sábado, 9 de julho de 2011

A raposa no galinheiro?

João Bibe, segundo dizem assessor na Secretaria de Estado do Desporto, tem uma terceira viagem ao mundo do Desporto:
  1. na sociedade, criada pelo Estado que acompanhou a aplicação dos meios públicos ao Euro 2004, e que foi liderada pelo ex-Secretário de Estado do Desporto Vasco Lynce de Faria, como especialista do ministério das Finanças
  2. como estrela financeira da liderança de Luís Sardinha, estando pouco tempo e saindo por razões que na altura não foram elogiosas como são muitas das saídas de todo o sítio
  3. adjunto ou assessor de Alexandre Mestre, passando a acompanhar superiormente a saída de Luís Sardinha
A presença de João Bibe parte do pressuposto tradicional que o desporto é uma caixa multibanco e o que se precisa é da mão forte e directa de funcionários superiores das finanças, dada a má reputação e as questões de corrupção que vão surgindo que os políticos não resolvem e os tribunais limpam parcimoniosamente.



Se me for permitida uma opinião o problema dos funcionários das finanças nos organismos é o do risco moral.
O exemplo clássico do risco moral é o da pessoa que faz um seguro de saúde e depois corre demasiado e tem um enfarte. O risco moral é a da alteração de comportamento de diligência para fazer as coisas.

No Euro2004 com um fiscal das finanças a controlar as contas deixou de se fazer a avaliação dos estádios para além da despesa pública e do impacto estrito em 2004 o que resultou por exemplo à criação de empresas municipais gastadoras do erário público e incompetentes desportivamente para gerir patrimónios desajustados das estrutura produtiva instalada no terreno.

Há informação económica incompleta no desporto e a generalidade das decisões tomadas no desporto e sobre o desporto procuram soluções de senso comum ou importada por especialistas particulares, como os das finanças, mas que não focam as características peculiares do desporto.

No seio da União Europeia as características peculiares do desporto têm feito o seu caminho com um debate aceso sobre o que é e o que não é desporto dentro dos princípios europeus.

Para as finanças colocar um técnico noutro sector é um investimento porque existe sempre por parte das finanças o problema da informação assimétrica entre o comprador e o vendedor.

É o caso do mercado dos limões. O mercado dos carros em segunda mão tende a ser dominado pela estrutura de informação existente e se por exemplo não houver fiscalizações periódicas os vendedores vão saber mais do que os compradores sobre a qualidade dos carros e os carros em piores condições poderão ser vendidos por preços mais elevados dificultando a venda de bons carros pelo seu preço correcto.

Colocar técnicos nos sectores permite às finanças saber como aplicar bem as suas medidas que não são as mesmas preocupações de eficiência de mercado dos líderes do desporto.

O fiscal das finanças sabe exactamente tudo o que deve ser feito de acordo com a lei para aplicar bem a lei do orçamento e tantas outras, mas não sabe como é que se produz actividade desportiva para um jovem ou um idoso.

O Euro 2004 é mais uma vez um exemplo útil. Foram feitos 10 estádios e muitos de 30.000 lugares porque a UEFA exigia e o Estado se tinha comprometido e as Finanças comprometeram-se com esse programa.

Houve falta de debate frio, democrático e competente sobre o interesse do desporto nacional e se não era melhor Benfica e Sporting e Porto e Boavista jogarem juntos ou se os estádios de 30.000 lugares não podia ter apenas 15 mil lugares e outros tantos amovíveis a desmontar depois do evento.

Este é o tipo de debate sobre o interesse desportivo e sobre o produto desportivo que o desporto não assume e embarca em todo o projecto nacional chame-se Euro2004 ou programa de austeridade da troika.

João Bibe tem uma terceira hipótese eventualmente para corrigir para si ou para terceiros a má imagem deixada na segunda passagem.

Para o desporto poderá ser um novo dar de informação às Finanças e um adiar de criação de um projecto de desenvolvimento desportivo.

O programa do PSD/CDS começa a tomar forma não sendo relevante, agora para as medidas de austeridade, as peculiaridades do desporto e um tratamento adequado sobre onde e como trabalhar para o século XXI.

