terça-feira, 31 de maio de 2011

Duas perguntas públicas à FPF

  1. A FPF considera que as eleições para presidente da FIFA devem ser adiadas ou mantidas?
  2. A FPF considera que a FIFA deve iniciar um processo de reforma estrutural como propõem outros membros?
Seria bom que as respostas públicas explicassem os motivos em que se baseiam as respostas dadas.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O modelo prosseguido vai cobrar um custo muito alto ao desporto

Até parece que o dinheiro que existe é muito como tenho referido nos últimos postes.

A questão da falta de eficiência vem somar-se às condições da sua inexistência no desporto.

O país está a acordar para a necessidade de independentemente do Governo, que vier a ser eleito, haver desde já um Alto-comissário que articule entre todos os ministérios e outras instituições como a Assembleia da República as medidas da troika porque os prazos dados pelos credores são apertados.

Não se sabe publicamente se o Governo demissionário está a tomar estas medidas ou quaisquer outras. O PSD diz que nada lhe está a ser comunicado.

No caso do desporto a questão estará na confiança que o associativismo e as empresas têm no trabalho do Governo.

Se decorrer de acordo com o hábito quando o Governo apresentar as suas soluções o desporto vai aceitá-lo seguramente como aceitou ficar sem o Tribunal Arbitral do Desporto no COP.

Entretanto, podemos desde já considerar que o poder de compra dos portugueses vai cair drasticamente nos próximos dois anos e as organizações desportivas que não exportam bens transaccionáveis nem alteram a produtividade do seu produto desportivo verão o seu poder de venda cair para níveis impróprios para cardíacos.

É provável que a despesa pública em desporto caia ainda mais e as federações deveriam estar a conceber como se deverão defender de uma quebra em cenários alternativos de 5% a 10% ou de 15% a 30%.

Estas soluções deveriam ser concebidas pelo COP e CDP tendo soluções para cortes ligeiros e cortes graves da despesa pública.

Houve federações que tinham pensado parar algumas das suas actividades e agora avançaram de novo com elas. Há, portanto, falta de informação e de concepção de estratégias alternativas. Os erros vão aparecer e com a crise as suas consequências serão ainda piores.

O desporto com outra liderança não deveria esperar pela eleição do governo.

São duas coisas distintas que o desporto não separa e vai pagar pela sua incompetência económica.

Enquanto economista e face a tudo o que se passa a questão é que o desporto não tem um discurso económico e a partir daí não tem um discurso forte para negociar com o governo e a sociedade.

Por exemplo, a questão do Tribunal Arbitral do Desporto tem fundamentos económicos fortes que sustentam a sua colocação num COP/CDP racionalizado, modernizado e funcionando com princípios de eficiência económica e democracia em defesa dos direitos das federações.

Ora o COP é aquilo que Manuel Brito já disse que era o IDP, uma caixa multibanco, onde as federações vão levantar o seu salário.

Este simulacro de organização desportiva de topo não é uma agência reguladora da actividade desportiva produzida por agentes privados e visando maximizar o seu produto desportivo em todas as suas vertentes.

Vendo o relatório da Comissão a que se refere o poste de JMMeirim no Colectividade Desportiva lá estão os 'poderes públicos' os quais não possuem uma substância racionalizadora dos comportamentos dos agentes privados associativos mas que os juristas gostam de referir assiduamente como relevantes para a decisão de produção desportiva das federações. Acontece que o fundamental não são as federações e os poderes que o Estado lhes dá ou deixa de dar. O fundamental é a produção de desporto para a geração de bem-estar para a população o qual tem de ser produzido no mercado privado de desporto. A acção de financiamento do Estado é para aumentar o produto privado para níveis que o mercado, pessoas e patrocinadores, não financia.

O problema dos 'poderes públicos' é que eles transformam uma decisão de produção que se deveria fazer de acordo com incentivos de mercado numa decisão pública que se impõe ao mercado privado. Este princípio de actuação no desporto português subverteu a liberdade e o risco da produção privada, tal como acontece na Europa, para impôr o interesse público que desconhece a produção de desporto e impõe o interesse dos agentes públicos.
As estatísticas são importantes mas de momento existem outros limites graves como a necessidade de uma nova concepção do produto desportivo, a conceptualização da racionalidade da produção, o envolvimento dos agentes técnicos de todo o cariz na transformação do desporto visando um horizonte de longo prazo como fazem os outros países europeus.

Há uma incapacidade por parte dos líderes desportivos e das suas equipas técnicas e direcções de reagirem à crise nos termos em que ela vai atingir o país, o desporto e as suas organizações em particular.


O desporto vai pagar caro todas estas suas limitações.

Pai morre afogado ao tentar salvar filho

Segundo o Expresso, ver aqui:
Um homem de 50 anos morreu afogado hoje, na praia dos Dois Irmãos, em Arcozelo (Vila Nova de Gaia), depois de ter tentado resgatar o filho de 12 anos do mar, disse à Lusa fonte dos Bombeiros da Aguda.

De acordo com fonte dos Bombeiros Voluntários da Aguda, o homem com 50 anos afogou-se ao final da manhã, quando tentava retirar o filho que "estava aflito" no mar. O filho acabou por sair da água sem problemas.
O pai foi retirado do mar por uma embarcação dos Bombeiros Voluntários da Aguda, em paragem cardíaca, tendo sido assistido no local e depois transportado para o Hospital Santos Silva, em Gaia, onde foi declarado o óbito.
Segundo a mesma fonte, o mar não estava especialmente agitado, mas "o Caneiro dos Dois Irmãos é um sítio perigoso", onde já se registaram mais mortes por afogamento.

domingo, 29 de maio de 2011

Nuno Delgado promove maior aula de judo do mundo

Segundo o Diário de Notícias, aqui.

por Lusa Hoje
O antigo presidente da África do Sul Nelson Mandela e a sua mulher Graça Michel estão surpreendidos com a dimensão que está a ganhar a maior aula do mundo de judo, liderada por Nuno Delgado.
"Nuno, estamos muito felizes. Obrigado por tudo! Nunca imaginámos que isto ganhasse esta dimensão. A iniciativa atingiu proporções extraordinárias. Estamos todos muito orgulhosos", disse Graça Machel ao medalhado olímpico Nuno Delgado, citada pela assessoria de imprensa da iniciativa.
A maior aula do mundo realiza-se quarta-feira, 1 de Junho, no Terreiro do Paço, em Lisboa, integrada no lançamento mundial da iniciativa Mandela Day 2011 e promovida pelo movimento cívico Achieve, Collect & Give Back. O judoca Nuno Delgado quer juntar milhares de crianças e jovens portugueses até aos 25 anos.
Desejando "a todos muito sucesso", a mulher do histórico líder sul-africano tranquilizou os admiradores de Mandela, de 92 anos, que viajou recentemente para a sua cidade natal, Qubu, o que levantou dúvidas sobre o seu estado de saúde.
"Madiba está estável e feliz por estar na sua terra natal", disse Graça Machel.
O Mandela Day 2011/Maior Aula de Judo do Mundo tem a co-organização da Câmara Municipal de Lisboa e o apoio oficial da Fundação Nelson Mandela e das secretarias de Estado dos Transportes, da Juventude e Desporto, da Educação e da Defesa.

Eficiência económica, externalidades desportivas e política pública

Quando observamos um mercado que gera um produto de 9 mil milhões de euros em 6 anos devemos ter em atenção os objectivos que se procuram maximizar com o seu produto.


Sendo os recursos escassos a primeira pergunta é se os recursos colocados à disposição pela sociedade atingem os objectivos com eficiência. Sumariamente será a de obter o máximo de produto com o mínimo de despesa.

É isso que fazemos quando vamos ao mercado e trazemos um cabaz de compras que obtivemos comprando os produtos que mais nos agradavam pelo preço mais baixo. Para isso negociámos com os vendedores, perguntando os preços, comparando a qualidade e decidindo por uma compra.

Se um governo tem o potencial de 70 milhões de euros para investir no desporto por ano ou de 420 milhões de euros por parte de uma das suas agências e de 1,8 mil milhões por parte das autarquias estes são montantes muito elevados e que exigem desde início da governação a afirmação dos objectivos do investimento.

Ao trabalhar com políticas de desporto sem ter uma preocupação de eficiência económica pode acontecer que o investimento realizado seja ineficiente ou mau por vários motivos:

1. se se fazem infra-estruturas sem uso, como parte dos estádios do Euro2004 fica-se à mercê dos 'opinion-makers' atacam todo o projecto quando existe um erro com as infra-estruturas bem claro
2. outro tipo de erros é a predominância das preferências dos agentes públicos que impõem soluções desajustadas, erradas, porque desconhecem de facto como agem os produtores desportivos ou como se deve produzir desporto com eficiência
3. os agentes públicos também erram quando beneficiam agentes pontuais em prejuízo da sociedade e da população em geral
4. o processo de negociação no mercado é susceptível de ser apropriado pelos agentes mais activos
5. os direitos de propriedade não sendo bem definidos geram situações de ineficiência

Existem outros problemas mas vamos fixar apenas estes como demonstrativos que o produto do mercado desportivo pode não ser eficientemente maximizado pela acção do Estado.


Outra razão da ineficiência do mercado é a produção de externalidades que são benefícios que terceiros se apropriam sem terem feito parte da transacção de mercado que gerou esse benefício.

O exemplo mais comum é o dos benefícios da saúde que aumentam a produtividade dos cidadãos e trabalhadores e que a economia como um todo beneficia mas quem paga a transacção privada é o seu consumidor.


Estamos portanto perante duas acções possíveis do Estado ou de política pública desportiva:

1. Assegurar a eficiência da produção e da transacção de desporto cuja dimensão deverá procurar alcançar a totalidade da população

2. Internalizar os benefícios externos apropriados pela sociedade e pela economia graças à produção desportiva eficiente

Então e a democracia do funcionamento das organizações desportivas? perguntam algumas pessoas. As federações são corruptas! acrescentam logo de seguida.

A aplicação dos princípios sejam os constitucionais, sejam os olímpicos dão aos agentes desportivos e ao Estado instrumentos que aplicados ao mercado lhes permitem trabalhar melhor e alcançar um maior produto desportivo, no caso concreto deste sector. A literatura científica demonstra que as sociedades com melhores instituições e menor corrupção produzem um maior produto desportivo em cada um dos seus segmentos sejam o informal, a recreação formal e o alto rendimento.


