segunda-feira, 11 de abril de 2011

Actividade física versus desporto

Quer o anónimo que eu responda às perguntas que fiz.

Na verdade não tenho de o fazer.

Há artigos que saem na imprensa e parecem insuficientes no seu relacionamento com o desenvolvimento desportivo nacional produzido pelo associativismo e pelas empresas.

A avaliação da condição física só poderá ser sustentável em Portugal se estiver relacionada com a política desportiva.

Por exemplo, o caso do programa Marcha e Corrida do Atletismo, e outros de outras federações, terão uma relação com a avaliação da condição física daqueles que os pratiquem.

Na Europa 65% da população pratica desporto e, desses, 30% estão nas federações.

Em Portugal 45% da população pratica desporto e só 10% estão nas federações.

Nós, não só, temos uma percentagem 20% mais baixa ao nível de toda a população, como 90% dos poucos praticantes que temos, estão fora das federações. As federações são fundamentais para a formalização e especialização do capital desportivo individual e colectivo e falta-nos esse tecido desportivo fundamental.

É óbvio e é essa proposta que coloco é que é relevante que na observação da condição física dos portugueses haja um conhecimento claro das modalidades praticadas para conhecer o benefício de cada cidadão e que esse conhecimento lhes seja concedido.

A estrutura federada é a unidade de produção desportiva mais eficiente na produção de desporto na Europa. Ela produz melhor desporto com menores recursos. Caso no futuro o estado português, através do governo de maioria, decidisse continuar a não financiar o associativismo desportivo de base como o fazem os países europeus, as percentagens de prática desportiva nacionais atrás indicadas não evoluiriam para a média europeia.

Há problemas graves com o modelo de desenvolvimento desportivo nacional e esse modelo não está a ser instrumentalizado para demonstrar à população portuguesa e às suas organizações e instituições o que é o modelo, para que serve, que relações estabelece entre a universidade, as autarquias, o associativismo e o Estado.

Os projectos não podem parecer que vêem de um país estrangeiro mas devem ter um propósito nacional que enalteça a acção dos agentes desportivos como os do associativismo desportivo ou mesmo os das empresas e que estão num modelo de desenvolvimento desportivo que é nacional e que prossegue objectivos europeus.
Mas é fundamental deixá-lo bem claro, principalmente quando aparece um jornalista a fazer perguntas, que ele próprio talvez saiba a resposta ou talvez não perceba nada, mas que está preocupado com a elaboração da peça a apresentar ao director do jornal. Da minha relação com os jornais sei que dar mais matéria aos jornalistas não cai em saco roto.

A não ser que se pretendesse que saísse apenas determinada matéria e, nesse caso, creio ter acrescentado razões que demonstram a perca de oportunidade em maior benefício não só do desporto mas da avaliação da condição física que, se continuar desligada das federações, vão ser elas a sugerir a alguém que há outras coisas mais importantes do que estar a incomodar as pessoas como uma coisa que ninguém sabe para que serve na relação entre o Estado e a produção associativa desportiva.
Ou, talvez, o objectivo seja levar o projecto para a saúde e nesse caso responde aos fundamentalismos que defendem que o desporto é para produzir desporto e que tudo o mais é heresia.
Ele há gente muito confusa…

2 comentários:

Armando Inocentes disse...

Os 45% da população que pratica desporto são provenientes de uma interpretação errada do Sr. Laurentino Dias, baseado no Eurobarómetro, e que induz em erro o Prof. Fernando Tenreiro.

Num estudo de Salomé Marivoet de 1988 a amostra foi representativa da população de Portugal Continental dos 15 aos 60 anos, para um total de 5.494.896 indivíduos (só Portugal Continental), tendo sido aplicados 43.532 inquéritos. Conclusão: 27% exercia uma prática desportiva, embora só 22 destes de forma regular, e entre estes, 16 de forma organizada.

No estudo da mesma autora referente a 1998 a amostra foi representativa da população de Portugal Continental e de ambas as Regiões Autónomas dos 15 aos 74 anos (7.093.575 indivíduos), tendo sido realizados 3.030 inquéritos. Conclusão: foi alargado o universo de análise à população entre os 15 e os 74 anos e ao país inteiro, tendo-se concluído que para este conjunto da população, 23% eram praticantes desportivos.

Ora, no Eurobarómetro foram entrevistados 1.031 indivíduos num universo de 8.080.915 habitantes... ou seja, uma amostra em que aumenta o universo e diminui o número de inquiridos...

Se adicionarmos os que praticam regularmente aos que praticam com alguma regularidade obtemos 33%!

Logo existem aqui duas falácias: a primeira, a da amostra; a segunda, quando se pretender adicionar aos 33% o número dos que raramente praticam (11%)... para se chegar a 44%!

O que é «raramente»? Uma corridinha uma vez por mês? Um joguito de «casados contra solteiros» de ano a ano quando a empresa comemora o aniversário?...

Logo, deixemos de falar em 45%!

Será que no Eurobarómetro de 2004 os 34% de portugueses que referiam fazer exercício físico ou praticar desporto também incluíram os «raramente»? Parece que não, embora "mea culpa" por não ter verificado este resultado e não ter estudado a amostra...

Deixemos pois de comparar o que não pode ser comparado!

(Nota: Já tinha esclarecido isto em «Colectividade Desportiva», mas não obtive feed-back!).

Um abraço

Fernando Tenreiro disse...

Obrigado pelo seu comentário Armando Inocentes

Portugal tem de usar os mesmos instrumentos que os outros países europeus e não perder tempo em discussões laterais.

O Eurobarómetro é o inquérito europeu actual.

45% é a taxa máxima de participação nacional.

A média europeia desta taxa é de mais de 60%, portanto estamos muito longe.

Os políticos devem ser incentivados a trabalhar a partir daqui não a partir de estudos feitos há mais de uma década.

Eu incentivei a Salomé e o Instituto do Desporto, na altura o Abel Santos era quem tratava desta matéria, na década de noventa a fazer o segundo estudo e acontece que eu incentivaria agora a fazerem outros com outras características.

Não vale a pena estar a criticar o uso do Eurobarómetro pelos políticos e as possibilidades teóricas do estudo da Salomé Marivoet que foi importante e que está ultrapassado.

Um abraço