quinta-feira, 21 de abril de 2011

Por onde anda a reputação do desporto português

O estado do nosso desporto observa-se no novo arraial de pancadaria com a polícia de choque a intervir num jogo entre o Benfica e o Porto.

É possível fazer diferente porque em Espanha onde a rivalidade do Barcelona e do Real Madrid também é imensa e os adeptos dos dois clubes não se guerreiam, nem assumem que desporto é maltratar o adversário.

A situação é insustentável e devem encontrar-se as razões para isto estar a acontecer em Portugal.

Há muitas instituições a intervir na violência no desporto e nenhuma instituição sai de mãos limpas.

Podemos começar pela Assembleia da República, pelos mais altos magistrados que ou não actuam, ou actuam mal, ou não dão exemplos, ou não criam bons exemplos.

Chegar ao fim da legislatura com arraiais de pancadaria é mais um factor que sugere o fracasso da política desportiva de agentes públicos e privados.

Os arraiais de pancadaria custam dinheiro ao erário público, retiram-no de outras aplicações úteis ao desporto e à população e causam prejuízos privados com a destruição de propriedade.

Os prejuízos intangíveis observam-se na descredibilização do desporto e de prejuízos de enorme monta na sua reputação e no que seria o benefício de toda a actividade desportiva para jogos que deveriam enaltecer a componente lúdica e o respeito pelo vitorioso e pelo derrotado.

O Benfica e o Porto perdem porque os estádios não esgotam e a venda de merchandizing e os contratos de publicidade ficam abaixo do potencial.

Indirectamente o benefício de outras modalidades e de outros eventos desportivos negocia também longe do potencial caso o entusiasmo pelas competições desportivas transbordasse como parece acontecer por essa Europa.


A política desportiva tem de olhar para a reputação do sector como o elemento central para colocar o desporto em todas as suas manifestações e produtos como um factor decisivo para a edificação da imagem e do amor-próprio dos portugueses.

A impotência do jogo de ontem é o fracasso de clubes que não conseguem ser grandes onde se destruiu a relação entre o saber ganhar e o saber perder e o prazer que o desporto tem de um momento bem passado entre amigos e em sociedade.


Que terra é esta, que desporto é este, que política desportiva é esta onde não existem leis que ilegalizem as claques, não existem personalidades da sociedade e dos clubes que antes, durante e depois não falam, não aparecem juntas, não se misturam com os adeptos dos clubes e não afastam definitivamente com actos os arraiais de pancadaria dos jogos entre os maiores clubes portugueses?

2 comentários:

Armando Inocentes disse...

Caro amigo Fernando Tenreiro (permita-me que o trate assim, dado o conteúdo deste post!):

Deixo-lhe aqui um exemplo que fundamenta o seu post.

Rui Pereira, professor de direito e presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo em 2006, actualmente Ministro da Administração Interna (ex), declarava em Janeiro desse ano que “nenhuma sociedade assegura a inexistência de quaisquer distúrbios e a punição de todos os crimes. Por exemplo, o modo seguro de erradicar a violência desportiva seria acabar com o próprio desporto”.

Pelos vistos, segundo este raciocínio, e segundo o "nosso ministro" o modo seguro de erradicar a violência na sociedade seria acabar com a própria sociedade…

Já agora, digo-lhe onde ele escreveu isso: numa crónica intitulada “A validade das normas”, no jornal Correio da Manhã de 8 de Janeiro desse ano, na página 12.

Um abraço

Fernando Tenreiro disse...

Caro Inocentes

Parece-me haver outra solução na sua citação e que é a possibilidade da própria actividade, o desporto, como a própria sociedade, encoontrar os meios dentro dele para solucionar a violência.

Mas não estou a ver a citação completa de Rui Pereira

grato pelos comentários