Conclusão


Face ao nível frágil de produto desportivo nacional é plausível que haja aspectos relacionados com a falta de democracia e de eficiência no seio das organizações privadas e no funcionamento das instituições públicas associadas ao desporto.

A eficiência económica é um instrumento útil ao desporto quando a economia está bem e para a resolução do que está mal a eficiência é ainda mais útil, porque aconselha a investir melhor para resolver os problemas existentes.

Na actual situação desportiva nacional em que os recursos se vão tornar ainda mais escassos, com as medidas de austeridade da troika, conviria ao desporto atentar à boa aplicação dos seus recursos escassos e a conseguir também internalizar as externalidades que vai gerando para a sociedade.

Este exercício para o Governo de maioria é também relevante porque existem desafios a transformar tanto na regulação privada no seio do associativismo desportivo, como com as empresas produtoras de desporto, como nas organizações públicas que trabalham e que regulam o mercado do desporto.

O desporto continua parado ou talvez 'a falar sozinho'

A entrevista do Público a dez personalidades da Cultura, que sublinhei partes aqui, dá a dimensão da dinâmica do sector, onde a partir do manifesto feito ainda no fim de 2010 foi patente uma posição pública e quando o PSD sugeriu o fim do ministério cada vez mais agentes e instituições opuseram-se e discutiram a proposta, ao ponto de assiduamente surgirem artigos sobre o sector.

Politicamente o conjunto das preocupações são relevantes e um exemplo para o desporto olhar e pensar o que faz.

Há poucas semanas o Governo atribuiu 5 milhões de euros à Cultura ao mesmo tempo que anunciou tirar um montante próximo ao Desporto. Porém, nota-se que apesar desse benefício a Cultura não se calou como o desporto se cala.

Raros são os agentes culturais a exigir o desenvolvimento sustentado que se ouviu apenas no debate promovido pela Sedes e Diário de Notícias e nas dez personalidades o conceito de desenvolvimento sustentado e da promoção cultural de base não foi colocada.

Também no Desporto pouco se fala da produção desportiva de base.

Segundo se afirma os grandes teatros e orquestras possuem estrangeiros o mesmo que os grandes clubes de futebol demonstrando afinal que é possível encontrar similitudes para além da distinção possível entre os dois sectores.

As modernas sociedades e economias vão viver de sectores como a cultura, o turismo, as indústrias criativas, o ambiente, a inovação, o ensino superior e o que acontece é que se o desporto português quiser fazer parte destes sectores do século XXI terá de andar mais depressa e melhor do que o que tem feito.




A chave da produção desportiva é maioritariamente a população portuguesa e o seu maior valor não está ao nível da produção de bens transaccionáveis para equilibrar as contas externas de Portugal. Quase 50% da população não tem condições para pagar o seu consumo mas deve seguramente consumir desporto para ter um menor impacto nos custos de saúde e conseguir maior produtividade no seu trabalho e bem-estar social nacional. O contributo do desporto está directamente relacionado com o balanço social e com a produtividade nacional, assim como, as economias geradas na educação e na saúde.



Quando o Estado português investe continuadamente em infra-estruturas desportivas sem se aperceber do limite dos investimentos que faz e prejudica materialmente a produção de base, as condições de trabalho tanto do associativismo desportivo como das empresas de desporto soçobram.

Em 6 anos o desporto gerou 9 mil milhões de euros de produto (1,5 mil milhões de euros por ano vezes 6 anos) o que demonstra que a importância do desporto é grande por ser superior ao valor de vários aeroportos, auto-estradas, submarinos e tudo o mais que faz as cabeças dos políticos portugueses andar à roda.


Com uma dimensão económica tão grande a pergunta a fazer talvez seja se a lista de obra do PS às eleições de 5 de Junho não podia ser ainda maior...


Quando se relativiza o valor do desporto no PIB verifica-se que ele está abaixo de 1% e muito longe dos 2% do PIB europeu.

Por outro lado, se o Estado cobrasse 6% de IVA a todo o desporto conseguia arrecadar valores da ordem dos 90 milhões de euros que é superior aos mais de 60 milhões de euros que o desporto vai recebendo anualmente. Se o Estado passar a cobrar 23% de IVA muita gente vai deixar de praticar desporto, outros vão passar a não passar facturas e aqueles que não se importarem de pagar mais pela prática desportiva são os mais ricos.

As contas das finanças poderão ter sido vir a obter 300 milhões de euros de IVA do desporto a 23%.

As finanças 'não percebem nada de desporto', e essa questão não é importante porque deveria haver pessoas capazes de lhes dizer como é que se maximiza o produto no mercado desportivo. Deveriam dizer-lhes para e onde investir no desporto mas como não há ninguém que lhes demonstre esta realidade nos jornais, nos blogues, nas conferências das faculdades de desporto, nas negociações entre agentes privados e públicos é possível que medidas economicistas como o aumento do IVA sejam apetecíveis.


A lista de obras feitas mostra que as pessoas até trabalharam o que será a justificação para a aplicação de mais de quatrocentos e cinquenta milhões de euros de despesa central em seis anos mas o relevante seria ter a percepção clara do que está a resultar com despesa custo eficiente e do que são pontes no deserto, ver aqui.



Quando o PSD esteve no Governo fez o Euro2004 de acordo com o definido e respeitando os compromissos de governos anteriores e teve dificuldade em fazer muito mais, deixando pelo menos a atribuição de dinheiros às federações pelo COP o que constituiu um passo significativo no imobilismo económico do governo do desporto dos últimos 30 anos.


Agora o Governo de Maioria terá de ser politicamente aberto e transparente incutindo uma dinâmica de eficiência e de desenvolvimento sustentado se quiser que o desporto consiga fazer face às medidas de austeridade e simultaneamente crescer em direcção à média europeia.


Em termos económicos muito mais há a fazer quer na agência técnica do Estado para o desporto quer quanto aos líderes federados COP e CDP.

sábado, 28 de maio de 2011

Coisas da Cultura

O Público, aqui, entrevistou 10 personalidades da Cultura sobre a relevância do ministério.

Retirei alguns aspectos das afirmações das dez personalidades:

Manuel Maria Carrilho – Ministro da Cultura (1995-2000)


O que existe hoje é um monstro porque não tem actividade, é puramente burocrático, não tem medidas, não há políticas. Não há política, para o livro, para os museus, para o teatro, para a arte contemporânea, e isso é que faz de uma administração um monstro.

A Cultura é muito betonizada. A Cultura tem potencial para ajudar a sair da crise.

A norma na Europa é 16 ministros para cima, não para baixo.



António-Pedro Vasconcelos – Realizador

O défice que temos não é de artistas, é de ouvintes, leitores e espectadores.

São precisas políticas transversais que impliquem a Educação, os Negócios Estrangeiros, ou a lusofonia, de que todos os ministros falam, mas sem avançarem quaisquer acções concretas.



Pedro Burmester – Pianista e antigo director artístico da Casa da Música

A Cultura está subfinanciada, e já o vem estando há muito.

É ainda preciso definir o papel do Estado nesta área, que nestes últimos tempos me parece bastante confuso. Julgo que se deve dar prioridade ao património, mas numa concepção de património vivo, um património de pertença, e não de postal.

A questão é que falta financiamento e falta estratégia.

Mas deve sublinhar-se o papel das autarquias, cuja intervenção nesta área é, em quantidade e qualidade, muito melhor do que era há alguns anos atrás. E já não se reduz a construir pavilhões para inglês ver.



Luís Braga da Cruz – Presidente da Fundação de Serralves

Na área da Cultura, o que tem de ficar claro é o que queremos para o sector, e assegurar a sua dupla responsabilidade: valorizar o que tem interesse patrimonial, o que são as infra-estruturas, e definir correctamente a fronteira entre aquilo que é da responsabilidade da administração central e das direcções regionais; e assumir um empenho efectivo à criação cultural, àquilo que é efémero, à criação de novos públicos, às indústrias criativas na sua relação com a economia... E aqui há muito a fazer.

Por outro lado, é preciso criar uma cultura de avaliação, assegurar uma rigorosa política de avaliação e a transparência dos apoios públicos. É preciso medir os resultados dos apoios do Estado. E tudo isto se pode fazer tanto a partir de um ministério como de uma secretaria de Estado.”



Augusto M. Seabra – Programador e crítico

O Ministério da Cultura tem é que ser inteiramente reestruturado, em função dos novos dados da situação financeira e económica do país.No presente quadro tão negro, não tenho dúvidas que qualquer que seja o governo que saia das próximas eleições, a Cultura não será uma prioridade. Mas não deverá, por isso, deixar de ser, antes pelo contrário, um eixo de orientação estratégica.”



Isabel Pires de Lima – Ministra da Cultura (2005-2008)

O engenheiro Sócrates desinvestiu sistematicamente neste sector, com uma grande incongruência, aliás: disse muitas vezes que ia investir mais para corrigir erros do seu primeiro governo e a prática mostrou-nos que acabou por fazer o contrário.

Nos últimos anos houve um forte crescimento da cultura e da economia da cultura, mas há áreas que terão de continuar a ser forçosamente apoiadas pelo Estado como os arquivos, as bibliotecas, o património móvel. E para isso é importantíssimo que esta área tenha um representante sentado no Conselho de Ministros, a puxar por ela.

Em vez de extinguir o MC proponho que ele chame a si áreas que lhe têm sido quase alheias, como o Turismo. Faz muito mais sentido tê-lo na esfera da Cultura do que na da Economia. O turismo que tem crescido em Portugal nos últimos anos é precisamente o cultural.



Maria João Bustorff – Ministra da Cultura (2004-2005)

Mais do que sabermos se a Cultura vai ser ministério ou secretaria de Estado, dependendo directamente do primeiro-ministro ou de outro ministério qualquer, o que interessa é pensar na sua reestruturação.

Todos ouvimos o Dr. Mário Soares falar da importância simbólica do Ministério da Cultura e temos tendência a concordar com esse princípio, mas também sabemos que, neste contexto de contenção, a reforma da administração pública é inevitável.

