quinta-feira, 2 de junho de 2011

O erro de dar prioridade aos Jogos Olímpicos em Lisboa é um 'trickledown effect'

Cada vez que se fala sobre os ideais de líderes associativos vem à baila o projecto de organizar os Jogos Olímpicos em Lisboa. O projecto é um erro por colocar o betão à frente dos atletas e do usufruto do desporto pela população portuguesa.

Foi isso que aconteceu na FPF no Euro2004 como a sociedade portuguesa bem percebeu e tão cedo não vai cair noutra desportiva de igual valia.

Os líderes dizem que querem discutir o desenvolvimento desportivo e que pretendem sentar à mesma mesa todos os que irão estar envolvidos nos Jogos Olímpicos. Depois diz-se que nunca se reuniu porque, eles, nunca quiseram.

Depois colocam na comunicação social artigos de opinião que veiculam a ideia cientificamente errada que os Jogos Olímpicos são só lucros e que se pagam a si mesmos. Ou seja, esta posição cientificamente errada levou a uma fractura perante a sociedade quando o que o líder deveria ter feito era discutir internamente antes de valorizar o interesse dos empreiteiros, bancos, consultores internacionais, arquitectos, engenheiros, juristas e economistas para ganharem o seu naco do grande festim de infra-estruturas megalómanas que o desporto português passa bem sem elas.

Os governantes e a sociedade protuguesa portugueses aceitam uma mentira com alguma largueza até ao momento que em a coisa começa a arder e quando existem estádios vazios e propostas de abate dos mesmos pelas autarquias e o país mergulha na bancarrota, as pessoas de bom senso deixariam de falar de uma coisas para falarem de outras que fizessem sentido social. Nem os líderes do desporto têm esse bom senso e essa capacidade de compreender o desporto português, nem tem à sua volta pessoas que dialoguem com ele e burilem as melhores perspectivas de longo prazo para o desporto português trazendo para dentro do desporto a vitalidade social.

Numa recente entrevista à comunicação social um líder desportivo vem com a mesma ladainha do maravilhoso dos Jogos Olímpicos em Lisboa e dos outros que não querem.

Há uma perda evidente de sensibilidade à realidade do nosso desporto e tendo estes líderes decidido manter-se por novos mandatos, depois de fracassos evidentes, deveriam ter promovido as reformas profundas necessárias e ter discutido a ideia da eficácia e da eficiência do modelo do 'trickledown effect' que Portugal prossegue há três décadas.

A teoria do 'trickledown effect' e que a Sra. Tatcher usou no Reino Unido preconiza que o investimento no alto rendimento tem efeito secundários e positivos na recreação fazendo com que todo o desporto se desenvolva.

A realidade de inúmeros países demonstra que o efeito não existe e em Portugal para além das federações e dos partidos políticos que concentram o investimento no alto rendimento, existem outras corporações com posições semelhantes.

É aqui que os líderes portugueses se se assumissem como líderes desportivos nacionais teriam uma posição semelhante à do Comité Olímpico Francês que não só lidera a produção do seu desporto olímpico como é um activo produtor de conhecimento científico sobre o desporto francês.

As organizações fazem conferências para algumas pessoas, não libertando o sector para debates bem liderados, contraditórios e objectivados visando o bem comum no desporto e na sociedade.

Mais uma vez se verifica como os líderes desportivos portugueses não se souberam libertar de outros agentes privados e públicos para dar forma a conceitos alternativos de desenvolvimento desportivo.

Esperemos que o Governo de maioria tenha saber para se libertar desta 'pescadinha de rabo na boca' assumindo o corte com situações de fracasso evidente da liderança do desporto nacional em inúmeros dos seus segmentos.

Por exemplo, o Governo de maioria deve estar ciente que há grandes valores na liderança da produção do desporto português e dada a crise do país importa preservar e trabalhar com esses valores maiores.

Também importa ter em atenção que as medidas públicas não são inócuas e que há fragilidades e nichos de sensibilidade extrema que devem ser defendidos.

Vejamos um exemplo: quando se tira uma utilidade pública há requisições que deixam de se fazer e técnicos que trabalham há muitos anos com os jovens dessa modalidade deixam de o poder fazer e têm que voltar à escola que é o seu lugar de origem na função pública. Um corte administrativo pode ter um custo na destruição de capital humano especializado em produção de desporto para jovens que o Estado quando actua no desporto tem de estar atento e evitar, como parece que terá acontecido.

O Governo de maioria terá de ser o elemento diferenciador e promotor de uma política exemplar na ausência e incapacidade actuais de alguma liderança associativa desportiva.

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