terça-feira, 19 de abril de 2011

Um conceito de produção desportiva

Um dos centros do nosso fracasso desportivo estará na definição de produto desportivo.

Falamos dos clubes, empresas, ligas, federações, jovens que se matam e aleijam a praticar desporto, andamos atrás do Ronaldo e do Mourinho. Depois a Jéssica Augusto e o Frederico Gil dão um 'ar da sua graça' demonstrando que existe mais desporto para além do futebol e temos a cabeça cheia de ideias e falta-nos o âmago do produto e da produção que é o desporto.

Temos qualidades únicas de produção desportiva e não as exploramos ou, dizendo de outra forma, não as potenciamos porque a exploração que fazemos esgota o desenvolvimento sustentado do todo, faltando-nos saberes que a Europa descobriu ao longo do século XX mantendo-se na liderança do desporto mundial. Nós não conseguimos sequer sair do último lugar europeu.


Tenho a percepção de que à medida que o país for compreendendo o logro recente e as palavras se forem tornando mais duras na sua apreciação, haverá a curiosidade para compreender vias alternativas àquilo que foi feito no desporto e em seu nome.

Fizeram-se leis de bases e regimes jurídicos e existem leis e despachos que tendo de ser cumpridos afectam o comportamento dos agentes privados e incentivam comportamentos maus e desincentivam o desporto porque afinal se sabe mal o que é o desporto moderno, aquele que é praticado na Europa.

Nesta altura não estamos muito longe da década de sessenta do século passado quando se descobriu que o futebol tinha uma dimensão nacional, de orgulho e amor-próprio que nenhum outro sector fazia por mais apadrinhado que fosse pelo regime.

Agora deixam-se as autarquias tratar das populações como antes a Mocidade Portuguesa ocupava os jovens com actividades extracurriculares.


Não existe uma política desportiva nova que explique e sustente a actuação específica das autarquias.

Estas são compradas com fundos comunitários e contratos-programa com a administração central, que lhes sugam os rendimentos desportivos durante décadas em nome do alto rendimento, que se diz que as federações produzem orgulhosamente.

Sem dúvida que o fazem orgulhosamente mas fazem-no com pouca eficácia, fazem-no menos bem feito do que o fazem as federações dos países com quem Portugal compete na Europa e no mundo.

As federações portuguesas não estão a compreender o potencial da estrutura vertical de produção desportiva do Modelo Europeu de Desporto e fixam-se no seu topo porque é para o topo que recebem dinheiro público. Mas ganhariam muito mais trabalhando toda a estrutura vertical do informal ao alto rendimento.


A sede de conhecimento de um modelo de desenvolvimento desportivo que sustente o seu crescimento, crie postos de trabalho, produza capital social local abundante através da protecção dos clubes de bairro e atraia agentes económicos competitivos procura hoje compreender porque é que as federações portuguesas falham o seu produto desportivo, elas que são o alfa e o ómega do desporto nacional, são as instituições que têm os melhores e mais conhecedores técnicos e líderes do desporto português, alguns apoiados pelos investigadores e catedráticos de maior nomeada nacional.

A resposta poderá ser mais simples e estar na capacidade de produzir e debater ideias e acumular conhecimento que se estruture em boas instituições públicas e privadas para além das corporações e dos partidos.

Esse debate a começar deve fixar-se na definição de produto sob pena de chamando muitos nomes, desporto para todos, informal, formal, alto rendimento, actividade física, desporto, recreação, futebol, judo, etc., Portugal acaba por não conseguir fixar o elemento fundamental que identifica e distingue o desporto de todos os outros sectores da actividade produtiva.

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