Com o técnico das Finanças o risco moral vem da parte dos políticos que os nomeiam porque pensam que com funcionários das Finanças o comportamento das outras variáveis como as do óptimo desportivo funciona no melhor dos mundos.

Este pensamento é equivalente àquele do político que usa o direito do desporto para criar um mundo ideal contra os mouros e os corruptos das federações e dos clubes. Depois quando há estatísticas do desporto observa-se que o produto desportivo se mantém insuficiente e na cauda da Europa.

Não se trata de felicitar e de dar os parabéns e de boa sorte a ninguém Caso os objectivos das finanças sejam cumpridos e os do desporto protelados haverá um passivo que se arrastou para o futuro por exemplo o da população que deveria ter consumido mais desporto e não o fez. As finanças irão pagar mais dinheiro na saúde e na segurança social. Mas também isso pode não ser uma perda assumida pelas finanças. Pelo menos será dificil demonstrá-lo porque não vai haver técnicos do desporto a explicarem isso às finanças e depois poderá haver políticos que digam que haverá uma parceria público privada para resolver esse aumento de despesa na saúde.

Fica claro que afinal o modelo do PS é seguido pelo PSD/CDS com a particularidade destes dois último não terem percebido o que se passou há alguns anos atrás nas contas do desporto.

Outra solução que o PSD/CDS poderá repetir é a externalização de serviços como já fez o PS há poucos anos e não ter havido consequências mas ter havido fortes pagamentos dos escassos orçamentos do IDP.

6 comentários:

Anónimo disse...

Caro Dr. Fernando Tenreiro,
O choque e a perplexidade são tais que o único comentário que esta nomeação me merece é a descredibilização total. Tal como nos ciclos da Economia, nos ciclos políticos deveriamos esperar também que se mude o que está mal para algo melhor. Afinal muda o ciclo mas aquilo que de pior teve o ciclo anterior mantém-se. João Bibe foi não só o pior dirigente que o IDP teve, como a nível de carácter e de respeito institucional pelos seus antecessores do mais baixo que pode existir. Aliás, se vierem questionar hoje mesmo os colaboradores do IDP, esse ex-dirigente é muito mal visto por aqui. Como recompensa é premiado pelo partido que mais foi castigado por ele próprio. Se se pensa que isto deve ser visto como independência, desenganem-se. Apenas será visto como mais um tiro nos pés por parte de quem viu o mau serviço prestado por esse senhor na legsilatura anterior.
É MAU DEMAIS PARA SER VERDADE.

Fernando Tenreiro disse...

Caro anónimo,

A posição que expressa não é a que procuro dar no blogue.

Respeito a sua posição e divulgo-a dentro do contraditório das coisas do desporto e da oportunidade que as pessoas terão em várias vidas que vão vivendo.

O contraditório é fundamental até para se perceber que as pessoas quando estão nos sítios poderão passar por entre os pingos da chuva mas que a possibilidade de estar alguém a ver ser muito grande.

Espero que num próximo comentário possamos ser mais consensuais.

Anónimo disse...

Ainda não sei e gostava de saber - porque é de interesse público - por que motivos os sr. João Bibe deixou o IDP. A sua nomeação e indicação para supervisionar a saída do sr. com apelido de peixe é uma caça às bruxas? Uma vingança politica? Queremos saber o que se passou afinal? Alguém tem a coragem do o dizer?

Fernando Tenreiro disse...

Acho que deixou de ter interesse o que fulano fez ou deixou de fazer.

Temos de andar para a frente e estamos condicionados pelo andamento do elo menos rápido.

Alguém que a sabe toda há-de fazer a história.

Anónimo disse...

Viva a impunidade!!!

Fernando Tenreiro disse...

A democracia é você ter a liberdadede dizer viva a impunidade

Ninguém o impede de falar

e se tem mais alguma coisa a dizer diga

eu não tenho elementos nem disposição e é para isso que servem as instituições

se você nãoconcorda com as instituições que existem só tem de procurar alterá-las

os blogues por exemplo servem para isso

divirta-se se ainda não o está a fazer