quarta-feira, 6 de abril de 2011

Os pés em terra do novo líder do desporto

O líder do desporto deveria ser convidado a apresentar eixos fundamentais relacionados com:
  1. A sua Visão para o desenvolvimento sustentado do desporto;
  2. Quais os princípios nacionais, europeus e olímpicos que prosseguiria;
  3. Qual a concepção para o modelo nacional de produção desportiva;
  4. Condições para a criação de um programa de desenvolvimento desportivo nesta altura pelo menos para 2030.

Há depois questões básicas da produção desportiva que o líder pode equacionar como as seguintes:
1.      Quanto aos três níveis de produção desportiva:
a.      Informal – alcançar uma percentagem elevada de prática pela população e promover e racionalizar a produção individual e familiar, a associativa dos micro e médios clubes e a empresarial das micro e médias empresas;
b.     Formal recreativo / amador – fazer crescer os praticantes federados recreativos para um terço do informal. A actual massa de micro federações até mil praticantes federados deverá crescer para federações de outro nível organizativo e institucional enquanto as médias e as grandes federações deverão procurar consolidar as unidades produtivas de base clubes e empresas respondendo às suas necessidades para aumentarem o número de praticantes e melhorarem a sua qualidade de produção. A discriminação de actividades e de preços por parte da federação deve acompanhar o movimento das novas procuras e formas de aproveitar o desporto familiares e sociais;
c.      Formal alto rendimento – a produção de uma maior intensidade desportiva para produzir praticantes e equipas, treinadores e escolas de excelência global exige tanto o aumento de capital crítico para este nível de produção desportivo como níveis superiores de ética e de transparência de todos os protagonistas envolvidos;
2.      Quanto à promoção de desporto:
a.      Cada um dos níveis atrás referidos necessita de informação abundante sobre os benefícios e malefícios das actividades, sobre os aspectos técnicos de como os praticar bem, assim como, dos meios para a sua concretização;
3.      Quanto às infra-estruturas desportivas:
a.      Quanto às estatísticas, rever muito do que está feito e que contribui para a falência dos orçamentos das autarquias, publicar ‘em 15 dias’ as estatísticas das instalações desportivas públicas tal como estão, articular com as autarquias e outros proprietários a criação de uma base de dados com a oferta de actividades desportivas na internet, publicar a procura dos espaços desportivos com periodicidade;
b.     Quanto ao investimento, trabalhar as necessidades de reconversão do parque instalado e com problemas, rever profundamente os programas de investimentos futuros a partir dos actuais indicadores da procura e do estado do parque desportivo actual;
4.      Criar uma política de eventos internacionais estreitamente relacionados com a produção de resultados no alto rendimento. Um princípio simples é o de fazer eventos e megaeventos em Portugal apenas se Portugal tem condições de arrasar a concorrência no terreno de jogo, ou seja, sem campeões num determinado nível de prática não há eventos internacionais;
5.      Um programa de médio prazo é um compromisso com a sociedade. Se o Governo de maioria não quiser apresentar resultados e não quiser dar meios acrescidos necessários ao desenvolvimento do desporto nacional não tem de fazer nenhum programa, basta continuar como até agora. Muitos programas de financiamento foram apresentados por governos anteriores e era bom que o Governo de maioria evitasse um desses modelos para o desporto, até pela bancarrota nacional de que esses programas e cornucópias de financiamento foram coniventes;
6.      Por fim, a ciência deve ser incentivada a acompanhar as necessidades do desporto, os objectivos de política e a avaliar os resultados das políticas aplicadas ao desporto e a outras que têm impactos positivos e negativos no consumo desportivo da população portuguesa.

Não vale a pena continuar a aprofundar pressupostos básicos de actuação de uma liderança nova para o desporto.


Dar o litro, dedicando-se 25 horas por dia a esta tarefa é uma das condições para arcar com o cargo.
Partir a pedra nestes seis pontos é um trabalho consumidor de recursos desde a concepção à negociação com todos os parceiros e que exige uma grande abertura de espírito.
Na medida em que este trabalho se concretizar o relacionamento com a sociedade e de projecção do desporto nacional começará a libertar-se dos actuais constrangimentos históricos e a pisar novo terreno e perspectivas de desenvolvimento sustentado.

Se o desporto concretizasse com sucesso alguns destes pontos, nessa altura seria a Cultura a procurar acertar o passo com o Desporto para criar um cluster de produção de cultura e desporto nacional.

2 comentários:

Rui Lança disse...

Muito bom este texto em particular, parabéns pelo blog Professor.

Abraço,

Fernando Tenreiro disse...

Obrigado, Rui Lança
Os seus textos no Colectividade Desportiva são importantes por irem buscar ciência para compreender os nossos desafios.
Abraço