domingo, 19 de junho de 2011

Natalie du Toit, um exemplo olímpico

Com a devida vénia ao Público está aqui a

Entrevista Natalie du Toit: "A tragédia não é falhar os nossos objectivos mas sim não ter objectivos"18.06.2011 - 15:53 Hugo Daniel SousaAFP


Natalie du Toit nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008

Natalie du Toit, de 27 anos, é uma das nadadoras mais conhecidas do mundo, porque se transformou num dos exemplos mais inspiradores da história do desporto. Apesar de ter ficado sem a perna esquerda abaixo do joelho, após um acidente de viação em 2001, continuou a perseguir o sonho de participar nos Jogos Olímpicos e conseguiu qualificar-se para Pequim 2008.
Agora tenta novo apuramento, desta vez para os Jogos Olímpicos de Londres, após os quais dará por terminada a sua carreira. A sul-africana está em Setúbal, para participar na terceira etapa da Taça do Mundo de natação em águas livres, e falou ao PÚBLICO sobre a experiência de competir com os melhores do mundo sem ter as mesmas "armas" que os adversários. Du Toit quer ser lembrada como "alguém trabalhador e perseverante" e diz que o seu caso mostra que as pessoas podem atingir os objectivos se lutarem muito por eles. E tem como mote nas suas palestras a ideia de que a grande tragédia não é falhar os objectivos, mas sim não ter objectivos a atingir.

O mote do seu site oficial é "Sê tudo o que queres ser". A minha pergunta é: o que é a Natalie du Toit deseja ser?
(risos) Esse mote quer dizer que as pessoas podem alcançar os seus objectivos. Estar nos Jogos Olímpicos era o meu maior sonho e já o consegui. E se eu consegui, as outras pessoas também o podem fazer.

Disse há três anos que qualificar-se para os Jogos Olímpicos de Pequim foi como escalar o Evereste. É possível repetir essa façanha em Londres 2012?
A minha federação ainda não escolheu a equipa que vai estar nos Mundiais deste ano [em que se jogam as primeiras vagas para os Jogos de Londres], mas obviamente que é algo que gostava de atingir. Já estou qualificada para os Paralímpicos e vou estar em Londres, mas claro que também quero estar nos Olímpicos.

Em relação há quatro anos, sente-se em melhor ou pior forma?
Tem sido um percurso difícil. Tenho treinado muito nos últimos meses e espero competir a um bom nível.

Pensa vir no próximo ano a Setúbal, onde são atribuídas as últimas vagas para os Jogos Olímpicos?
Ainda não conheço o local de competição, mas a hospitalidade nestes dias tem sido óptima. É bom estar aqui com um ano de antecedência, porque dá para conhecer o local de competição.

A sua ideia é tentar qualificar-se apenas nas águas abertas ou também em provas na piscina?
Só nos Paralímpicos é que vou estar nas provas na piscina.

Já anunciou que vai terminar a carreira após Londres 2012. Porquê?
É altura de parar, de deixar de lutar e de seguir com a minha vida.

Já é conhecida no mundo inteiro. Sente-se como um exemplo para os outros?
Sou um dos casos que mostram às pessoas que podem cumprir os seus desejos, se quiserem muito. Demorei 18 anos a atingir o sonho de estar nos Jogos Olímpicos e para muitas pessoas isso não acontece. Mas é preciso trabalhar muito e ter uma equipa à volta. Tenho um grupo de pessoas que trabalham comigo, que sempre acreditaram e que me ajudaram muito.

Quando não está a treinar ou a competir, o que faz?
Não me resta muito tempo, porque treino seis a sete horas por dia. Às vezes, vejo um pouco de televisão, leio, mas não tenho muito tempo para sair e ir a festas.

Mas sei que às vezes dá palestras a estudantes. Qual é a mensagem que lhes passa?
A mensagem é que a tragédia na vida não é falhar os nossos objectivos, mas sim não ter objectivos para atingir. Passo a ideia de que tudo é possível se acreditarmos. Nunca saberei como teria sido a minha vida se não tivesse tido o acidente, mas segui em frente.

Mas já não vê esse acidente como uma tragédia?
Bem, é verdade que aconteceram coisas boas depois disso, mas claro que sinto a falta da perna. Foi perder uma parte de mim, mas tenho de seguir em frente.

Ainda pensa muito em como teria sido a sua carreira se aquele acidente não tivesse acontecido?
É impossível esquecer completamente, porque todos os dias sou lembrada disso, porque tenho uma prótese [que tira para nadar]. Mas claro que penso que tenho de ultrapassar isto. Nem sempre é fácil, mas há muita gente que acredita em mim.

Hoje compete com os melhores nadadores do mundo. Isso obriga-a a treinar muito mais do que os outros?
Sim, claro. Tenho de treinar mais do que os outros, porque o meu corpo não é igual. Tenho de treinar aspectos que os outros não precisam.

Já lhe fizeram centenas de perguntas sobre a sua vida e a sua carreira. Há alguma pergunta que nunca lhe fizeram e a que gostasse de responder?
(risos) Bem, há muita gente que pensa que eu sou a pessoa mais optimista do mundo, mas na verdade devo ser das mais pessimistas. As pessoas à minha volta é que são muito optimistas e isso fez uma grande diferença. Outras pessoas pensam que foi fácil, mas foi muito difícil para mim e para as pessoas que me rodeiam.

Como gostaria de ser recordada no mundo do desporto?
Como alguém trabalhador e perseverante

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