Independentemente da forma institucional, espero que o estado dote este sector com os meios de que ele precisa. Tem de haver mais dinheiro para a cultura e uma profunda reestruturação que tire partido dos serviços descentralizados que já existem, como as direcções regionais de cultura, e pô-los a funcionar. É preciso uma revisão da Lei do Mecenato, estabelecer mais parcerias com fundações, autarquias e instituições internacionais.



Raquel Henriques da Silva – Directora do Instituto Português de Museus (1997- 2002)

Haver um ministério ou uma secretaria de Estado não é a questão fundamental, o mais importante é que haja uma política cultural.

Não confundo ministério com política - nós não temos tido uma política cultural e tem-nos sobrado ministério. Uma estrutura dependente do primeiro-ministro pode trazer menos burocracia, menos gabinetes, menos assessores. E pode permitir o reforço de uma equipa tecnicamente capaz de directores gerais.

A cultura engordou muitíssimo nos últimos anos e as políticas emagreceram.



Miguel Lobo Antunes – Administrador da Culturgest

Deve haver um Ministério da Cultura, em síntese, por quatro razões principais: pelo valor simbólico, que indica uma prioridade política; porque permite que o responsável directo pela política cultural se bata por ela a nível de Conselho de Ministros; porque dá a possibilidade ao Ministro, por ter o mesmo estatuto que os outros governantes sectoriais, de introduzir a componente cultural nas políticas do Governo; porque lhe dá as condições de intervir a favor de uma coordenação das componentes da política cultural que são prosseguidas por outros ministérios.

Evidentemente que não basta que haja Ministério. É necessário que quem ocupe esse cargo seja competente, tenha peso político e disponha de um orçamento adequado.



Augusto Mateus – Ministro da Economia, Indústria, Comércio e Turismo (1996-1997)


O que me parece absolutamente indispensável nesta discussão é que se garantam condições para que a cultura, em todas as suas dimensões, possa desempenhar a sua função na promoção dos cidadãos, na valorização do conhecimento. Não me parece que isso possa ser feito com um ministério tradicional. Criar uma estrutura moderna capaz de fazer com que os bens e serviços culturais sirvam de estímulo à indústria deve ser uma prioridade do próximo governo.

Devemos é pensar na Cultura “com”: com outras áreas que valorizem o conhecimento, com sectores que promovam a criatividade, com políticas bem definidas. Em Portugal discutimos muito os nomes e pouco os objectivos.

Não me interessa discutir se o M de Ministério da Cultura tem oito ou 15 centímetros, o que me interessa é que todos olhem para esta área como elemento chave da competitividade.

Estatísticas europeias do desporto

Está neste link, aqui, as intervenções na conferência sobre estatísticas da União Europeia.

É um trabalho incerto porque tem intervenções sobre os bons projectos nacionais e não apresenta aquilo que se esperaria a UE estivesse a produzir que são as estatísticas comparadas entre todos os seus países.

Há alguma informação produzida mas a União Europeia não a divulga impedindo os países a quem pede a informação de beneficiarem do cruzamento de conhecimento estatístico europeu na área do desporto.

Já seria relevante a apresentação de resultados mesmo que incompletos.

As lacunas actuais das estatísticas do desporto europeu e mundial estão no conhecimento e na definição do produto desportivo.

Os desportos profissionais geram por tradição informação sobre as suas actividades de carácter lúdico económico enquanto as actividades das federações são complexas para a percepção estatística porque incluem actividades formais e informais que as ciências sociais a economia, a gestão e a sociologia ainda não conseguiram estabelecer um padrão único.



O Governo de maioria deveria investir nas estatísticas do desporto.

Há um trabalho imenso para ser feito e a sociedade portuguesa quer trabalhar as estatísticas do desporto.

Obviamente em 2011 há quem continue desde há 30 anos a impedir a publicação das estatísticas do desporto português o que dá muito jeito para não sabermos onde estamos exactamente com e sem listas de obras.

Como fazer uma ponte no deserto é importante numa lista de obra eleitoral

Este é um exemplo clássico da economia.

Um governante resolve fazer uma ponte no deserto para salvar a economia da recessão e contrata uma empresa que cria postos de trabalho, anima a economia, os jornais vendem-se mais com os trabalhadores na ponte, os bancos emprestam e fazem o dinheiro circular, há visitas de engenheiros e outros empresários e os hóteis e restaurantes animam-se, durante 3 semanas a região comemora a construção da ponte havendo romarias à ponte no deserto.

Passada a festa a ponte deixou de ser visitada e foi abandonada.

Quem ganhou e quem perdeu com a construção da ponte no deserto?

Quem ganhou foram os empreiteiros, os bancos, as empresas fornecedoras de materiais, alguma população teve emprego, o governante teve publicidade pela obra feita, a comunicação social e o turismo.

Quem perdeu foi a população que ficou com a ponte para pagar e não tem benefício da sua utilização.

Diga-se que o governante tinha feito a ponte no deserto porque numa região vizinha duas comunidades separadas por um rio tinham construído uma ponte e o seu sucesso tinha sido instantâneo gerando novas relações entre as duas comunidades que antes para se encontrarem tinham de percorrer dezenas de quilómetros. Com a ponte sobre o rio surgiram novas actividades económicas, novas industrias, novos postos de trabalho e o governo pagou a ponte com o diferencial de aumento da actividade económica.



A listagem de obra anunciada nos últimos anos e a crise que ajudou à bancarrota do país mostram que os investimentos feitos por Portugal estiveram entre a ponte no deserto e a ponte no rio.

No caso de alguns estádios e de outras obras como centros de estágios muito caros concluímos que definitivamente são pontes no deserto.

Um centro de estágio para o atletismo pode justificar-se porque existe capital para a sua viabilização desportiva e financeira, enquanto outros centros de estágio fecham porque não existe suficiente acumulação de capital desportiva para a viabilizar. O remo de Montemor o Velho e o ciclismo de Sangalhos poderão ser verdadeiras pontes no deserto.

O hábito de fazer obra surgiu com a entrada às resmas dos dinheiros comunitários ainda no tempo do ex-primeiro-ministro Cavaco Silva onde o critério de decisão era a eficácia da aplicação dos dinheiros e não a boa aplicação dos mesmos.

Estes hábitos perduraram e depois de se esgotarem os dinheiros grátis da UE inventou-se o endividamento dos nossos filhos e da nossa velhice para o ritmo de obra se manter e mostrar no dia anterior às eleições.


O desenvolvimento económico e social é mais do que uma lista de obra.

As pessoas deveriam votar no desenvolvimento sustentado de Portugal e não nas listas de obra que por aís circulam obsessivamente.

A lista de obra é fácil de fazer e de promover.

Mais relevante será trabalhar para o bem comum e sem alarde na comunicação social deixar que a opinião pública decida se pretende manter o estilo de governação ou quer alterar para outro governante.

A possibilidade real de alternância seria melhor servida com estudos económicos que facilitassem o conhecimento dos ganhadores e perdedores da obra realizada.

Sem estudos ecoonómicos as pessoas até podem pensar que o direito de ficarem 50 anos no governo é um acto que as festas das inaugurações e as festas eleitorais justificam abundantemente.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Mais e melhor produto desportivo

As federações são a maior estrutura desportiva nacional são líderes do mercado onde competem como monopólios desportivos, bem definidos por direitos de propriedade nacionais internacionais.
Elejamos o produto desportivo como elemento central do desenvolvimento desportivo nacional. Considere-se que quanto maior o produto desportivo maior o bem-estar social da população.

Esta análise justifica-se porque o fraco produto desportivo nacional necessita de ser melhor conhecido na sua natureza e na forma de actuar sobre ele.

No programa da actividade e da condição física procurou-se elevar estes conceitos acima do conceito de desporto.

Porém o aparelho produtivo de desporto produz desporto, enquanto a actividade e a condição física são características particulares.

Enquanto posição da administração pública do desporto é útil conhecer características como a actividade e a condição física e enquanto instrumento de produção de desporto é decisivo conhecer o produto e os produtores de bens e serviços desportivos.

A análise dos praticantes federados mostra que Portugal tem actualmente 6 grupos de federações divididas no quadro 1 da seguinte forma:

Quadro 1
  1. Futebol – 1 federação
  2. Campismo e Montanhismo, Basquetebol, Voleibol, Andebol, Ténis – 5 federações
  3. Golfe, Atletismo, Columbofilia, Judo, Patinagem, Natação – 6 federações
  4. Ciclismo, FADU, Ginástica, Equestre, Rugby – 5 federações
  5. Xadrez, Tiro, Trampolins, Tiro com Armas de Caça, Pesca Desportiva, Taekwondo, Ténis de Mesa, Vela, Desporto para Deficientes, Automobilismo, Canoagem, Orientação – 12 federações
  6. Surf, Remo, Hóquei, Dança, Actividades Subaquáticas, Badminton, Aeromodelismo, Lutas Amadoras, Triatlo, Petanca, Motociclismo, Aikido, Esgrima, Minigolfe, Damas, Bilhar, Voo Livre, Pentatlo Moderno, Bridge, Jet Ski, Corfebol, Paraquedismo, Boxe, Motonáutica, Aeronáutica, Tiro com Arco, Pesca de Alto Mar, Esqui, Arqueiros – 29 federações

Vamos esquecer o facto das actividades desportivas terem características distintas e avaliemos apenas a produção de praticantes inscritos.

Verificamos no quadro 2 o crescimento anual de 2005 a 2009 e depois a média maior de 2005 a 2009 e a média menor de 2007 a 2009.

Quadro 2 - percentagem

A série mais importante é a do total que dá um crescimento médio de 5% nos dois períodos considerados. Os grupos 1, 3 e 5 têm crescimentos medíocres, os grupos 2, 4 e 6 apresentam valores superiores a 10%. Ou seja, estes dados sugerem a expectativa de que as federações mais pequenas têm crescimentos maiores e as maiores federações apresentam crescimentos mais pequenos.

Quadro 3 - percentagem


O quadro 3 tem a subdivisão dos escalões etários do IDP, que concentra genericamente os praticantes de acordo com a sua idade e não de acordo com os escalões etários das federações, por simplificação da análise, porque os escalões etários das federações são diferentes de umas para as outras.

Estes resultados sugerem que os dois agrupamentos principais ‘até juniores’ e seniores têm importâncias diferentes nas federações maiores e nas mais pequenas.

