domingo, 1 de maio de 2011

Como dinamizar o debate das políticas: o exemplo europeu e o português

I
A Europa nos anos sessenta verificou que o desenvolvimento desportivo lhe colocava questões sociais e através do Conselho da Europa encomendou estudos sociológicos.

Na década de setenta começaram a a surgir questões jurídicas entre as relações comerciais de agentes desportivos de países diferentes e a Europa iniciou decisões de índole jurídica.

Nessa altura chegaram as crises petrolíferas que alteraram a relação fiscal dos contribuintes europeus com a despesa pública em desporto e que impedia a realização dos objectivos sociais que a Europa desenvolvia há duas décadas e uma vez mais o Conselho da Europa foi chamado a responder às necessidades do desporto desta vez no domínio económico.

Assim se chega à década de noventa quando, já para o seu final e depois do Caso Bosman, a União Europeia constata pela primeira vez que o desporto é um mercado peculiar e pensa que os países não respondem por inteiro às necessidades de produção desportiva europeia por falhas no produto e na regulação nacional e faz um estudo sobre o mercado desportivo mais relevante.

O Relatório Independente, liderado pelo português José Luís Arnaut, equaciona as relações entre o futebol e a União Europeia. As outras modalidades recusam a futebolização e a União Europeia faz o Livro Branco e com esse documento lança pela primeira vez uma política desportiva de um continente, o europeu.

Actualmente a União Europeia contrata estudos a instituições universitárias em múltiplos domínios nomeadamente na sociologia e na economia.


Aqui chegados deve ainda acrescentar-se que a consistência das políticas europeias foram acompanhadas pelas universidades que responderam aos incentivos da União Europeia e depois fortaleceram as áreas de investigação nacional e são as mais activas que acompanham as actuais e continuadas solicitações europeias.

Acrescente-se que as federações europeias de desporto nacionais e continentais, são interessados activos no produto da investigação incentivando e beneficiando dos seus resultados.

Este processo europeu é claramente incentivado pelo Estado desde há mais de cinquenta anos.


II
Mirandela da Costa e João Boaventura, e a operacionalização de Manuel Boa de Jesus, foram dois líderes desportivos que colocaram Portugal durante os anos oitenta e início de noventa no panorama dos estudos europeus nas diferentes áreas do conhecimento. Houve uma participação alargada de dezenas de quadros nacionais nas reuniões europeias, foram realizados estudos que nunca mais se fizeram com a mesma intensidade em novas áreas do conhecimento, traduziram-se livros, manuais, fizeram-se conferências.

Depois deste período tal como na Europa as universidades acumularam de forma exponencial massa crítica nas ciências do desporto que perdiam, contudo, o contacto com a política nacional e a europeia.

Recentemente fazem-se tropelias como partidarizar a participação em conferências temáticas e onde pontificam juristas obviamente ignorantes das múltiplas áreas da ciência do desporto mas que por razões estranhas ao interesse do desporto nacional vão às reuniões e não fazem como se fazia nos anos oitenta e noventa em que havia relatórios das deslocações e documentos europeus que circulavam.


III
Hoje a Europa vai à frente e bem segura na criação de instrumentos de política desportiva novos, adequados ao continente mais competitivo do mundo, que os países europeus acompanham participando nos projectos, nas conferências temáticas e no incentivo à investigação em ciências do desporto intimamente relacionadas com as políticas para o desenvolvimento sustentado do desporto europeu nacional e continental.


IV
Sistematizando, há vários níveis e parceiros de intervenção no desenvolvimento das ciências do desporto e no debate da política desportiva nacional:
1.      O Estado é fundamental para promover o conhecimento novo que responde exactamente às necessidades do desenvolvimento desportivo nacional face aos objectivos nacionais e aos princípios definidos para o desporto europeu;
2.      As universidades para incentivarem a investigação nas suas instituições segundo as normas científicas que as colocarão entre as melhores;
3.      As organizações associativas e empresariais na resposta às oportunidades de mercado e da sociedade e na colocação de desafios ao Estado para a sustentação de novas áreas e nichos de produção desportiva portuguesa;
4.      A comunicação social tem um papel relevante mas que responderá primeiro aos seus objectivos sociais. Não têm que ser altruístas em relação ao desporto porque os seus objectivos serão a maximização do seu lucro e não o desenvolvimento desportivo. O Estado e o associativismo poderão ter um papel relevante neste domínio;
5.      Os blogues são elementos que as universidades e os líderes desportivos não aproveitam suficientemente porque os 4 pontos anteriores apresentam limitações e não alcançaram o seu potencial.

V
Mirandela da Costa e João Boaventura foram líderes que responderam às necessidades do desporto no seu tempo e cujo exemplo se mantém como uma referência para o futuro.

Sem comentários: