quarta-feira, 16 de março de 2011

Nem tudo o que se passa noutros sectores é correcto no desporto

O desporto é diferente.

Chamam-se as peculiariedades do desporto segundo Walter Neale lhes chamou em 1964.

Várias pessoas amigas enviaram-me o artigo do economista Álvaro Santos Pereira (ASP) sobre o encerramento dos institutos públicos para poupar os gastos do Estado.

No artigo de ASP falava-se no Instituto do Desporto de Portugal e propunha-se a possibilidade de extinção de grande parte das instituições públicas apresentadas no artigo.

Tenho dúvidas profundas sobre a razoabilidade dessa medida para o desporto como já o demonstrei neste blogue.

O desporto é um sector produtor de co-produtos, quando consegue internalizar receitas, e também gera externalidades abundantes que os países mais desenvolvidos do mundo investem e aproveitam.

Nós temos falhas ao nível da produção e ao nível da regulação desportiva tanto a privada como a pública o que nos coloca no último lugar europeu.

Para observar melhor a importância do desporto e não olhar muito para o que dizem algumas pessoas, façamos algumas contas.

Se considerarmos que o gasto médio em desporto da população portuguesa é de 200 euros por ano, obtemos um valor de despesa das familias, consideremos 45% da população, 4.500.000 praticantes, igual a 900 milhões de euros.

Aplicando um IVA de 6% temos uma receita fiscal, antes do aumento para 23%, de 54 milhões de euros que é quase o orçamento do IDP de 79 milhões de euros.

O aumento do IVA para 23% faz com que o fisco receba em 2011 um valor aproximado de 207.000.000 euros.

Ou seja, com o aumento e sem os cortes, que ainda vai fazer, o fisco tem um lucro com o desporto da ordem dos 130 milhões de euros.

Por aqui se vê como o ministério das finanças gosta de desporto!

Mas as contas vão ser diferentes porque:

1 - os ginásios não estão a cobrar o IVA aos clientes;

2 - alguns vão fugir ao fisco;

3 - outros vão preferir cortar custos e despedir funcionários;

4 - alunos que estudam gestão do desporto e trabalham em organizações desportivas como ginásios abandonam os estudos;

5 - alguns irão engrossar o desemprego e outros haverá que vendo coarctada a hipótese de estudar irão ter vidas mais precárias do que se continuassem os estudos;

6 - os desempregados e aqueles que constroem vidas precárias são gastadores do Orçamento do Estado;

7 - parte da população irá deixar de praticar desporto e neste momento de crise haverá pessoas que necessitariam de praticar uma actividade desportiva para aumentar a sua produtividade, que não beneficiarão de incentivos para tal e isso é um défice adicional para as contas das finanças.

As finanças não vão arrecadar os 130 milhões de euros e podemos ver o efeito de uma política desportiva inversa:

1 - o Estado incentiva a prática desportiva da população com algumas economias que passa a fazer;

2 - investe na prática desportiva da população passando de 4,5 milhões de praticantes para 6 milhões de praticantes;

3 - recebe de iva, ainda a 6%, 108 milhões de euros o que lhe permite aumentar o orçamento do desporto;

4 - angaria benefícios intangíveis e monetários do aumento da produtividade da população e da melhoria da sua saúde através da prática desportiva.

ASP tem ideias para sanear as contas do Estado.

Todos os economistas nesta altura têm ideias sobre as finanças do país.

Esperemos que Álvaro Santos Pereira venha a conhecer melhor as peculiariedades do desporto e vire para outros sectores as boas ideias liberais que certamente tem mas que não se aplicam ao desporto da forma que ele pensa.


Estas ideias que eu aqui deixo são ideias que necessitam de ser trabalhadas profundamente.

O desporto necessita de ideias e de trabalho, muito trabalho que tem evitado fazer.

Como as contas que apresento demonstram o benefício dessas contas pode equacionar-se em milhões de euros.

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