Nas maiores a base da actividade são os escalões jovens e os seniores são menos de metade, o que é o caso dos grupos 1, 2 e 3.

Nas menores a base da actividade são os escalões mais velhos e os jovens são menos de metade, como se observa nos grupos 4, 5 e 6.



Conclusão rápida

1. Deveria arranjar-se forma de fazer o levantamento por idades de praticantes e não por estes escalões etários.

2. As federações mais pequenas têm estruturas de produção frágeis porque necessitam de maior número de praticantes dos escalões mais jovens para sustentarem o seu futuro.

3. Para alcançar a média europeia as taxas de crescimento médias em todos os agrupamentos têm de aumentar para percentagens superiores aos 5% actuais.

4. O agrupamento 5 e 6 são federações demasiado pequenas, menos de 2 mil praticantes, e com estruturas de produção frágeis que necessitam de crescer.

5. As federações dos agrupamentos maiores necessitam de distinguir melhor a sua actividade desportiva em desporto informal, recreativo e de alto rendimento para conseguirem consolidar uma base de bem-estar e amadora consistente e um alto rendimento tecnicamente mais especializado e principalmente concretizador sem preocupações de obtenção de resultados instantâneos mas pela consolidação do desenvolvimento orgânico.


A análise das estatísticas produzidas pelas federações nacionais demonstram que a condição e a actividade física são uma parte da caracterização do desporto e não são substitutos do desporto e da sua indústria de produção, ao contrário do que se quis fazer crer ao longo de legislaturas, prejudicando a eficiência das políticas de regulação do mercado do desporto em cada um dos seus segmentos fundamentais.

O produto privado e o produto público

O produto privado corresponde ao produto económico alcançado pela actuação competitiva do agente privado no mercado.

O produto público corresponde ao adicional de produto privado que a regulação pública permite ao agente privado produzir.

Quando olhamos para os praticantes de uma federação podemos encontrar duas interpretações distintas:
  1. o presidente da federação diz que ele é que os produz
  2. o responsável público diz que como ele dá um subsídio que é 99% da receita daquela federação então o número de praticantes é produto público e não privado
Um e outro não deixam de ter razão se se esclarecer o conteúdo das respectivas actuações.

Esta questão simples tem estado na origem de tantos erros na política desportiva nacional e que levam a concluir que os praticantes das federações são produto público e as federações são organizações públicas.

Acontece que as federações:
  1. são organizações privadas que regulam directa e indirectamente outras organizações privadas
  2. são essas segundas organizações privadas que produzem os praticantes mediante a definição de desporto que é legalmente propriedade da federação
  3. avaliando a dimensão económica da prática desportiva de base de uma modalidade, verifica-se que o apoio público pode ser uma parte menor sendo a maior parte deste produto financiada pelas famílias quando praticam essa actividade
  4. outra dimensão que é mais falada e a que se destina a maior parte do subsídio público é o alto rendimento
  5. o alto rendimento tem uma receita significativa do Estado, porque este consome preferencialmente alto rendimento nas suas actividades de publicidade das suas políticas, estando na disposição de dizer aos eleitores que dá o dinheiro para as federações em geral, quando em propriedade o está a canalizar em benefício do alto rendimento
  6. portanto, a maior parte da actividade das federações produz praticantes federados em toda a sua estrutura privada e apenas o alto rendimento se poderá dizer que é o adicional de Produto gerado pela regulação pública
  7. Na realidade a actividade de alto rendimento gera maiores benefícios externos e por isso justifica o financiamento público como forma de internalização dos benefícios gerados e apropriados externamente
Este raciocínio pode e deve ainda ser aprofundado.

A conclusão mais interessante é a utilidade de conhecer qual a repartição do apoio público entre alto rendimento e desporto recreativo e informal para a partir desse valor se medir a eficiência da regulação pública, por um lado, e da produção privada, por outro.

Os presidentes das federações deveriam conhecer melhor o potencial da sua actuação no mercado desportivo para poderem maximizar o benefício daqueles com quem a federação trabalha e que são seus parceiros.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Os fiéis da balança

Ontem dois responsáveis federativos estavam a conversar e queriam estar sós.

À sua responsabilidade têm milhares de praticantes e estão isolados nos seus cargos, contam com eles próprios e a experiência que a sua inteligência permitiu acumular.

Por vezes são solidários para transmitir dicas sobre o possível para conseguir margens que viabilizam as respectivas lideranças.

Muitas vezes chocaram e sabem bem das dores do outro e da respectiva mestria para sustentar o produto desportivo único de que cada um é responsável primeiro em Portugal.

A falta de confiança no mercado do desporto e de pluralidade de valias técnicas e organizacionais impede-os de actuarem para além de determinados limites.

Mesmo que no passado tenham ultrapassado limites e sido arrojados hoje os tempos são de restrição e é desajustado trilhar caminhos que a experiência lhes diz serem mais arriscados.

Por isso, não socializam os fracassos do mercado do desporto na opinião pública e o produto desportivo português é mais pequeno.

Eles são activos positivos para a convergência do desporto português.

O seu produto privado pode melhorar com políticas de reestruturação que estão entre as políticas fundamentais que terão dois objectivos:
  1. racionalizar o produto privado, maximizando-o e gerando uma nova mais-valia desportiva;
  2. maximizar o produto público complementando o privado.

A democracia no desporto e o seu uso

Os economistas portaram-se mal como se subentende das palavras dirigidas à sua geração de Eduardo Catroga.

Deveriam ter sido mais cautelosos e actuar com prudência e evitar actos de negligência que também houve ao avaliar os projectos económicos em que o país saiu prejudicado.

Contudo, a análise económica é importante porque é a que melhores respostas tem para a crise económica.

Paul Krugman o Prémio Nobel da Economia de 2008 demonstra que existe um posicionamento dos economistas da direita que baseiam a sua actuação em pensamentos ilusórios e que Portugal, como a Grécia, Irlanda e Esapanha estão apanhados por estes pensamentos e actos e que deverão vir a reformular as suas dívidas, porque existe um risco elevado de não cumprimento.

A posição dos economistas e dos políticos da Europa central não é muito inteligente porque a reestruturação da dívida e o agravamento do incumprimento vai afectar as economias periféricas e seguidamente os bancos dos países que possuem maior dívida dos países periféricos e que são bancos franceses e alemães.

O mundo espera que o euro se aguente e que as políticas suicidárias de Jean-Claude Trichet e da Sra. Merckel surtam efeito independentemente do custo para as populações desses países.

Numa perspectiva mais ampla a sociedade portuguesa está a cometer erros semelhantes que outros países cometeram o que não iliba as pessoas que tenham contribuído para o sarilho corrente em que o país está metido.




No dia 24 de Maio reuniram-se na Casa de Mateus pensadores nacionais e estrangeiros como José Gil, Jorge Vasconcelos, Miguel Poiares Maduro e Teresa Albuquerque para 'Repensar Portugal' e onde se falou de Culturae um poucochinho de desporto.

Há poucos dias a SEDES e e o DN discutiram a Cultura.

É possível acompanhar na comunicação social estes encontros e debates mas houve encontros de desporto em faculdades organizados por AM e MJC e não houve a apresentação dos debates e de conclusões para a opinião pública desportiva.

Entretanto o PS apresentou o seu programa eleitoral e um anónimo que será seu apresentou uma lista de obra feita no blogue Colectividade Desportiva e que transcrevi para este blogue, o que creio gerou alguma confusão. O que é possível e permite o debate.

Temos de ser capazes de assumir que a democracia só funciona com a participação plural.

Se não participamos, se fazemos coisas só para os nossos próximos e não usamos a democracia que actualmente até podem ser anónima e electrónica, então o problema é nosso não é de quem politicamente usa os instrumentos democráticos em seu proveito.


Através deste blogue divulguei a posição do PS sobre o desporto e critiquei o que me parecem os seus erros e digo o que me parece ser melhor para o desporto na perspectiva da economia.

Os programas eleitorais são importantes assim como a lista de feitos porque permite debatter se a formulação e o conteúdo veiculados são os ajustados ao momento de crise que o desporto português vive.


O desporto na pessoa de todos os que querem estar vivos, tem de fazer mais.

Debate eleitoral sobre o desporto: A resposta do PS

Tenho criticado neste blogue aspectos da realidade desportiva que se agravaram ao longo da última década e que sugerem:
  1. Que o desporto português poderá estar a divergir da Europa do desporto quanto ao seu produto desportivo
  2. Quanto à produção isto dever-se-á a:
    1. Existirão inúmeros segmentos do desporto falidos clubes de base, clubes médios, grandes clubes
    2. Autarquias com situações financeiras prejudiciais ao fomento do desporto
    3. Algumas federações estão falidas outras com a corda na garganta
    4. Faliram empresas do desporto
  3. Quanto à prática
    1. Há uma insuficiência de prática desportiva informal
    2. Há uma insuficiência de capacidade de organização recreativa pelos clubes e empresas que trabalham na estrutura federada
    3. Há uma insuficiência de resultados no alto rendimento
  4. Quanto à qualidade técnica e científica da produção
    1. Destruição de capital humano, económico e social nomeadamente nos talentos desportivos, como é o caso de Vanessa Fernandes que a atribuição de um montante financeiro demonstra a realidade da situação
  5. Do ponto de vista económico e social
    1. Reputação social do desporto frágil
    2. Um mercado do desporto nacional ineficiente
    3. Uma balança social do desporto claramente mediocre para a realidade de grave crise social do país
  6. Quanto aos factores de desenvolvimento imateriais
    1. Insuficiência de estudos e de investigação comparada e de benchmarking europeu
    2. Políticas desportivas sem objectivo e não auditadas por instituições independentes e idóneas
    3. Não há líderes desportivos a intervirem com regularidade na comunicação social e a valorizarem a imagem do desporto na opinião pública
    4. Faltam congressos, debates, publicações por parte da sociedade civil e universitária do desporto e não apenas com as corporações cientes dos seus valores pessoais
    5. Existe a contaminação de exemplos negativos como os das claques, doping e corrupção latentes no mercado
São seis pontos que exigem uma atenção redobrada para que o produto desportivo potencial se concretize.
 
