quarta-feira, 20 de abril de 2011

Como lidar no desporto com os cortes orçamentais privados e públicos?

Esta pergunta foi-me colocada por uma pessoa que queria compreender do ponto de vista económico a razoabilidade e as saídas que a análise económica faculta.


As organizações de direito privado têm como objecto maximizar activos tangíveis e intangíveis.

A maximização do lucro de um ginásio é distinta da maximização da utilidade de uma federação ou de um clube desportivo.

Num caso e noutro os agentes privados ao procurarem maximizar os objectivos acordados e determinados pelos seus associados têm de precaver as ocorrências negativas como o corte de financiamentos públicos que em determinado momento conseguiram accionar face a contrariedades em momentos como os que vivemos actualmente.

Os financiamentos públicos estão ao mesmo nível dos patrocínios que estas organizações conseguem em determinado momento e que no momento seguinte o patrocinador decide que a imagem do seu produto deixará de passar pela actividade desportiva anteriormente oferecida.

O corte pode dar-se tanto por excesso de sucesso preferindo o patrocinador fazer uma pausa na promoção, como pela sua falha. Num caso e noutro as organizações desportivas devem estar atentas ao comportamento dos seus patrocinadores e financiadores.

Estão também neste caso as entidades bancárias que em determinado momento decidem aumentar as taxas dos empréstimos e que impedem e dificultam o financiamento de determinadas actividades e processos de produção desportivo.


Quando chega um momento de crise, como o que atravessamos, a situação é ainda mais difícil e pode acontecer que patrocinadores, bancos e Estado todos alterem o seu comportamento e cabe à organização tomar decisões internas como a de redefinir os seus objectivos e de alterar o centro da sua actividade, tendo de para isso dialogar e negociar com os seus associados.

Outras questões que podem acontecer é a alteração dos comportamentos dos patrocinadores fazendo incidir o custo e o ónus da alteração do seu comportamento anterior sobre a organização desportiva a qual poderá ficar em maus lençóis se não precaveu cenários e instrumentos de actuação alternativos.

De um ponto de vista externo é relevante a capacidade da organização representativa do sector encetar negociações em nome do sector devendo as diferentes organizações de base acautelar se a organização de topo é ou não capturada por instituições exteriores ao sector, garantindo-lhe mais-valias que são retiradas às organizações suas representadas ou àquelas que não possuem representatividade que as defendam em processos negociais plurisectoriais.


Na actual fase de crise generalizada Avelino de Jesus, aqui, no Jornal de Negócios, noticia como a Alemanha se defendeu depois da II Guerra Mundial na bancarrota gerada pela aventura hitleriana.

Refere que a negociação conseguiu juros mais baixos e a adequação do período de pagamento e a entrada de agentes políticos diferenciados com elevada capacidade negocial face aos credores e daqueles que provocaram a catástrofe.


Em síntese, as questões que se colocam à criação de um novo ciclo de desenvolvimento desportivo a iniciar num período de crise como o actual, teria para as organizações privadas desportivas algumas soluções de preferência inovadoras:
  1. Nomeação de novos líderes aumentando a capacidade de negociação do desporto associativo e empresarial;
  2. Equacionar de um novo modelo de produção considerando a relevância de pelo menos três níveis de produção desportiva: o informal, o formal recreativo e o alto rendimento;
  3. Face a este novo quadro de produção desportivo revisão das fontes de financiamento privadas e públicas;
  4. Particularmente no caso do Estado os novos líderes deverão apresentar um quadro de produção e apoio público sustentado e de elevada qualidade técnica em inúmeros domínios, desportivos, económicos e sociais.


O artigo de Avelino de Jesus mostra a possibilidade do desporto trabalhar a crise de uma forma positiva e que afinal mais interessa ao país e à sua população.

3 comentários:

Armando Inocentes disse...

Caro Fernando Tenreiro:

Penso que ter deixado antes um comentário sobre algo parecido com este tema... mas não o vejo ou não sei se o consegui enviar.

Em http://karatedopt.blogspot.com/ no post de 16 de Abril "Contas que toda a gente sabe fazer..." mostro como pode uma federação viver com estes cortes! E também mostro quem paga...

Um abraço.

Armando Inocentes disse...

Afinal Laurentino Dias definiu que as federações que recebem do Estado menos de 100 mil euros não vão sofrer nenhuma redução e que as restantes irão ser distribuídas por quatro escalões, de 5 a 15 por cento de penalização.

Fernando Tenreiro disse...

Caro Armando Inocentes

Há muitas variáveis que se desconhecem neste momento e existe uma situação do passado.

Os cortes agora ou no futuro eram esperados e isso pode levar as federações a não fazer perguntas ou só fazer no local certo.

As variáveis que se desconhecem do que se passa no mundo e em Portugal deveria levar as federações a não atrasarem as perguntas e a obtenção de respostas.

É mais certo que não irão fazê-lo diferente do que fizeram no passado.

Vemo-nos por aí