terça-feira, 8 de março de 2011

A crise do desporto e as medidas de austeridade actuais

A austeridade que começou a ser aplicada em 2011 vem encontrar um desporto em crise há alguns anos.

Como refiro noutro poste recente os períodos de desenvolvimento desportivo nacional nos últimos trinta e cinco anos são três:
1 - Modelo Melo de Carvalho, de 1974 ao início da década de 1980. Cerca de 7 anos.
2 - Modelo Mirandela da Costa, até 1995 ou 1997/8 com a atribuição da organização do Euro2004 a Portugal. Cerca de 15 anos.
3 - Modelo Euro 2004 apresenta limitações actualmente como a recusa de presidentes como na federação de futebol e no comité olímpico e a saída de um presidente com provas dadas como Fernando Mota da Federação de Atletismo e caso Portugal não conquiste medalhas em 2012 indica que há a necessidade de formular um novo modelo para o desenvolvimento desportivo nacional. Expectativa do modelo de cerca de 13 anos.

Observemos as características de cada modelo:
Modelo 1 - Objecto fundamental desporto para todos e associativismo de base. Instrumento principal produção pública e associativa de desporto. Maior desafio é o nível de desenvolvimento desportivo baixo.
Modelo 2 - Objecto fundamental alto rendimento e secundarização da recreação. Instrumentos principais: incentivo público ao alto rendimento, reformulação do todo legislativo herdado, grande capacidade para conquistar espaço político para o desporto, criação da confederação para dividir as federações. Maior desafio acompanhar a solicitação da sociedade portuguesa no campo do desporto moderno. Maiores limitações esperar por impactos indirectos do alto rendimento para potenciar o desporto de base e a recreação, não ter conseguido tornar ainda mais complexa a política desportiva e fiucar fechado no direito do desporto. Melhores resultados as medalhas obtidas nos jogos olímpicos.
Modelo 3 - Objecto fundamental subordinação da política desportiva ao Governo (consequência do Caso INDESP). Instrumentos principais a política, o direito, o investimento em infra-estruturas, estádios e centros de alto rendimento, os eventos, o namoro aos ginásios e outros agentes com finalidade lucrativa. Maiores limitações a tradicional incapacidade nacional de trabalhar a base da pirâmide de produção desportiva, a ausência de debate transparente das medidas de política e dos seus resultados, acentuar da subsídio dependência das organizações associativas desportivas nacionais.

Actualmente as crises e as medidas de austeridade vão asfixiar o desporto e impedir os carenciados de praticarem desporto, os clubes terão maior dificuldade em maximizarem as suas receitas provenientes da prática desportiva, as autarquias poderão restringir o seu financiamento ao desporto, as empresas procurarão redefinir as suas políticas de marketing e não havendo casos de sucesso no alto rendimento e no trabalho dos clubes de base a origem privada de financiamento será limitada.

Faltam ao desporto atletas de alto rendimento assim como faltam as escolas de desporto reconhecidas nacional e internacionalmente.

Moniz Pereira foi uma escola reconhecida internacionalmente, assim como, Carlos Queiroz. O atletismo demonstrou poder produzir medalhas em todo o espectro da modalidade. Mas como noutras modalidades por exemplo o triatlo, o judo, o voleibol e a canoagem há trabalho, há resultados e pergunta-se há escola? Existe base científica e técnica, organizativa e governance para o futuro?

O futuro do desporto precisa de ir aonde ainda não foi em 35 anos de desenvolvimento desportivo o que o leva a afastar-se das médias desportivas europeias.

Para isso haverá a necessidade de contar com líderes desportivos capazes de exigir às universidades resultados consonantes com objectivos europeus. Face às hipóteses abertas pela investigação científica, os novos líderes do desporto deverão ser capazes de assumir a sua responabilidade e risco para objectivos europeus e universais.

Esta é a forma de ultrapassar as medidas de austeridade vigentes e mesmo outras mais que apareçam pela frente do desporto nacional.

O problema da austeridade para o desporto está no seu interior.

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