, avales prestados) e tentar um recomeço. Não vai ser fácil; e, sem verdade, será impossível. É a maior de todas as mudanças que espero de um novo ciclo político."



O desporto não é uma ilha isolada rodeada de crise nacional.

O desporto deveria ser capaz de falar da sua produção de alto rendimento, do desporto dos jovens em idade escolar, da finalização do ciclo de Londres 2012, da falência dos clubes, das licenciaturas de desporto, da investigação em desporto aplicável ao desenvolvimento desportivo, da criação de um único Museu do Desporto e qual a melhor oportunidade para o fazer, e, principalmente, da definição de um objectivo consensual que chegue a todos estes segmentos relevantes.

Tocar em cada uma destas matérias mexe com interesses que determinam o nível de produção do desporto que está na cauda da Europa.

Se um responsável tem interesse lucrativo numa compra ou venda para a sua organização o produto da organização é corroído por uma margem que o mercado não justifica. Estas margens pequenas e irrisórias quando acumuladas impedem a definição e o assumir de objectivos maiores que são ínfimos no contexto nacional.

Portugal necessita de levantar 8,3 mil milhões de euros nos próximos dois meses e vai pagar juros anuais de 8% que corresponde a um valor anual de mais de 600 milhões de euros. Este valor fica próximo de quase do dobro do que o desporto recebe das autarquias e do Estado.

Ou seja, o desporto 'não conta' para a falência nacional de que fala Daniel Bessa e que é muito maior do que as necessidades de curto prazo, mas é compreensível que vai 'comer pela medida grossa' por essa sua insignificância como demonstrou o caso do aumento do IVA para 23%. Alguns dirão que há sectores do desporto mais iguais do que outros e passarão incólumes desta tempestade e essa é das questões que importava analisar com verdade.

A verdade que sugere DB é o desporto não saber dizer que faz parte da grande solução nacional para a situação de falência do país e que a pequenez nacional do desporto foi feita pelos mesmos princípios e processos que criaram a falência do país.

O desporto está silencioso porque ‘tratou da sua vida’ e de vez em quando produziu um resultado que deixava todos contentes. Depois vinham os escândalos que o sector nunca criticava e corrigia, porque outros faziam o mesmo, e as coisas tornavam-se difíceis.

Passaram-se décadas nisto, os clubes de base faliram, os ginásios são a solução científica que as universidades alimentam com licenciados empreendedores para o desemprego ou para arejarem as poupanças das famílias que rapidamente se arrependem, as novas empresas de desporto são alimentadas pelo Estado central e local porque são eles que produzem o desporto bom e sofrem a concorrência dos clubes de bairro.

A verdade de Daniel Bessa é um caminho longo porque o discurso está contaminado pelo que os agentes se envolveram na melhor das boas vontades para produzirem mais e melhor desporto e o melhor que conseguiram foi ficar no último lugar europeu.

É este o processo de falência desportiva em que nos encontramos e sobre o qual importa falar verdade.

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