segunda-feira, 11 de abril de 2011

Actividade física versus desporto e Modelo Americano de Desporto versus Modelo Europeu de Desporto

A actividade física é o núcleo do bem-estar físico e psíquico de americanos e europeus e as competições são o instrumento de avaliação dessa actividade física.

A partir daqui existe mais uma qualidade que é comum aos dois modelos. Ambos produzem desporto através de pirâmides de actividades físicas ordenadas segundo a intensidade de capital desportivo, em que na base estão as actividades mais simples e no topo as mais complexas.

Adicionalmente para sustentar as estruturas amadoras os estados americanos e os governos europeus financiam largamente a actividade desportiva de base como bens e serviços públicos e de mérito.

No modelo americano a estrutura tanto amadora como profissional tem organizações com finalidade lucrativa permitindo aos agentes desportivos internalizar no mercado privado as externalidades humanas e sociais geradas pela sua actividade. Os direitos de propriedade da produção desportiva pertencem às organizações privadas com finalidade lucrativa.

No modelo europeu a estrutura amadora e profisisonal possui organizações sem finalidade lucrativa e também tem organizações com finalidade lucrativa. Porém, os direitos de propriedade pertencem às federações que não possuem finalidade lucrativa mas que de qualquer forma devem ser organizações económicas saudáveis e que geram lucro em cada ano desportivo e económico para sustentarem as actividades que não geram lucro e que são essenciais ao sucesso das lucrativas.


Sem alongar mais

Esta introdução sugere porque é que o projecto de avaliação da condição física será um instrumento americano e porque os governos europeus ainda não terão aderido em grande número a este projecto. Ver Expresso de 9ARB2011.

A investigação desportiva na Europa está imbrincada na sua produção desportiva.
Assim, na Europa  a quantidade de desporto produzido é dado pela actividade associativa desportiva possuindo os países europeus centenas de milhares de clubes para o desenvolvimento da actividade física que é promovida e contabilizada nos praticantes inscritos nas federações.

Os Estados Unidos não possuindo federações usam um projecto científico para medir a condição física dos seus concidadãos.

É importante Portugal fazer investigação sobre a condição física e a qualidade do exercício físico dos portugueses e é importante Portugal seguir o que de melhor tem o Modelo Europeu de Desporto como é a sua estrutura associativa de produção desportiva.

De qualquer modo, se Portugal não quer assumir o Modelo Europeu de Desporto e seguir o Modelo Americano de Desporto que não o faça pela metade e o assuma.


Agora o que não deve fazer é ter uma estrutura associativa há décadas a morrer sem responsabilização e sem risco aplicando fundos públicos, sem medir a eficiência desses resultados e procurar medir sugerindo soluções que parecem flutuar acima do modelo de produção implantado na Europa.

Isto não é carne nem é peixe!

Quando se desenvolvem instrumentos públicos estes devem deixar claro as relações de causalidade porque se aplicam dinheiros públicos e devem assumir-se os resultados produzidos por essas decisões.


As perguntas essenciais são, por exemplo:

O projecto de avaliação da condição física dos portugueses é para ser desenvolvido para as federações?

Se não são as federações e a sua estrutura associativa quem são os produtores das actividades físicas: os cidadãos independentes e informalmente, os clubes fora da estrutura associativa federada, as empresas, o manchester united com escolinhas privadas a espalhar pelo país, as delegações dos grandes clubes Benfica, Sporting e Porto?

Estamos perante um projecto universitário que se relaciona com o associativismo desportivo de que forma?

Qual a função do regulador público e da sua agência técnica?

5 comentários:

Anónimo disse...

Pergunta Fernando Tenreiro:Qual a função do regulador público e da sua agência técnica?

Importa-se de chamar os bois pelos nomes para ver se nos entendemos?

Fernando Tenreiro disse...

Para discutir ideias, está bem assim.

Armando Inocentes disse...

Não é por acaso que temos uma Lei de Bases que procura separar Actividade Física de Desporto... o resultado está à vista nas taxas de IVA aplicadas a Ginásios.

E se “o carteiro fazendo o seu giro de bicicleta ou os amigos que se encontram para correr à beira-mar não fazem desporto” (Roger Caillat, 2005), o que vem ao encontro de Pedro Sarmento (2004), quando afirma que “um indivíduo que num lago passeia de barco não faz desporto. Um indivíduo que entra numa regata faz desporto”.
Sarmento (id.) especifica que o lúdico define comportamentos e estilos de vida, é livre e espontâneo, enquanto o desporto é definido pela ordem e pela regra, pela intensidade do esforço físico, pela ideia de confronto e pelas formas de o fazer.
Como conclusão, Sarmento (id.) diz-nos que entre o lúdico e o desporto a actividade é a mesma, mas há diferenças sobre o objectivo da acção.

Mas qualquer dia, para fazermos o nosso cross matinal teremos de fazer como o pessoal da pesca desportiva: vamos ao multibanco e pagamos a taxa - andamos com o recibo no bolso e se calhar com o atestado médico também!

Quanto às federações que não possuem finalidade lucrativa, muitas delas têm lucros mas depois são desviados para outras despesas de modo que no final do RC apareçam lá uns 0.00...

Atentamente,
Armando Inocentes

Fernando Tenreiro disse...

Olá Armando Inocentes

A questão aqui é a imagem de marca.

O desporto tem um nome que é desporto.

O caso do IVA é que o desporto não tem técnicos, ciência, estatísticas, estruturas técnicas de investigação, boas instituições, líderes competentes, boa legislação, etc.

Os técnicos de desporto ficam confusos e exigem nomes diferentes para níveis e qualidades de produtos desportivos diferentes.

Contudo, no essencial o desporto tem características que o ligam da base ao topo e que o distinguem de todos os outros sectores da actividade.

Estas características únicas devem ser maximizadas em benefício da população e isso não acontece não por uma definição conceptual mas por falhas da regulação do Estado e da produção das organizações desportivas.

obrigado por este contributo

Armando Inocentes disse...

Caro Fernando Tenreiro:

Eu é que agradeço!

Obrigado por aquilo que tenho aprendido com o seu blog.

Receba os meus cumprimentos.