sábado, 26 de março de 2011

Nenhum país do mundo enfraquece o investimento no alto rendimento

O prémio Nobel Paul Krugman fala de Portugal e dos impactos esperados da austeridade. Ver link aqui.


Apliquemos estas preocupações à essência e viabilidade do alto rendimento nacional.


A austeridade actual alerta-nos para o modelo de produção desportivo nacional.

O alto rendimento tem uma das intensidades de capital por resultado produzido, tão alta como os sectores de ponta na ciência e na investigação.

Fazem-se investimentos de muito longo prazo para contratação dos melhores especialistas e trabalha-se com os melhores de acordo com as condições que o seu trabalho exige.

O Reino Unido assumiu por inteiro o custo dos Jogos Olímpicos de Londres apesar da crise que atravessa.

A Grécia já o tinha feito anteriormente em 2004 com as consequências que se observam na falência do país e que chamam a atenção para a necessidade de não fazer os projectos megalómanos dos gregos.


O problema de Portugal é não trabalhar visando objectivos segundo os princípios científicos e técnicos mas andar atrás de ideias que equipas de pessoas voluntariosas definem e que são reconhecidos como os únicos possíveis num quadro já coarctado do seu potencial.

É esta a essência do debate que se faz no Conselho Nacional do Desporto e que acontece há décadas.

Há projectos que se fazem como os Centros de Alto Rendimento que necessitam de estruturas que vão da prática desportiva informal da população ao envolvimento económico e social em torno do alto rendimento e que Portugal não tem porque nunca entregou o trabalho de concepção do desporto nacional a pessoas a quem foi dado esse objectivo específico.

O processo de política desportiva mais complexo que o desporto português possui é o de conversar com os líderes desportivos sobre os problemas que possuem para manterem as suas organizações em funcionamento.

Isto foi feito por exemplo em meados dos anos noventa para decidir que infra-estruturas iam ser financiadas com os dinheiros comunitários e depois veio a ideia da candidatura ao europeu de futebol para salvar o Dr. Gilberto Madail e o Governo pegou logo nela e depois fizeram-se as instalações até chegar à construção dos CAR’s.

Agora, antes da demissão do governo, pretende-se fazer um programa de longo prazo e as federações esfregam as mãos de contentes porque o programa vai ser feito por elas no seio do CND.

O desenvolvimento desportivo nacional conseguido com a acumulação de capital desportivo que apesar de tudo se faz nas federações e nas estruturas desportivas gera resultados pontuais que morrem seguidamente à medida que os factores decisivos que suscitaram o crescimento fenecem.

Assim, os projectos desportivos nacionais nascem e estão sujeitos às dificuldades que a sua actividade de intensidade técnica e económica sofrem do meio envolvente.

A crise actual estará a repercutir na produção de alto rendimento as dificuldades do país porque faltando ao projecto os meios, estes deixam de fluir e políticas como as de austeridade são aplicadas sem proteger a especificidade do alto rendimento.
Para terminar, como realcei a fraca estrutura envolvente acaba por afectar o produto do alto rendimento em vez de o potenciar.

Se não há prática desportiva informal e praticantes federados em dimensões críticas elevadas para alavancar a complexidade da estrutura produtiva, por si só, o modelo do alto rendimento é incapaz de suster o impacto da austeridade e de manter o nível de prestação próprio do alto rendimento de nível europeu.

Esta é uma situação que a generalidade dos líderes desportivos não entende, não quer ouvir e recusa-se a equacionar senão para discutir a quadratura do seu círculo familiar.

Afinal o sucesso de hoje da seu alto rendimento que tanto orgulho dá a alguns dos nossos políticos, pelo menos é o que eles deixam entender, é o sucesso pequeno de pessoas de boa vontade que dão o seu melhor e que consideram a mais não serem obrigados.

Daí o assumirem serem o alfa e o ómega do bom desenvolvimento desportivo nacional.

Sem nenhum segundo sentido tenho de admitir que estão absolutamente certos.



Só que … Só que esse desporto dos grandes líderes desportivos portugueses está na cauda da Europa e olhar para o futuro mostra que este posicionamento é insuficiente, incapaz, incompetente e eticamente inaceitável para aqueles que são os beneficiários do desporto moderno e que são a juventude e a população portuguesa.

Sem comentários: