sexta-feira, 17 de junho de 2011

Para que serve a economia no desporto?

I

Os recursos que Portugal tem para viver e dedicar ao bem-estar social da população são escassos.

Acontece o mesmo em todos os países europeus. Em média a disponibilidade de cada país para investir em desporto é igual em todos porque todos investem em cabazes de produtos similares como a saúde, transportes, energia, ensino, ciência, cultura e desporto, etc.

Se um país apresentar um desenvolvimento desportivo excelente, no topo da Europa, e outro país tiver um desenvolvimento baixo e na cauda da Europa, pode considerar-se que o primeiro país faz uma melhor aplicação dos seus recursos que dedica ao desporto do que o outro que está no último lugar europeu.

A economia é a ciência que ajuda a compreender como actuar em situações de escassez de recursos. É o que faz a União Europeia. Usou a economia a partir dos anos 80 através do Conselho da Europa e actualmente tenta compreender porque é que os clubes de base têm dificuldades extremas no seu desenvolvimento desportivo.



II

Nas análises que realizam os economistas nem sempre concordam uns com os outros, aliás discordam mais do que concordam. Em Portugal foi patente quando há um par de anos a publicação de vários manifestos de grandes economistas portugueses a afirmarem a sua posição a favor e contra o investimento em grandes projectos.

O investimento em infra-estruturas desportivas, culturais e universitárias seguiu um padrão de realização que concita alguma unanimidade crítica, dados os níveis baixos de uso abaixo de 5% da capacidade instalada.

Os economistas concordam que a sua ciência ajuda a colocar questões que são importantes para explicar e compreender o desenvolvimento económico e a partir daqui discordam sobre a forma de lá chegar. Importa neste ponto conhecer porque chegam os economistas a conclusões distintas sobre a forma de promover o bem-estar.

Há dois aspectos fundamentais na análise dos economistas:

1. Os economistas têm posições diferentes sobre as falhas dos mercados onde competem os agentes privados.

2. Os economistas discordam sobre a necessidade ou não de intervenção do Estado.

Suponhamos que se tratam de monopólios como acontece no desporto e estes produzem um determinado nível de bens que se consideram públicos. Qual é o nível óptimo de produção de bem público pelos monopólios e que satisfazem o bem-estar comum? Esta questão não tem uma resposta objectiva e alguns economistas considerarão que o nível óptimo está alcançado pela produção privada e preferirão deixar o mercado actuar livremente. Outros considerarão que existe espaço para uma intervenção do Estado a fim de incrementar a produção privada de bens públicos.

Aplicando a intervenção do Estado ao desporto surgem algumas questões como: A intervenção do Estado poderá prejudicar a produção privada de desporto? Poderá a intervenção do Estado prejudicar os excelentes resultados obtidos no futebol profissional português caso o Estado corrija os salários em atraso? Os estádios com excessiva dimensão são uma ajuda ou uma dificuldade para os clubes privados? A intervenção do programa Marcha e Corrida do Governo poderá ter uma produção inferior aos agentes privados? Poderão interesses instalados no governo beneficiar determinados agentes e prejudicar a produção do mercado privado como um todo?

Estes exemplos desportivos suscitam respostas distintas por parte dos economistas.

Nem sempre as respostas dadas são as melhores.

Houve estudos no Euro2004 que deram determinadas respostas económicas e que foram aceites pelo governo da altura e que outros economistas e instituições como o Tribunal de Contas e o Ministério das Finanças vieram a contestar apresentando perspectivas diferentes. Hoje muitos economistas usam os estádios como um mau exemplo do investimento nacional das últimas décadas mas não fala de iguais exageros na cultura e nas universidades.



III

Hoje as instituições desportivas tanto públicas como privadas não usam na sua governance e regulação nenhuma informação económica. Face aos resultados produzidos é possível que existam economistas que considerem essa situação normal, enquanto outros prefeririam uma maior atenção aos fundamentos económicos das respectivas performances.

Independentemente da maior ou menor intervenção em cada caso concreto seria útil que o desporto português fundamentasse as suas decisões de política desportiva economicamente para obter um maior produto económico e social para o desporto nacional.

Existem muitos economistas em Portugal e as organizações privadas e os partidos políticos poderão ter a maior amplitude de actuação usando a disponibilidade de técnicos que certamente encontrarão nos seus associados e próximos.



IV

Há uma dificuldade acrescida relacionada com a peculiaridade da produção desportiva.

O desporto não é um bem produzido da mesma forma dos outros bens e isso exige um cuidado adicional. A própria União Europeia tem, por vezes, posições que depois vai melhorando à medida que se apercebe das características específicas do desporto português.

Esta capacidade de corrigir as suas políticas a partir da melhor percepção da produção desportiva é uma característica que não se encontra na política desportiva portuguesa.

A agregação de economistas mesmo de não especialistas em desporto, às equipas directivas seria melhor do que a não existência de economistas como ora acontece.

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