Um pequeno exemplo universitário demonstra que a lista de obra apresentada pelo anónimo não é inteiramente correcta.
  • É dito na disciplina de Economia do Desporto aos alunos que toda a afirmação feita baseada em valores e factos absolutos é insuficiente.
  • As quantificações devem sempre ser relativizadas e comparadas demonstrando com indicadores de eficiência, eficácia e equidade que as situações são qualitativamente melhores e visando o desenvolvimento sustentado de médio e longo prazo.

 

 
Afinal a lista de feitos do anónimo face à realidade sugere três questões:
  1. Que é possível passar uma legislatura a distribuir dinheiro, fazer instalações, fazer legislação, produzir uns livros, o que tem um mérito relativo mas não absoluto. A dificuldade de ir mais longe nas realizações europeias e a falência de clubes, federações, empresas, autarquias e atletas é grave para sugerir que a política foi a ideal para resolver os problemas que assolam o desporto português.
  2. A acumulação de capital demonstra que o capital disponível para consumo desportivo da população é maior do que no passado do desporto português. Apesar dessa acumulação de capital desportivo, económico e social continuam a surgir desastres. Agora eles são de maior dimensão do que acontecia no passado. Ninguém soube o que aconteceu a Susana Feitor e com Vanessa Fernandes a situação é mais grave para o mesmo problema de destruição de talento desportivo.
  3. A crise nacional e as medidas de austeridade vão trazer à crise do desporto muito mais dificuldades e possíveis falências do que as actuais e poderá perguntar-se então, quanto da lista de obra resolveu ou aprofundou a crise e se outros valores não deveriam ter sido prosseguidos na última década inclusive com melhor aplicação de dinheiro, instalações, legislação e muito mais livros, conferências, debates e qualidade de uma política desportiva plural e participada pela sociedade.

 
A lista de obra do anónimo no Colectividade Desportiva mostra o que não deveria ser feito focando a quantificação e não a qualidade das políticas e dos protagonistas visando resultados europeus.



O desafio que coloco aos partidos é demonstrar que os seus objectivos para o futuro serão os de colocar o desporto português a convergir com a Europa.

Obra desportiva nas legislaturas do Governo PS

Transcrição das afirmações exemplares de um anónimo no Colectividade Desportiva, aqui.

"Comparar os dois programas está ao nível da anedota e da invisualidade política. O programa é todo copiado do programa feito pelo PS nas últimas eleições com dois acrescentos anedóticos:

- Revalorizar o centro de Alto Rendimento do Jamor: nem deram conta que o Centro Desportivo do Jamor tem quatro centros de alto rendimento lá dentro e que teve um investimento e uma requalificação sem precedente nos últimos seis anos, o que é aliás um desonestidade política inacreditável uma vez que andaram a prometer fazê-lo durante anos e não deixaram uma obra que fosse.

- A segunda originalidade é a cooptação dos centros de alto rendimento, iniciativa da exclusiva responsabilidade do actual governo que pensou, lançou e financiou a construção de 14 centros de alto rendimento. Isso, discutam modelos de gestão, escrevam livros sobre modelos estratégicos. Já alguém fez a obra e de certeza que não foi o PSD

Obra:
14 Centros de Alto Rendimento em 8 Distritos
103 Primeiros Relvados em 18 Distritos
189 Mini-campos desportivos em 189 Freguesias dos 18 Distritos
360 Obras em Instalações Desportivas para a saúde e segurança dos praticantes em 352Clubes de 160 Concelhos dos 18 Distritos
Modernização do Centro Desportivo Nacional do Jamor
Aumento da prática desportiva federada → +25% mulheres/+13%homens.
Aumento de atletas nos Programas Olímpico e Paralímpico → +27%.
Criação do Programa Nacional Marcha e Corrida.
Apoio às Federações Desportivas aumento do Financiamento regular18,6%
Aumento do Desporto na Escola → Mais 330 mil praticantes no 1.º Ciclo do Ensino Básico e mais 120 mil no 2 e 3 ciclos.
Apoio a 367 Eventos Desportivos Internacionais.
Novos Benefícios fiscais e Bolsas aos atletas → Aumento de 10% nas bolsas com isenção IRS
Novo estatuto do atleta com benefícios durante e após a carreira.
Modernização do Laboratório Antidopagem.
Sustentabilidade do Financiamento do Estado ao Desporto → 7,8% do total dos Jogos Sociais

Reforma legislativa:
Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto (Lei nº 5/2007, de 16 de Janeiro).
Regime Jurídico das Federações Desportivas (DL. Nº248-B/2008, de 31 de Dezembro).
Conselho Nacional do Desporto (DL. nº 315/2007, de 18 de Setembro; e DL. nº1/2009, de 5 de Janeiro).
Regime Jurídico dos Contratos-Programa (DL. nº 273/2009, de 1 de Outubro).
Financiamento do Desporto (DL. nº 56/2006, de 15 de Março).
Combate à Dopagem (Lei nº 27/2009, de 19 de Junho).
Combate à Violência (Lei nº 39/2009, de 30 de Junho).
Combate à Corrupção (lei nº 50/2007, de 31 de Agosto).
Regime Jurídico do Desporto de Alto Rendimento (DL. nº 272/2009, de 1 de Outubro).
Regime Jurídico do Acesso e Exercício da Actividade de Treinador de Desporto (DL. nº 248-A/2008, de 31 de Dezembro).
Regime Jurídico do Seguro Desportivo Obrigatório (DL. nº 10/2009, de 12 de Janeiro).
Regime Jurídico das Instalações Desportivas de Uso Público (DL. nº 141/2009, de 16 de Junho).
Regime Jurídico da Responsabilidade Técnica pelas actividades físicas e desportivas realizadas em ginásios e clubes de saúde (DL. nº 271/2009, de 1 de Outubro).

Jamor:
Nave de Atletismo (novo espaço de resposta às necessidades específicas do treino e da preparação dos praticantes de atletismo de alto rendimento, com área bruta de construção de 3.500m2 )
Requalificação da Pista de Atletismo nº 2
Apetrechamento da Nave e Pista de Atletismo nº 2
Nave dos Ténis Cobertos (6 campos de ténis com uma área bruta de construção de 4.500 m2)
Edifício de Apoio – Balneários, dotado de 10 blocos de vestiários/balneários e respectivas instalações sanitárias, incluindo instalações para deficientes -
Campo de Tiro com Arco - 131mil€
Unidade de Medicina e Controlo de Treino (nova infra-estrutura, instalada no Complexo de Piscinas do Jamor, permite assegurar condições de apoio clínico, metodológico e técnico-científico aos atletas de alto rendimento) Sala de Treino de Altitude (sala com equipamento de alta tecnologia que permite simulação do treino em altitude) Modernização e remodelação de espaços de restauração e cozinha do Centro de Estágio
Campo de Golfe de 9 Buracos (em construção)
Mini-golf, Parque Aventura, parque Infantil, Reflorestamento,Esplanadas, Casas de Banho públicas (não havia uma única); novos relvados de hoquei em campo, futebol e rugby.

- 277 milhões de euros em 744 novas infraestruturas desportivas.
- Projecto do novo tribuanl do Desporto
- Livro verde da Actividade Física e da Aptifdão Física
- Estatísticas do Desporto 1996 - 2009
- Modernização do LAD
- Nova lei do Financiamento do Desporto via receitas dos Jogos sociais que permitiu o financiamento sustentado e estável do desporto.
- Taxas de execução sem precedentes dos financiamentos comunitários.

Enfim, chega??????????????????"

O projecto económico Vanessa Fernandes valeu 2 milhões de euros

O caso de Vanessa Fernandes afinal até pode ser uma das características pesadas e bem negativas do desporto português e não ter valor extraordinário por não ser único e ser mais um exemplo comum de uma má característica.

A destruição de um talento extraordinário pode demonstrar bem que o desporto português destrói capital desportivo na pessoa dos atletas jovens e que a estrutura federada não tendo competência há muito que sabe o que faz.

Segundo me conta um técnico de desporto numa acção da natação o conceituado treinador Vasconcelos Raposo terá dito que existe uma especialização precoce e uma saturação do treino com demasiadas horas que destroem a vitalidade juvenil dos nossos talentos na natação e noutras modalidades.

Este facto a ser real e ser conhecido por parte dos treindaores nacionais demonstra um facto que é o da existência de um problema de competência técnica dos treinadores que destróem os atletas jovens e da incapacidade dos treinadores e do modelo para identificarem um problema estrutural e lutarem pela sua modificação cabal.

Os treinadores até alertam para casos de jovens que deram os primeiros passos e depois abandonaram e dá-se o caso de Susana Feitor campeã antes do tempo e de outros jovens que acompanharam Vanessa Fernandes e desapareceram com menos estrépido e principalmente menos desperdício.

A economia ajuda a compreender a enormidade do feito:

Uma atleta extraordinária como a Vanessa Fernandes é um activo desportivo, económico e social que pode ser monetariamente avaliado para quantificar a relevância para o mercado do desporto.

Uma atleta de excepção gera mais-valias significativas e cria postos de trabalhos, para além de ter um contributo positivo para a Balança de Transacções Correntes numa escala que pode varia conforme o sucesso alcançado.

Face à sua juventude esperar-se-ia que Vanessa Fernandes tivesse um percurso longo dos 19 anos até aos 34 anos, na hipótese optimista. Algumas coisas correram tão mal que a jovem arrancou e caiu destruída no primeiro ciclo olímpico.

Se a Vanessa Fernandes pudesse competir até a 2020 alcançando os 34 anos e 4 ciclos olímpicos e se
tivesse ganho 500 milhões de euros no ciclo 2005-2008, então teria uma expectativa de ganhos de 2 milhões de euros de receita bruta.

Acontece que a Vanessa Fernandes ficou destruída ao fim do primeiro ciclo olímpico.

Ganhou apenas meio milhão de euros e perdeu um milhão e meio de euros.

Este é um valor preliminar de uma análise rápida que exige outro tipo de cálculos para alcançar o valor potencial do projecto económico Vanessa Fernandes.

Segundo parece o COP reconhece alguma responsabilidade e quer pagar-lhe 44 ou 45 mil euros, não se percebe a que título e como é que as contas são feitas. Parecem ser feitas em cima do joelho porque não têm uma base técnica mínima. Parece ser uma conta de merceeiro o que tem os seus méritos ao nível da mercearia mas limites evidentes por se tratar de um bem público e por sinal complexo.

