domingo, 8 de maio de 2011

O Estado deveria fazer um estudo sobre o futebol ou melhor ainda um Livro Branco sobre o desporto português

As outras modalidades estão convencidas de tudo o que lhes dizem sobre a maravilha da política desportiva nacional ficarão preocupados quando a Liga de Clubes de Futebol apresentar o seu estudo.

Mas o relevante é que o estudo da Liga vai de facto trazer as preocupações privadas do futebol e colocarão essas preocupações como objectivos públicos que interessam a todas as modalidades.



A história não é nova e temos comportamentos diferentes na União Europeia e na Austrália e em Portugal.
A União Europeia fez um estudo em parceria com a UEFA, o Relatório Independente (Arnaut). As outras federações criticaram o RI e a União Europeia fez rapidamente o Livro Branco onde aprofundou o trabalho anterior e manteve a estrutura e a formulação de política desportiva.

Na Austrália o Governo vai fazer um estudo sobre o seu futebol. Ver aqui. Trata-se de um estudo sobre o mega-evento da Taça da Ásia e que o Governo analisa os problemas de toda a modalidade.

Nos anos mais recentes a história em Portugal foi a destruição dos poucos esforços privados e não criação de estudos e análises por entes públicos sobre a produção desportiva nacional. Vejamos o exemplo da Liga de Clubes.

A Liga de Clubes fez há anos um estudo económico sobre a arbitragem que suportava o modelo da arbitragem liderado por Vítor Pereira o qual considerava ser o adequado para Portugal de acordo com o modelo da FIFA e UEFA que ele conhecia bem, como melhor árbitro nacional.

Quando o estudo foi apresentado na Alfândega do Porto Houve quem criticasse e disse que se procurava dar um passo maior do que a perna e que ia fazer diferente. Nada fez ao fim destes anos todos. A história restante é conhecida:
  1. A arbitragem da Liga foi queimada em lume brando pelo campeonato dos clubes profissionais falidos e pela comunicação social com as pequenas histórias de cada jogo;
  2. A federação não desenvolveu um novo modelo de arbitragem;
  3. Outros focos de instabilidade que podiam ter sido analisados e solucionados como a violência, a corrupção, a falência dos clubes, o fracasso das selecções de futebol e a sua reputação dão sinais para a sociedade negativos continuados.
Na perspectiva pública os elementos que interessa analisar são:
  1. O futebol português tem uma base social de apoio magnífica nacional e internacional;
  2. O futebol português pode chegar ao milhão de praticantes federados (desde que se equaciona assumir essa meta) e apenas tem 150.000;
  3. Os clubes de base, os clubes amadores pagam salários a amadores estrangeiros estão falidos e necessitam de aumentar o número dos seus praticantes e de resolver o problema dos amadores remunerados;
  4. Não há dinheiro público para dar prática formal através dos ginásios, academias e escolinhas à maior parte da juventude portuguesa, mas é através destas organizações que os actos de política se orientam colocando a racionalidade do edifício de produção do futebol de pernas para o ar;
  5. Na prática profissional há contradições relacionadas com os direitos de propriedade do associativismo desportivo que está a ser expropriado pelos agentes e pelos comportamentos liberalizantes que impedem a criação de uma massa crítica de capital humano, social e organizacional única capaz de sustentar quer o desporto profissional e a geração sustentada de capital financeiro nos clubes na I Liga, quer o aumento do produto apropriado pelos sectores a jusante consumidores de conteúdos relacionados com a comunicação social, o marketing, etc, quer a transfiguração das selecções nacionais de futebol.
Ou seja, o mais fácil seria o Estado fazer um Livro Branco do Desporto português para todas as modalidades, como fez a Europa.

Alguém virá dizer mas isso é o que é feito no Conselho Nacional de Desporto.

Ora isso não é correcto porque o que faz o CND nada é público.

A União Europeia e todos os países desenvolvidos do mundo que fazem estudos anunciam publicamente o que fazem e quem o faz. O CND tem um regime de concobinato naturalmente sigiloso e incapaz de resolver os problemas do país.

A União Europeia tem reuniões com os agentes privados do desporto europeu e tem uma base científica nos documentos de política que faz, que se sustentam em estudos e todos são do domínio público.

Os trabalhos da CND não se conhecem e quando as consequências dos seus putativos actos chegam ao domínio público verifica-se que são uma miséria para o interesse dos praticantes e dos agentes menos influentes e os grandes contentam-se com as migalhas que lhes chegam às mãos. Toda a situação é por demais deprimente e degradante e todos estão contentes dentro e fora do CND.


Quanto ao estudo da Liga de Clubes de futebol é mais provável que alguém faça o mesmo que já fez com Hermínio Loureiro, ex-presidente da Liga de Clubes e com Vítor Pereira presidente da arbitragem profissional.

Quando Fernando Gomes, actual presidente da Liga de Clubes, apresentar o seu estudo da I Liga virá alguém queimar o estudo e dizer que para nada serve e não vai apresentar nada em alternativa, prejudicando objectivamente o futebol e os agentes privados para toda a legislatura e mais uma década de divergência europeia.

Criticar por criticar sem a assumpção de fazer e dar a cara pelo feito é o que se faz.

Mas em Portugal remunera destruir o trabalho alheio, em particular o económico e o social, e se quando se tem a jactância de atentar contra o trabalho do melhor árbitro português, o que é que não se será capaz de fazer mais?

Com a crítica feroz ao estudo de Vítor Pereira destruindo o seu suporte técnico e económico a mensagem que se passou foi: se no desporto português vocês fizerem estudos económicos eu irei destruir o que fizerem.

O país tem 20% de pobres e pessoas com fome e 40% de pessoas que não pagam IRS, ou seja uma percentagem acumulado de 60% de população carenciada de desporto e houve a coragem de durante os últimos anos não se fazer o mínimo estudo sobre as características sociais e económicas da prática desportiva nacional.

Os líderes do desporto portugueses não têm a mínima ideia do que é que estão a fazer e quais os impactos das medidas que negociam.

Sem comentários: