sexta-feira, 20 de maio de 2011

O desporto estará na bancarrota como o país?

Talvez as perguntas a fazer sejam:
1. Onde estamos?
2. Como chegámos aqui?
3. Como saímos daqui?


Onde estamos?

Estamos no fim da Europa ou no topo da tabela invertida em vários indicadores de produção desportiva.


As leis não salvam os clubes e as federações da bancarrota. Nunca houve tantos clubes e federações falidos, tantas infra-estruturas novas e velhas com limitações financeiras, sem resultados olímpicos ao nível de JO anteriores. A investigação no desporto é claramente insuficiente. O direito do desporto são actos legislativos ineficazes que prejudicam os agentes desportivos. Bancos nacionais e outros empresários nacionais perdem dinheiro porque o potencial do produto desportivo está abaixo do seu óptimo e a captura de lucros financeiros para o actual nível de massa crítica desportiva cria 'tragédias dos comuns' no seio da actividade das federações. Perdemos a Ryder Cup e continua a não existir uma política de eventos, como continua a não existir uma política de infra-estruturas ou do associativismo de base ou do desporto escolar ou dos talentos ou do que quer que se fale de desporto. A reputação de Portugal é positiva no que respeita aos atletas e aos técnicos e será incapacitante por parte dos líderes. Os partidos políticos estão a leste das necessidades e futuro europeu do desporto português e não o escondem nos programas partidários às eleições de 5 de Julho. O desporto escolar tem níveis de prática que são uma vergonha/são pobres a nível europeu. No seu todo a reputação do desporto está mal e o desporto não trabalha em parceria com outros sectores nem internaliza pelo menos parte dos benefícios externos que vai gerando.



Os factos demonstram que as políticas desportivas não potenciaram e prejudicam o desporto português.
Vamos aos factos:
1. Um partido fala do passado das suas políticas, o PS, outro foca alguns aspectos sem aprofundar, o PSD, outros nem falam do desporto, CDS, BE e PCP.
2. Amadora, Leixões, Setúbal, Belenenses, Leiria, Benfica (será que as centenas de milhões de débito são bancarrota ou ainda não), Sporting (?), Porto (quem sabe?), etc. Se estes clubes não são importantes ou a sua falência não pode ser evitada, então o que é que interessa mais no desporto português?
3. Se os dados que o Benfica refere forem verdadeiros então existe uma apropriação dos direitos de transmissão televisiva que com outra racionalidade nomeadamente com a negociação de direitos televisivos centrados na Liga dariam outros resultados financeiros ao futebol profissional.
4. O desporto escolar vale menos de 10%, com as federações a prática dos jovens portugueses chegará aos 30% e a Catalunha esforça-se por elevar a prática dos seus jovens a 70% dos seus jovens.
5. A falência desmentida da empresa João Lagos e as dificuldades que os ginásios e academias sofrerão pelo alastrar das crises e das medidas de política que os afectarão directamente.
6. Trampolins e Vela serão modalidades olímpicas falidas. Se estas federações não são importantes ou a sua falência não pôde ser evitada, vale a pena fazer alguma coisa por alguma outra federação?
7. A Canoagem está pujante, o Judo ganha medalhas e dá-nos esperança com sangue, suor e lágrimas, o Atletismo é a expectativa do medalheiro garantido, o Triatlo a aprender por si próprio e a recuperar dos seus excessos passados.
8. Os actos legislativos que se passam com o IVA e com o Desporto Escolar, por exemplo, atingem os produtores e os consumidores de desporto que deviam ser claramente protegidos porque sem eles a produção de desporto português só pode descer.
9. As conferências de desporto não focam directamente a crise, tratam matérias e esquecem de equacionar e debater o fundamental com os melhores de diferentes áreas científicas, partidárias e institucionais com valias claras no pensamento de rotura do modelo vigente.
10. Há técnicos de desporto que produzem resultados extraordinários como serão por exemplo André Villas-Boas e Domingos Paciência e que com outras condições nacionais assegurariam ao desporto outros resultados de desenvolvimento sustentado.



Como chegámos aqui?