Por exemplo, há outros interessados pelas vitórias de Vanessa Fernandes e foram a sua equipa técnica, os clubes onde trabalhava, a federação, o COP e o Estado.

Todos estes agentes e instituições beneficiaram das vitórias impostas que foram destruidoras do talento da jovem.

Há várias questões que estão aqui em causa:
  1. Se há um aspecto limpo neste processo é compreender que a responsabilidade do que se passou não é da família. Tal como quando vamos ao médico a família não interessa e a responsabilidade do que se passa com a cura da doença é dos médicos e das suas equipas e não é da família. Para um atleta de alta competição tudo o que a Vanessa fez e a destruiu foi da responsabilidade das equipas técnicas nos diferentes níveis clube, federação, COP, Estado. Se as equipas científicas e técnicas se deixaram corromper pela família então só tinham um passo a dar e era afastarem-se do processo.
  2. Nenhuma equipa técnica parece ter tido a competência e a capacidade profissional para detectar científica e tecnicamente o que se passava antecipadamente e definir e propor outros ritmos de formação, treino e competição.
  3. As mesmas questões colocam-se ao nível da liderança cujas chefias e responsáveis não tiveram o sentido das responsabilidades do que se passava e não actuou ao nível exigido.
  4. Falando com outros treinadores desportivos nomeadamente os relacionados com as federações, alguns defendem corporativamente o trabalho da equipa técnica e recusam aceitar que o trabalho foi, por exemplo, a levar a instituição Vanessa Fernandes à bancarrota. 
  5. O prejuízo da Vanessa Fernandes pode avaliar-se em valores ainda superiores a 500 mil euros bastando para isso somar todos os prémios directos e indirectos recebidos pela atleta e distribuídos também pelos clubes a que pertenceu e as equipas técnicas envolvidas. Esse valores devem estar na posse da atleta e da sua família. Depois há dois cenários possíveis aceitar que a VF tinha ainda 3 ciclos olímpicos, vindo a ganhar para cima de 1,5 milhões de euros, ou noutro cenário menor com 2 c.o. ultrapassar uma receita de um milhão de euros.
Os 45 mil euros definidos pelo COP não fazem sentido do ponto de vista formal quanto à sustentação da missão e do objecto do projecto Vanessa Fernandes.

Há uma responsabilidade técnica clara dos treinadores portugueses em que existem casos de sucesso como no atletismo com a Neide Gomes e Nelson Évora e no judo e canoagem entre mais algumas.

Não se percebe também de onde saiu o dinheiro que o COP deu e se existe formalização legal para a despesa que não foi explicada publicamente ou se saiu dos cofres do COP segundo decisão da sua Direcção que será solidária.



Onde falha o sistema desportivo actual?
  1. Há que criar projectos complexos de acordo com o produto e o processo produtivo em causa: Vanessa Fernandes é um projecto raro e de extrema complexidade e isso não foi respeitado.
  2. A falha técnica surge como primeiro aspecto porque não teve em conta o longo prazo que deveria ter em consideração o potencial de médio prazo e não a exploração imediata.
  3. A s dimensões jurídicas relacionadas com os direitos de propriedade e as responsabilidades foram / são mal construídas e acumulam à primeira falha.
  4. A análise económica deveria ter sido desencadeada no trajecto para Pequim em 2008 à medida que a certeza do potencial da atleta se aprofundava. A chegada de dinheiro fresco, as páginas dos jornais com publicidade e as multidões deram a dimensão da captura financeira e tapou a protecção à jovem talento e a todo o projecto que deveria ser protegido.
  5. Sem a análise ao erro qde destruir talentos do desporto português e sem o benchmark dos resultados e das desistências internacionais em todo o percurso dos atletas a ilusão do sucesso foi fatal.

Conclusão
O COP como já referi várias vezes não parece capaz de liderar genericamente os destinos dos jovens talentos portugueses.

Há necessidade de fazer investigação e auditorias para compreender o que está mal no alto rendimento nacional e ajudar os agentes privados a tomar as melhores decisões para que estas não aconteçam esporadicamente como acontece nalgumas modalidades mas que os exemplos positivos sejam mais comuns e sustentados.

Não se trata de levar ninguém a juízo mas precisamente trata-se de evitar que os técnicos e líderes desportivos associativos desportivos cometam mais erros do que os que estão a ser regularmente cometidos sobre os jovens atletas e talentos nacionais e também que venham a responder em tribunal pelas consequências negativas de alguns dos seus actos.


Como se demonstra de novo, numa nova matéria o trabalho de renovação do desporto é grande em profundidade e extensão.

O modelo do desporto português está falido científica e tecnicamente, juridicamente e os resultados ecoonómicos criados são frágeis e soçobram na primeira contrariedade.

Os dinheiros ganhos actualmente são os do fracasso e não se comparam aos milhões que seriam o sucesso económico do desporto português potencial.

O défice ainda é maior porque para além dos cortes orçamentais e má condução técnica e de liderança que destrói carreiras vale no caso do projecto de VF, pelo menos, menos 1,5 milhões de euros de capital desportivo e social destruído por incompetência ou negligência ou avidez.

O valor de Vanessa Fernandes não tem custo é um custo imenso.

Esta matéria não está esgotada.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Vanessa Fernandes estará errada

Há um problema económico com os 44.000 euros 'dados' pelo COP ou por excesso ou por defeito.

A solução até poderá ser politicamente hábil e após uma discussão técnica em determinado sentido ser aceite pelas partes mas noutros sentidos não analisados pode não fazer sentido e o prejuízo ser uma continuação do que aconteceu.

Este é um problema recorrente no desporto português a imprecisão e insuficiência na análise económica do produto desportivo.


O desafio maior é que após Pequim o desporto não reagiu inquirindo e fazendo mudanças racionais e modernizadoras.

O desporto português fez pior que foi estruturar à volta de um líder que estava ultrapassado pela história.

Continua a tomar decisões como esta de Vanessa Fernandes que parece insuficientemente sustentada do ponto de vista económico na perspectiva da jovem atleta.

A crise vai ser ainda pior e o Sr. Comandante Vicente Moura é uma pessoa que não ouve, como existe o hábito de não ouvir e de não discutir noutros líderes desportivos.

Há duas hipóteses de transformação:
  1. O governo de maioria trazer um novo protagonismo mas que pode ser contrariado pela nomeação de alguém com um currículo, político ou desportivo, do 'business as usual'.
  2. O COP fazer eleições democráticas e eleger alguém com a cultura da ética, do fair-play e do saber fazer do desporto e do olimpismo europeu moderno e que também pode ser contrariado pelo 'business as usual'.

A minha hipótese é que a Vanessa Fernandes está a perder dinheiro e a sua auto-estima e valorização em todas as suas dimensões extraordinárias, como ela já demonstrou possuir, só sairá a perder com a actual liderança desportiva.

Nenhum atleta de alto rendimento merece o que terá sido feito à Vanessa Fernandes e deste desastre ninguém está interessado em saber o que se passou na realidade e o que é que falhou, para ser evitado noutros casos.

Business as usual

O Porto terá ultrapassado o Benfica

A entrevista de Pinto da Costa à RTP 1 foi divertida e mostra mais um pouco da pessoas que durante os últimos vinte anos trabalhou para o feito de ultrapassar o Benfica de Eusébio.

De notar o lema do clube, segundo diz PC: Competência, Rigor, Ambição, Paixão.

Diz Sousa Tavares à SIC que Pinto da Costa é o único presidente de clube de futebol português que sabe de futebol.

Pinto da Costa até faz declarações interessantes: Não metam políticos no futebol!

Disse também que tem cinco ou seis pessoas aptas a assumirem a liderança do clube quando ele se afastar.

Até é capaz de estar a falar verdade, porque o Porto sempre tem surgido como uma escola o que muitas outras organizações desportivas não conseguem ser sem Cultura e sem Competência, Rigor, Ambição, Paixão.


Há aspectos negativos? Há sempre aspectos negativos! Celebremos o mérito que durante vinte anos nem o Benfica nem o Sporting conseguiram contrariar. Para bem da competitividade desportiva e a maximização do produto desportivo era bom que estes clubes aprendessem alguma coisa e conseguissem dar luta a Pinto da Costa e ao FCP.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

A anorexia de Vanessa Fernandes

'Salvar a mulher ... (com) ... 44.000 euros' é a solução certamente científica do COP.

Esta solução parece estranha porque ela pretende tudo dizer e afinal nada diz.
Este tipo de afirmações é comum no desporto português.

O tecido produtivo do desporto vai-se tornando mais fino e soçobra na primeira oportunidade cada vez que este tipo de afirmações é dito e exercido em termos de política desportiva.

As quebras de financiamento do desporto não são correctas face ao potencial do sector e face ao produto desportivo, humano e social gerado.

É possível que Vanessa Fernandes aceite os 44 mil euros como aceitou regimes de treino que lhe inviabilizaram uma carreira sustentada. Num caso e no outro estará a ser espoliada porque no desporto as instituições que deveriam defender e potenciar o produto e o rendimento dos atletas não o fazem no limite do possível maximizando o rendimento obtido.

Economicamente as transacções do desporto prejudicam os atletas e as instituições produtoras.

Por outro lado, os próprios agentes individuais, como o Benfica por exemplo, impedem que instrumentos que maximizam o produto do futebol na Europa desenvolvida, sejam aplicados em Portugal pela Liga de Clubes.

Outros líderes aceitam a perda do seu poder de monopólio e pelas suas decisões enfraquecem a capacidade de produção das respectivas modalidades.

Albertina Dias e Teresa Machado ainda devem estar à espera que o COP as venham salvar como mães de família, atletas, mães e afinal o pós-carreira é um fraco substituto de uma carreira frágil em domínios vários como a formação escolar e profissional.

Não se trata de meter ninguém na cadeia por incapacidade mas era bom para o desporto que as coisas passassem a ser feitas com maior racionalidade e eficiência económica.

Economicamente o valor produzido pelos agentes desportivos, individuais e colectivos, está sub-avaliado e a remuneração estabelecida pela lei externaliza benefícios para fora do desporto, beneficiando terceiros, podendo remunerar as lideranças com montantes que as deixam satisfeitas mas que impedem o desporto de sair do último lugar europeu.

