quarta-feira, 25 de maio de 2011

O projecto económico Vanessa Fernandes valeu 2 milhões de euros

O caso de Vanessa Fernandes afinal até pode ser uma das características pesadas e bem negativas do desporto português e não ter valor extraordinário por não ser único e ser mais um exemplo comum de uma má característica.

A destruição de um talento extraordinário pode demonstrar bem que o desporto português destrói capital desportivo na pessoa dos atletas jovens e que a estrutura federada não tendo competência há muito que sabe o que faz.

Segundo me conta um técnico de desporto numa acção da natação o conceituado treinador Vasconcelos Raposo terá dito que existe uma especialização precoce e uma saturação do treino com demasiadas horas que destroem a vitalidade juvenil dos nossos talentos na natação e noutras modalidades.

Este facto a ser real e ser conhecido por parte dos treindaores nacionais demonstra um facto que é o da existência de um problema de competência técnica dos treinadores que destróem os atletas jovens e da incapacidade dos treinadores e do modelo para identificarem um problema estrutural e lutarem pela sua modificação cabal.

Os treinadores até alertam para casos de jovens que deram os primeiros passos e depois abandonaram e dá-se o caso de Susana Feitor campeã antes do tempo e de outros jovens que acompanharam Vanessa Fernandes e desapareceram com menos estrépido e principalmente menos desperdício.

A economia ajuda a compreender a enormidade do feito:

Uma atleta extraordinária como a Vanessa Fernandes é um activo desportivo, económico e social que pode ser monetariamente avaliado para quantificar a relevância para o mercado do desporto.

Uma atleta de excepção gera mais-valias significativas e cria postos de trabalhos, para além de ter um contributo positivo para a Balança de Transacções Correntes numa escala que pode varia conforme o sucesso alcançado.

Face à sua juventude esperar-se-ia que Vanessa Fernandes tivesse um percurso longo dos 19 anos até aos 34 anos, na hipótese optimista. Algumas coisas correram tão mal que a jovem arrancou e caiu destruída no primeiro ciclo olímpico.

Se a Vanessa Fernandes pudesse competir até a 2020 alcançando os 34 anos e 4 ciclos olímpicos e se
tivesse ganho 500 milhões de euros no ciclo 2005-2008, então teria uma expectativa de ganhos de 2 milhões de euros de receita bruta.

Acontece que a Vanessa Fernandes ficou destruída ao fim do primeiro ciclo olímpico.

Ganhou apenas meio milhão de euros e perdeu um milhão e meio de euros.

Este é um valor preliminar de uma análise rápida que exige outro tipo de cálculos para alcançar o valor potencial do projecto económico Vanessa Fernandes.

Segundo parece o COP reconhece alguma responsabilidade e quer pagar-lhe 44 ou 45 mil euros, não se percebe a que título e como é que as contas são feitas. Parecem ser feitas em cima do joelho porque não têm uma base técnica mínima. Parece ser uma conta de merceeiro o que tem os seus méritos ao nível da mercearia mas limites evidentes por se tratar de um bem público e por sinal complexo.

Por exemplo, há outros interessados pelas vitórias de Vanessa Fernandes e foram a sua equipa técnica, os clubes onde trabalhava, a federação, o COP e o Estado.

Todos estes agentes e instituições beneficiaram das vitórias impostas que foram destruidoras do talento da jovem.

