domingo, 24 de abril de 2011

O turismo de Portugal em autofagia

'Portugal em autofagia' é a peça do empresário do turismo e do golfe (?), Fernando Nunes Pedro, no Público de hoje.

O Sr. empresário queixa-se amargamente das críticas aos 6% do IVA, enaltece enormemente os milhões de turistas do golfe e não se esquece da crítica aos estádios do Euro2004.

As preocupações de Fernando Nunes Pedro não estão em compreender o desporto e em autofagia junta os estádios do Euro2004 à liberdade de defender o seu negócio.

Os estádios do Euro2004 na verdade contaram com a aceitação do Turismo para terem turistas em todo o país. Vir agora alguém do Turismo criticar os estádios quando estiveram do lado de quem decidiu a má estrutura dos estádios nacionais e o seu projecto incapaz é uma enorme peripécia.


Esta é a consequência da reputação do desporto no seu melhor. Ter por parceiros os elementos que na primeira oportunidade demonstram os princípios laterais que os regem.


Contemos uma história para demonstrar como as coisas são maravilhosas no empresariado do Turismo e do Golfe português.


Num jantar do Panathlon Clube de Lisboa, há muitos anos, foi convidado um prestigiado líder do Turismo para falar da relação entre o Golfe e a natureza.

Durante a intervenção só havia passarinhos a chilrear, cheirava a flores e todo o ambiente transpirava natureza pura, ecologia, equilíbrio, respeito pelo universo e as mais altas virtudes desportivas, humanas, sociais e globais.

Já para o fim no momento das perguntas imbuído pelo sentido ecológico e ecuménico da intervenção referi que o empresário André Jordan dizia que era necessário não construir mais campos de golfe porque se assistia a uma saturação no Algarve onde também a escassez de água doce estava a pôr em perigo toda a região.

Como se costuma dizer o Sr. líder do Turismo e do Golfe ficou alterado e disse que havia corrupção porque um empresário tinha colocado como secretário de estado do turismo um funcionário seu e que tinha construído 3 campos de golfe na reserva agrícola e na reserva ecológica nacional.

Os passarinhos fugiram esbafuridos, as flores murcharam instantaneamente e o cheiro a corrupção, que dizem que é doce, apropriou-se do final da reunião.


A reputação do desporto é um valor intangível que se o desporto não lutar por ele frontal e decididamente arrastará o sector por décadas e impedirá o desporto de dar o mínimo passo para o seu desenvolvimento e do país.

O Sr. empresário Fernando Nunes Pedro faria melhor em demonstrar que os seus estudos económicos sobre os 6% de IVA são diferentes como os que justificaram a construção dos estádios do Euro2004 e que o Turismo na altura aceitou.

Provavelmente a sua preocupação foi a mais-valia absoluta que o Turismo recebeu do Euro2004 e agora se quer furtar ao momento de sacrífio que Portugal vive.

Há limites para o Turismo e há potenciais benefícios para o Turismo, se o Turismo respeitar os outros sectores e particularmente se respeitar as características de um desenvolvimento sustentado do desporto português.

Na verdade a autofagia até pode ser a crítica a quem sempre voga por cima dos problemas nacionais, desde há décadas, capturando mais-valias certas que deixam os outros sectores mais pobres e mais na mesma.

Por algum motivo a comunicação social abre as portas com regularidade e 'todos os dias' aos conhecedores empresários do Turismo para cantarem loas ao seu potencial e autofagiarem a desgraça de parceiros sociais que contam no país.

Quando é que o Turismo irá apreender que ganha mais com o desporto se investir para que o desporto seja maior?

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