São as lacunas do direito aplicado ao desporto, como instrumento preferencial de governação, que impedem a maximização do benefício do desporto e a externalização dos frágeis benefícios gerados.

O modelo económico subjacente à estrutura do direito do desporto nacional e das suas leis de bases e seus desenvolvimentos é um modelo ineficiente que prejudica a população portuguesa e as instituições do desporto.

No actual momento de crise nacional o silêncio do desporto na opinião pública vai impedir a formação de consensos visando o desenvolvimento do desporto num processo em que o sector estará em regressão nacional e internacionalmente.

É fácil demonstrá-lo mas vou ficar por aqui.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

À atenção do Governo de maioria

I



As questões da ética quando afirmadas necessitam de uma prática condicente para serem credíveis.

Falar de ética ou criticar outros e não praticar ou não estar aberto ao escrutínio de terceiros tem um efeito negativo e contraproducente.

Vejamos, por exemplo, o caso do Futebol Clube do Porto que é useiro e vezeiro em falta de fair-play agora quis sujar a Câmara Municipal do Porto com a má criação com que leva os seus adeptos a tratarem os seus rivais e particularmente o Benfica.

Noutro exemplo também não fica bem a um governo destruir o trabalho dos governos que o antecedem com inverdades e textos difíceis de compreender por aqueles que não estão dentro da matéria. Ainda por cima quando a estrutura de pensamento deixada por escrito, quando muito, afecta um membro do Conselho Nacional do Desporto que é a única pessoa que trabalha em determinada matéria no desporto português e desde o trabalho deste investigador houve governos de vários partidos. Atirar mentiras para o ar afecta quem menos se espera.

Em terceiro lugar acrescente-se que a sobriedade das palavras e dos juízos não deve levar a apenas falar em véspera das eleições e quando o que se faz é uma conferência de imprensa e não uma conferência com participação alargada à sociedade e aos investigadores de desporto. Esta actuação fechada é possível na lógica partidária mas deve ser evitada pelo Governo de maioria que deve usar a ciência para fortalecer os seus actos de política.

Um Governo de Maioria deve estabelecer publicamente no início da legislatura os grandes estudos científico e técnicos que irá realizar, assim como, os apoios que efectuará a toda a comunidade científica de acordo com os critérios públicos definidos pelo Governo de Maioria para fazer face aos desafios concretos com que o desporto nacional se defrontar nesse momento histórico.







II


A avaliação do fair-play pelo dirigente do COI Willy Daume é particularmente inspiradora ao estabelecer a intangibilidade do mérito e da necessidade de actos de reconhecimento:

”Success can always be measured, but fair play cannot”, wrote Willy Daume, the former President of the International Committee for Fair Play (CIFP). “Indeed, at victory ceremonies, there is no reward for this: no bonuses, no medals, no diplomas. Success is the visible aspect of sport, fair play the invisible one.”


The trophies which, since 1964, have rewarded generous acts, good manners, self-control and sporting gestures on the part of athletes, judges or audiences are not “consolation” or “good comradeship” awards. They are the tangible recognition of living demonstrations of the spirit and values that sport claims as its own.




Participei num documento sobre a Ética no desporto em 2006 onde se afirmava que:

“Veiculado pelo comportamento dos agentes e dos responsáveis, a Ética é um dos sub-produtos da actividade desportiva como os benefícios para a saúde do exercício físico regular.


A Ética é dos activos desportivos mais significantes e aquele que menos tem beneficiado da mesma atenção que outros países lhe dedicam no domínio do Desporto.


O investimento na Ética no Desporto gera benefícios transversais à sociedade e à economia e permite a formação de sinergias e consensos transversais da Educação à Indústria, da Cultura ao Turismo e das autarquias às Relações Internacionais.


Pela Ética o Desporto completa-se alcançando a dimensão de um activo cultural e civilizacional. Através do Desporto a antiguidade clássica produziu conteúdos do mais alto valor civilizacional e cultural em que se encontra a Ética.


Neste contexto, é possível ao Desporto Português valorizar as suas perspectivas e ambições e assumir perante o país o desafio que “A reforma mais importante é a do Desporto”.”




III
A ética não é pois um activo apropriável por uma pessoa ou por um grupo mas é um capital vital que a sociedade portuguesa pode beneficiar e deve acumular mais através do contributo do desporto.

A ética é um bem público porque os seus benefícios espalham-se pela sociedade e são apropriados genericamente pela população e pelas suas instituições e há a necessidade de uma intervenção das organizações públicas para promover a sua produção pelos atletas, clubes e instituições do desporto.


Os três exemplos que indico em primeiro lugar mostram como as legislaturas se perdem pela ausência de projectos direccionados para a promoção e aprofundamento dos comportamentos éticos no desporto português.


O Governo de Maioria não poderá dizer no fim do seu mandato que casos como os do Futebol Clube do Porto estão fora do seu alcance.


Também deverá desde início estabelecer tanto a sua ambição como os limites que não trilhará no aprofundamento


Convirá ter tento desde início e não criticar os que o antecederam porque isso é cómico e nada acrescenta ao bem-estar do desporto nacional e mais importante ainda, se fizer um trabalho bem feito evitará erros e dar mostras de incompetências, que afinal também terá, mas que será melhor evitar dar disso mostra, ao contrário de alguns que o evidenciam largamente.

O desporto estará na bancarrota como o país?

Talvez as perguntas a fazer sejam:
1. Onde estamos?
2. Como chegámos aqui?
3. Como saímos daqui?


Onde estamos?

Estamos no fim da Europa ou no topo da tabela invertida em vários indicadores de produção desportiva.


As leis não salvam os clubes e as federações da bancarrota. Nunca houve tantos clubes e federações falidos, tantas infra-estruturas novas e velhas com limitações financeiras, sem resultados olímpicos ao nível de JO anteriores. A investigação no desporto é claramente insuficiente. O direito do desporto são actos legislativos ineficazes que prejudicam os agentes desportivos. Bancos nacionais e outros empresários nacionais perdem dinheiro porque o potencial do produto desportivo está abaixo do seu óptimo e a captura de lucros financeiros para o actual nível de massa crítica desportiva cria 'tragédias dos comuns' no seio da actividade das federações. Perdemos a Ryder Cup e continua a não existir uma política de eventos, como continua a não existir uma política de infra-estruturas ou do associativismo de base ou do desporto escolar ou dos talentos ou do que quer que se fale de desporto. A reputação de Portugal é positiva no que respeita aos atletas e aos técnicos e será incapacitante por parte dos líderes. Os partidos políticos estão a leste das necessidades e futuro europeu do desporto português e não o escondem nos programas partidários às eleições de 5 de Julho. O desporto escolar tem níveis de prática que são uma vergonha/são pobres a nível europeu. No seu todo a reputação do desporto está mal e o desporto não trabalha em parceria com outros sectores nem internaliza pelo menos parte dos benefícios externos que vai gerando.



Os factos demonstram que as políticas desportivas não potenciaram e prejudicam o desporto português.
Vamos aos factos:
1. Um partido fala do passado das suas políticas, o PS, outro foca alguns aspectos sem aprofundar, o PSD, outros nem falam do desporto, CDS, BE e PCP.
2. Amadora, Leixões, Setúbal, Belenenses, Leiria, Benfica (será que as centenas de milhões de débito são bancarrota ou ainda não), Sporting (?), Porto (quem sabe?), etc. Se estes clubes não são importantes ou a sua falência não pode ser evitada, então o que é que interessa mais no desporto português?
3. Se os dados que o Benfica refere forem verdadeiros então existe uma apropriação dos direitos de transmissão televisiva que com outra racionalidade nomeadamente com a negociação de direitos televisivos centrados na Liga dariam outros resultados financeiros ao futebol profissional.
4. O desporto escolar vale menos de 10%, com as federações a prática dos jovens portugueses chegará aos 30% e a Catalunha esforça-se por elevar a prática dos seus jovens a 70% dos seus jovens.
5. A falência desmentida da empresa João Lagos e as dificuldades que os ginásios e academias sofrerão pelo alastrar das crises e das medidas de política que os afectarão directamente.
6. Trampolins e Vela serão modalidades olímpicas falidas. Se estas federações não são importantes ou a sua falência não pôde ser evitada, vale a pena fazer alguma coisa por alguma outra federação?
7. A Canoagem está pujante, o Judo ganha medalhas e dá-nos esperança com sangue, suor e lágrimas, o Atletismo é a expectativa do medalheiro garantido, o Triatlo a aprender por si próprio e a recuperar dos seus excessos passados.
8. Os actos legislativos que se passam com o IVA e com o Desporto Escolar, por exemplo, atingem os produtores e os consumidores de desporto que deviam ser claramente protegidos porque sem eles a produção de desporto português só pode descer.
9. As conferências de desporto não focam directamente a crise, tratam matérias e esquecem de equacionar e debater o fundamental com os melhores de diferentes áreas científicas, partidárias e institucionais com valias claras no pensamento de rotura do modelo vigente.
10. Há técnicos de desporto que produzem resultados extraordinários como serão por exemplo André Villas-Boas e Domingos Paciência e que com outras condições nacionais assegurariam ao desporto outros resultados de desenvolvimento sustentado.



Como chegámos aqui?