Há várias questões que estão aqui em causa:
  1. Se há um aspecto limpo neste processo é compreender que a responsabilidade do que se passou não é da família. Tal como quando vamos ao médico a família não interessa e a responsabilidade do que se passa com a cura da doença é dos médicos e das suas equipas e não é da família. Para um atleta de alta competição tudo o que a Vanessa fez e a destruiu foi da responsabilidade das equipas técnicas nos diferentes níveis clube, federação, COP, Estado. Se as equipas científicas e técnicas se deixaram corromper pela família então só tinham um passo a dar e era afastarem-se do processo.
  2. Nenhuma equipa técnica parece ter tido a competência e a capacidade profissional para detectar científica e tecnicamente o que se passava antecipadamente e definir e propor outros ritmos de formação, treino e competição.
  3. As mesmas questões colocam-se ao nível da liderança cujas chefias e responsáveis não tiveram o sentido das responsabilidades do que se passava e não actuou ao nível exigido.
  4. Falando com outros treinadores desportivos nomeadamente os relacionados com as federações, alguns defendem corporativamente o trabalho da equipa técnica e recusam aceitar que o trabalho foi, por exemplo, a levar a instituição Vanessa Fernandes à bancarrota. 
  5. O prejuízo da Vanessa Fernandes pode avaliar-se em valores ainda superiores a 500 mil euros bastando para isso somar todos os prémios directos e indirectos recebidos pela atleta e distribuídos também pelos clubes a que pertenceu e as equipas técnicas envolvidas. Esse valores devem estar na posse da atleta e da sua família. Depois há dois cenários possíveis aceitar que a VF tinha ainda 3 ciclos olímpicos, vindo a ganhar para cima de 1,5 milhões de euros, ou noutro cenário menor com 2 c.o. ultrapassar uma receita de um milhão de euros.
Os 45 mil euros definidos pelo COP não fazem sentido do ponto de vista formal quanto à sustentação da missão e do objecto do projecto Vanessa Fernandes.

Há uma responsabilidade técnica clara dos treinadores portugueses em que existem casos de sucesso como no atletismo com a Neide Gomes e Nelson Évora e no judo e canoagem entre mais algumas.

Não se percebe também de onde saiu o dinheiro que o COP deu e se existe formalização legal para a despesa que não foi explicada publicamente ou se saiu dos cofres do COP segundo decisão da sua Direcção que será solidária.



Onde falha o sistema desportivo actual?
  1. Há que criar projectos complexos de acordo com o produto e o processo produtivo em causa: Vanessa Fernandes é um projecto raro e de extrema complexidade e isso não foi respeitado.
  2. A falha técnica surge como primeiro aspecto porque não teve em conta o longo prazo que deveria ter em consideração o potencial de médio prazo e não a exploração imediata.
  3. A s dimensões jurídicas relacionadas com os direitos de propriedade e as responsabilidades foram / são mal construídas e acumulam à primeira falha.
  4. A análise económica deveria ter sido desencadeada no trajecto para Pequim em 2008 à medida que a certeza do potencial da atleta se aprofundava. A chegada de dinheiro fresco, as páginas dos jornais com publicidade e as multidões deram a dimensão da captura financeira e tapou a protecção à jovem talento e a todo o projecto que deveria ser protegido.
  5. Sem a análise ao erro qde destruir talentos do desporto português e sem o benchmark dos resultados e das desistências internacionais em todo o percurso dos atletas a ilusão do sucesso foi fatal.

Conclusão
O COP como já referi várias vezes não parece capaz de liderar genericamente os destinos dos jovens talentos portugueses.

Há necessidade de fazer investigação e auditorias para compreender o que está mal no alto rendimento nacional e ajudar os agentes privados a tomar as melhores decisões para que estas não aconteçam esporadicamente como acontece nalgumas modalidades mas que os exemplos positivos sejam mais comuns e sustentados.

Não se trata de levar ninguém a juízo mas precisamente trata-se de evitar que os técnicos e líderes desportivos associativos desportivos cometam mais erros do que os que estão a ser regularmente cometidos sobre os jovens atletas e talentos nacionais e também que venham a responder em tribunal pelas consequências negativas de alguns dos seus actos.


Como se demonstra de novo, numa nova matéria o trabalho de renovação do desporto é grande em profundidade e extensão.

O modelo do desporto português está falido científica e tecnicamente, juridicamente e os resultados ecoonómicos criados são frágeis e soçobram na primeira contrariedade.

Os dinheiros ganhos actualmente são os do fracasso e não se comparam aos milhões que seriam o sucesso económico do desporto português potencial.

O défice ainda é maior porque para além dos cortes orçamentais e má condução técnica e de liderança que destrói carreiras vale no caso do projecto de VF, pelo menos, menos 1,5 milhões de euros de capital desportivo e social destruído por incompetência ou negligência ou avidez.

O valor de Vanessa Fernandes não tem custo é um custo imenso.

Esta matéria não está esgotada.

Sem comentários: