quarta-feira, 9 de março de 2011

Aligeirar o Estado das suas responsabilidades?

O José Manuel Constantino no Colectividade Desportiva parece aligeirar o Estado das suas responsabilidades no tocante aos atletas de alto rendimento.

Compreendendo a sua ideia lamento contrapor-lhe uma posição de responsabilização do Estado que é também aquela que economicamente é benéfica para o país.

Os resultados do alto rendimento são um bem público que os Estados deste mundo pagam, com excepções que se vão conhecendo a Leste e na Ásia.

Portugal desde início dos jogos da era moderna não se comportou como outros países fizeram.

Há uma responsabilidade pessoal no percurso do alto rendimento que não se aplica a pessoas e a famílias com uma literacia que não sabe o que é o desporto moderno nas suas externalidades positivas e nas negativas também.

As primeiras estão sobre-valorizadas e as segundas sub-valorizadas.

Sei de atletas, de famílias bem estabelecidas na vida, com problemas médicos actuais e elas também estão indefesas.

No programa na SIC de Mário Crespo de hoje, 9 de Março, esteve o professor Adriano Moreira a dizer que a responsabilidade de promover as hipóteses de estudo e emprego para os jovens é do Estado. Ora, esta situação ainda mais se aplica às hipóteses de vida dos atletas de alto rendimento.

O Estado português tem actuado interesseiramente capturando os benefícios e deixando aos atletas os custos.

O exemplo desta situação é a incapacidade dos atletas dizerem o que verdadeiramente se passa nos outros países e em Portugal.

Os atletas não têm líderes que defendam os seus direitos porque nem o Estado nem o associativismo promove os atletas a líderes esclarecidos.

O Estado português é responsável pelo que se passa porque não faz estudos e análises da realidade, porque sabe o que se passa noutros países e deixa a situação arrastar-se entre nós, porque em casos concretos foi informado, acompanhou ao longo dos anos e pouco diferenciou em décadas de regulação desportiva.

O desporto de alto rendimento é um bem público cujas vicissitudes não devem ser retiradas ou minimizadas ao Estado, porque as famílias desconhecem aquilo em que se envolvem, porque as empresas não querem saber do destino do atleta.

Tem de ser o Estado a actuar em primeiro lugar.

Em segundo está o COP e a par as federações. Estes deveriam ter programas bem estruturados de responsabilização privado e público mas o cop atravessa uma fase de inimputabilidade que afecta todo o tecido associativo.

Este é um domínio sensível da ética porque potenciar os jovens e as famílias para o alto rendimento e para o desporto profissional, sem medidas de protecção e salvaguarda de todo o potencial do jovem é um erro e é uma negligência porque o custo de actuar atempadamente seria mais baixo do que o custo de corrigir todo o mal feito.

Mais uma vez se demonstra como o debate sobre o que se passa no desporto português está nos seus primórdios se queremos vir a alcançar médias desportivas europeias.

Aconselho os leitores a seguirem igualmente o blogue Colectividade Desportiva, que agora tem contado com novas intervenções, por constituir uma fonte de conhecimento desportivo com os quais se pode concordar e discordar.

A abertura de espaços de debate sobre os desafios do desporto é uma necessidade para Portugal avançar mais depressa com o que deve fazer de equivalente ao que se passa na Europa.

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