Face aos factos que aparecem todos os dias nos jornais há uma limitação de liderança nas federações e nas instituições desportivas nacionais.
O modelo de desenvolvimento, prosseguido pelas medidas de política desportiva, não teve em conta o processo produtivo e a sua racionalidade.
As leis, todas fantásticas, fazem-se à medida das personalidades no CND. Houve o tardio Congresso do Desporto que marcou o meio da legislatura tendo as pessoas sido ouvidas, discutiu-se pouco e sem profundidade, não houve documentos escritos com as conclusões e depois ninguém quis cumprir o que se disse no Congresso, nem verificar se se estava a cumprir e porque é que os resultados estavam ou não a ser alcançados.
Sem objectivos, sem medidas e sem análises e investigação direccionada para a produção, qualquer coisa que se fizesse e se faça era e é uma coisa feita como se fosse boa.
Nem tudo é bom, como os múltiplos fracassos demonstram.
Segundo me dizem presidentes de federações nos últimos 6 anos foi importante ter garantido o financiamento mesmo que com alguns atrasos.
Isto é um erro porque se baseia no óptimo de qualquer dinheiro que chegue.
O dinheiro óptimo é aquele que permite o desenvolvimento sustentado, não é o dinheiro que chega e corta as actividades das federações e isto acontece há décadas e sem responsabilização mútua.
Se o dinheiro chega e não é o suficiente para o desenvolvimento sustentado então o dinheiro que chega não é bom! Instala a incerteza, leva ao desemprego e à falta de concentração dos técnicos e atletas de elite.
O erro dos presidentes das federações e dos líderes desportivos onde está?
O que é relevante e deve ser claramente definido é a estrutura de metas de produção desportiva nacional direccionada para os diferentes segmentos de produção desportiva.
Vamos desinfectar a ferida para vermos a natureza da lesão.
A falência de federações como a Vela, agora que tanto se fala do Mar português, e dos Trampolins cuja emancipação se deu com a rotura da Ginástica, o que nunca deveria ter acontecido ou se aconteceu era porque alguma coisa estava mal e não foi evitado e solucionado superiormente, a falência destas federações sugere que eventualmente o dinheiro do Estado que está a ser dado às federações tem erros profundos de concepção e de execução de política desportiva e talvez fosse de equacionar a racionalização da estrutura federada nacional.
Por cada corte que se faz sem nunca se conceber qual é o interesse da federação, sem o fundamento do óptimo, o que verdadeiramente se faz é levar mais um pouco, pela mão dos actuais líderes, a federação para a bancarrota, para o 'ai Jesus', para a tentação de enganar e apanhar com as finanças.


Existe uma política pública que os líderes desportivos aceitam sem discutir com propriedade em relação às consequências reais dessa mesma política.
Isto é a falência da política desportiva. Isto não deveria ser aceite! As federações desportivas portuguesas deveriam ter órgãos que os defendessem destas situações e não têm!
Com isto sugiro que se discuta o que é fundamental no objecto social das federações nacionais e o que é lateral e tudo deve ser apurado.
O dinheiro que satisfaz os presidentes das federações desportivas portuguesas é o mesmo que estará a levar o desporto e as suas organizações à falência.
Olhar apenas para os seus interesses e das suas federações é vital mas seria relevante e prioritário deixar de ir ao fundo com a crise e com os seus promotores.


Como sair daqui?


O desporto tem de trabalhar com o Governo de maioria para melhorar o programa partidário que está voltado para o passado, o que pode ser melhorado e os que simplesmente inexistem.
A única saída é o debate mais largo do que o Conselho Nacional do Desporto, baseado em princípios que atentam à população, aos praticantes regulares e irregulares e aos atletas de todos os níveis e capacidades.
Estes debates relevantes não podem ser apenas os feitos por alunos e na procura de visibilidade da 'beautiful people' das legislaturas dos últimos 30 anos e deve centrar-se nos fundamentos do desenvolvimento sustentado, na concepção europeia, para depois ser escrutinada científica e tecnicamente, havendo a motivação de corrigir o que vai aparecendo e que está mal.
A única saída é elevar o debate respeitando a natural diferenciação de qualificações dos líderes desportivos em que alguns são capazes de antecipar cenários de maximização social e outros ficarão pelos cenários de maximização dos seus benefícios privados, pessoais ou associativos. Mas é importante conceber estes cenários até para compreender que a geração e acumulação de capital desportivo, financeiro, económico e social é possível, assim como é importante conceber qual será a repartição óptima e possível desses mesmos benefícios.

É preciso coragem e capacidade de liderança ou o futuro próximo será equivalente ao fracasso actual perante uma austeridade inexorável que o país vai viver nos próximos anos.

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