Face aos factos que aparecem todos os dias nos jornais há uma limitação de liderança nas federações e nas instituições desportivas nacionais.
O modelo de desenvolvimento, prosseguido pelas medidas de política desportiva, não teve em conta o processo produtivo e a sua racionalidade.
As leis, todas fantásticas, fazem-se à medida das personalidades no CND. Houve o tardio Congresso do Desporto que marcou o meio da legislatura tendo as pessoas sido ouvidas, discutiu-se pouco e sem profundidade, não houve documentos escritos com as conclusões e depois ninguém quis cumprir o que se disse no Congresso, nem verificar se se estava a cumprir e porque é que os resultados estavam ou não a ser alcançados.
Sem objectivos, sem medidas e sem análises e investigação direccionada para a produção, qualquer coisa que se fizesse e se faça era e é uma coisa feita como se fosse boa.
Nem tudo é bom, como os múltiplos fracassos demonstram.
Segundo me dizem presidentes de federações nos últimos 6 anos foi importante ter garantido o financiamento mesmo que com alguns atrasos.
Isto é um erro porque se baseia no óptimo de qualquer dinheiro que chegue.
O dinheiro óptimo é aquele que permite o desenvolvimento sustentado, não é o dinheiro que chega e corta as actividades das federações e isto acontece há décadas e sem responsabilização mútua.
Se o dinheiro chega e não é o suficiente para o desenvolvimento sustentado então o dinheiro que chega não é bom! Instala a incerteza, leva ao desemprego e à falta de concentração dos técnicos e atletas de elite.
O erro dos presidentes das federações e dos líderes desportivos onde está?
O que é relevante e deve ser claramente definido é a estrutura de metas de produção desportiva nacional direccionada para os diferentes segmentos de produção desportiva.
Vamos desinfectar a ferida para vermos a natureza da lesão.
A falência de federações como a Vela, agora que tanto se fala do Mar português, e dos Trampolins cuja emancipação se deu com a rotura da Ginástica, o que nunca deveria ter acontecido ou se aconteceu era porque alguma coisa estava mal e não foi evitado e solucionado superiormente, a falência destas federações sugere que eventualmente o dinheiro do Estado que está a ser dado às federações tem erros profundos de concepção e de execução de política desportiva e talvez fosse de equacionar a racionalização da estrutura federada nacional.
Por cada corte que se faz sem nunca se conceber qual é o interesse da federação, sem o fundamento do óptimo, o que verdadeiramente se faz é levar mais um pouco, pela mão dos actuais líderes, a federação para a bancarrota, para o 'ai Jesus', para a tentação de enganar e apanhar com as finanças.


Existe uma política pública que os líderes desportivos aceitam sem discutir com propriedade em relação às consequências reais dessa mesma política.
Isto é a falência da política desportiva. Isto não deveria ser aceite! As federações desportivas portuguesas deveriam ter órgãos que os defendessem destas situações e não têm!
Com isto sugiro que se discuta o que é fundamental no objecto social das federações nacionais e o que é lateral e tudo deve ser apurado.
O dinheiro que satisfaz os presidentes das federações desportivas portuguesas é o mesmo que estará a levar o desporto e as suas organizações à falência.
Olhar apenas para os seus interesses e das suas federações é vital mas seria relevante e prioritário deixar de ir ao fundo com a crise e com os seus promotores.


Como sair daqui?


O desporto tem de trabalhar com o Governo de maioria para melhorar o programa partidário que está voltado para o passado, o que pode ser melhorado e os que simplesmente inexistem.
A única saída é o debate mais largo do que o Conselho Nacional do Desporto, baseado em princípios que atentam à população, aos praticantes regulares e irregulares e aos atletas de todos os níveis e capacidades.
Estes debates relevantes não podem ser apenas os feitos por alunos e na procura de visibilidade da 'beautiful people' das legislaturas dos últimos 30 anos e deve centrar-se nos fundamentos do desenvolvimento sustentado, na concepção europeia, para depois ser escrutinada científica e tecnicamente, havendo a motivação de corrigir o que vai aparecendo e que está mal.
A única saída é elevar o debate respeitando a natural diferenciação de qualificações dos líderes desportivos em que alguns são capazes de antecipar cenários de maximização social e outros ficarão pelos cenários de maximização dos seus benefícios privados, pessoais ou associativos. Mas é importante conceber estes cenários até para compreender que a geração e acumulação de capital desportivo, financeiro, económico e social é possível, assim como é importante conceber qual será a repartição óptima e possível desses mesmos benefícios.

É preciso coragem e capacidade de liderança ou o futuro próximo será equivalente ao fracasso actual perante uma austeridade inexorável que o país vai viver nos próximos anos.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Notas sobre as eleições legislativas de 5 de Junho de 2011 - 2

Um segundo vector do critério de decisão está na qualidade e características da política que no passado os candidatos eleitorais realizaram.

No século XX e início do século XXI desportivo português os seus indicadores de produção mantiveram-se no último lugar da Europa.

Houve uma clara acumulação de capital desportivo nas últimas três décadas, porém, o produto desportivo não alcança ritmos de convergência europeia e recentemente desacelera mantendo Portugal o primeiro lugar das tabelas invertidas.

As políticas das últimas duas décadas erraram?

As políticas foram insuficientes e erraram seguramente.

De que forma?

Faltou às políticas complexidade e profundidade, faltou aos protagonistas coragem e altruísmo para assumir a responsabilidade de criar a partir dos princípios europeus e os desportivos.

Portugal falha a Europa porque não assume os seus fundamentos: cria políticas desportivas e segue princípios éticos que a Europa ocidental se os seguiu no passado, procura abandonar e seguir sempre em frente.

Portugal segue um economicismo profissional equivalente ao modelo de Leste, sem o seu empenhamento político, aplicado aos princípios liberais que o futebol como maior modalidade aproveita e cuja dimensão crítica falta às restantes modalidades.

Foram os partidos que erraram? Ou foram também as profissões, os juristas, os líderes federados e os gestores como tão bem se observa nas acções que se realizam onde não se defrontam os problemas actuais concretos que se pretende debater?

Para não prolongar mais:



O modelo de desenvolvimento desportivo está errado e os protagonistas são muitos para que ele seja tão errado para nos manter agrilhoados no topo das tabelas negativas europeias.

Para onde vai a A Cultura? Para perto do Desporto?

Passos Coelho terá dito que a Cultura fica na sua dependência directa.

A sorte do Desporto durante a última década não lhe augura o bom.

O que parece é que a Cultura estará mal, ou ...

Faltará a Portugal uma tal de Cultura Europeia para tratar com clareza as políticas para a sua Cultura e o seu Desporto.

Os intelectuais (não) vão à bola

Debate entre a atriz Sandra Barata Melo do Sporting e o escritor José Luís Peixoto do Benfica sobre a bola em 7 minutos aqui.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Notas sobre as eleições legislativas de 5 de Junho de 2011

A política desportiva é o critério de decisão do blogue.


Um primeiro vector do critério de decisão está na existência de um programa de desporto.
É possível concluir desde já que o desporto não é relevante para as eleições de legislativas de 5 de Junho na perspectiva dos partidos concorrentes.

Dois partidos apresentam um programa para o desporto e os outros não apresentam.

Apenas o PS e o PSD falam da sua política desportiva.

O BE e o CDS nada falam de desporto e o PCP no compromisso eleitoral de 2009 também não falava de desporto. Veremos a proposta de 2011 do PCP quando sair.

Assim, o PS afirma a sua continuidade de política desportiva e o PSD procurando saídas coloca o desporto a par da cultura.

Este último facto pode constituir a transformação da política desportiva nacional que coloca o desporto por tradição sob a alçada da presidência do Conselho de Ministros o que capturou o desporto para os partidos.

As áreas que tradicionalmente mandam no desporto como a gestão e o direito, a segunda como poder efectivo não aparece directamente nas propostas partidárias, e a primeira como fogo fátuo é indetectável.

Porque é que isto acontece?

Estes elementos sugerem a frágil reputação do desporto para a solução das crises nacionais, como a actual a que se aplicam medidas de austeridade extremas e que atingirão gravemente o desporto. Também as áreas que lideram o desporto serão irrelevantes no contexto social alargado.

O desporto por si é um sector que tem dificuldades imensas de fazer valer os seus princípios de desenvolvimento desportivo, económico e social.

As falhas que menorizam o desporto socialmente serão as voltadas para a sociedade como:
  1. a inexistência de uma conferência anual do sector que foque a sociedade portuguesa no desporto tratando dos seus aspectos fundamentais;
  2. a apresentação de novos valores como se observa nas conferências publicitadas neste blogue é um sinal de vitalidade e de acumulação de capital científico e técnico acompanhados por grandes líderes desde há décadas. Porém uns são desconhecidos da sociedade e os outros fazem sentido desportivo e menor relevância nacional;
  3. a sintonia com a sociedade portuguesa é encontrada nos megaeventos que 'ardem/passam como um fósforo' e não é ajustada ao respirar da sociedade;
  4. a articulação, mínima que fosse, entre os principais agentes para sustentar uma estratégia de 'ataque' à sociedade;
  5. os líderes do desporto são adversos aos manifestos e às tomadas de posição públicas, que consideram um ataque ao seu estatuto de pitonisas que interpretam o oráculo para melhor garantirem a partilha do dinheiro público. Como a sociedade desconhece os partidos passam a assuntos socialmente relevantes;
  6. os blogues pouco focados no objecto desportivo do desenvolvimento e pouco articulados a falar os desafios a uma só voz sobre as matérias e com os termos que são próprios dessa matéria que é relevante. Os blogues de desporto não se metem na conversa dos grandes problemas nacionais;
  7. a realização de estudos com continuidade socialmente aferidos que dê conta à sociedade do que é o desporto, para onde vai e do que fez como resultado dos investimentos dos dinheiros sociais.
Estas inexistências são uma prova muito forte das razões da ausência de desporto nos programas eleitorais.

O desporto deixou-se menorizar pela venda de eventos a que habituou a sociedade os quais atingem o seu clímax com o Euro2004 e que com Pequim 2008 apanha com um banho de água gelada que, o desporto, ao manter no COP a mesma liderança falhada aos olhos da sociedade não-desportiva, coarcta ao sector a afirmação social de que o desporto tinha sucessos e também fracassos e que actuava sobre estes últimos para os impedir de se repetirem.

Também o futebol tem crises e fracassos repetidos e prolongados que culminam com o descrédito da sua liderança nos areópagos mundiais do futebol, fechando o círculo da frágil liderança desportiva nacional e da inoportunidade dos partidos falarem de uma coisa que não motiva a sociedade positivamente. Por si só os grandes clubes anulam-se porque constituem o mais efectivo dos afrodisíacos naturais desta sociedade desportivamente doente e a produção simultânea de actos que causam a repulsa social e que o desporto cultiva com largueza bem permitida.

Se o desporto é isto que descrevo então deveria haver alguém que estabelecesse uma linha limite para além do qual as coisas fossem diferentes.

Os partidos deveriam ser esse autor e protagonista do que pode e do que não pode ser no desporto português.

Isso não se observa nas eleições de 5 de Junho de 2011.