sábado, 2 de julho de 2011

Os desafios de Alexandre Mestre

Para ter sucesso o desporto depende da liderança pública dada a falência da governance e da eficiência do mercado privado, assim como, da regulação pública do passado.

Há quem suspire por um Alexandre Mestre equivalente a um Laurentino Dias II.

A questão interessante será compreender:
  1. A mão que embala o berço: a sua cabeça ou uma terceira.
  2. O que esperar de um perfil liberal, num sentido positivo, no mais pobre desporto europeu.
Os meus colegas economistas da Europa conhecem-me pelas posições que tomo explicando quais as características do desporto português e da apresentação de ideias que sugerem a riqueza do modelo europeu do desporto pelas características que apresento do desporto português.

Na mesma altura em que Alexandre Mestre integrou a equipa restrita de José Luís Arnaut para fazer o Relatório Independente patrocinado pela União Europeia e pela UEFA, fiz parte dos economistas que relataram a situação do futebol em cada país europeu e que suportou o modelo económico do Relatório Independente.

Na reunião na sede da UEFA, em Nyon, perante alguns dos seus líderes, foram apresentados os relatórios nacionais, cujo caderno de encargos tinha sido distribuído meses antes e que os economistas nacionais tinham respondido. Após a apresentação dos relatórios nacionais outro grupo de economistas serviu de árbitro e criticou e realçou os aspectos princípais dos relatórios nacionais os quais constituíram os contributos económicos para o Relatório Independente.

Posso dizer que o relatório português passou como um dos que interpretou bem o caderno de encargos e abriu algumas expectativas, estando nessa altura Portugal sob os holofotes por via do Euro2004 e da recém-nomeação de Durão Barroso.

Ora o grupo de trabalho de Laurentino Dias não estava à procura de ir atrás destes procedimentos europeus.

Capturou o Congresso do Desporto da sua esquerda e do PCP dando-lhe a imagem de um acompanhamento amigo e companheiro liquidando hipóteses de reforma equivalente à europeia que o Relatório Independente prometia e que, depois, se abriu do futebol a todo o desporto com o Livro Branco, até chegar ao Tratado de Lisboa e à definiçao pela primeira vez no mundo de uma política desportiva para um continente.

Como Laurentino Dias II, Alexandre Mestre tenderá a fazer política sem estudos económicos segundo certa tradição portuguesa de política desportiva.

Caso Alexandre Mestre faça isso estará a negar a governance europeia. As duas alternativas de política desportiva serão:
  1. Gerir políticas estritas (à portuguesa) do ponto de vista administrativo e jurídico facultando rendas que aprofundarão fracturas actuais. A captura de rendas teve com Laurentino Dias uma institucionalização crescente e este modelo tenderá a assegurá-lo.
  2. Assumir o risco de passar à história do desporto português como o Secretário de Estado do Desporto que soube elevar a política desportiva de Portugal ao nível equivalente à política desportiva prosseguida pelos Estados desportivamente avançados do norte e do centro da União Europeia. Afinal a captura de rendas como faz o desporto europeu tem sido bastante melhor para o bem comum, não tem?
Obviamente que a política desportiva do Tratado de Lisboa não tem uma formulação nacional, a qual é encontrada nos Estados do norte e centro como modelos de sucesso conhecidos e que Portugal ainda não conseguiu internalizar e alavancar em seu benefício.

Alexandre Mestre está sózinho.

Alguns ministros do novo governo têm surpreendido pela positiva na Assembleia da República e o que se espera é que Alexandre Mestre esteja à altura dos melhores dos seus pares.

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