quarta-feira, 4 de maio de 2011

Alguém deveria ter a ética de assumir a promoção do bem-estar nacional através do desporto

O Memorando de Entendimento, ver documento aqui, assinado entre a Troika e Portugal deveria alertar os líderes desportivos para o facto do desporto, quer queira quer não queira, ir mexer como nunca aconteceu no passado.

E o filme diz que vai mexer para pior.

O poste de José Manuel Constantino, aqui, mostra como as coisas más abundam referindo-se à má reputação do desporto e da administração pública, nomeadamente à crise da justiça, realça/alerta para a necessidade da defesa do interesse público e deixa a preocupação que apontam para melhores instituições no desporto.

Pelo seu lado o Memorando da Troika não fala do desporto como não fala da cultura.

Mas o Memorando vai afectar o produto desportivo e o da cultura tanto o produzido pelas organizações privadas como a actuação dos entes públicos.

A questão relevante é a necessidade do debate no desporto se voltar para o presente/futuro que aí está com toda a sua força e que o desporto não está a acompanhar.

É uma coincidência do arco-da-velha que a cultura receba 5 milhões de euros, e o desporto com 15% descontados às maiores federações se aproxime deste valor.

A questão relevante que subjaz ao poste de José Manuel Constantino é a questão das instituições do desporto que são frágeis.

Alguns factos demonstram como o desporto, com más instituições, perde o pé relacionado por exemplo com a perda do Tribunal Arbitral para o Ministério da Justiça à revelia do que acontece na Europa, com as dificuldades de distinguir juridicamente se as organizações desportivas são privadas ou públicas e agora a perda de 5 milhões de euros que por coincidência a cultura ganha.

Para encontrar um paralelo que o desporto poderia imitar veja-se que a ascendência da cultura começou nos anos noventa e enquanto o desporto se entreteve com o Euro2004 e malbaratou o capital aí conseguido com o sucesso desportivo, a cultura obteve maiores financiamentos e programas estruturais. Pode dizer-se que efectivamente os dinheiros dos estádios foram pagos pelas outras federações desportivas.

Os 15% são uma amostra da porta aonde o desporto vai bater violentamente.

Economicamente o desporto português está falido querendo com isto dizer que as suas organizações não têm estrutura, competitividade e agora acumulam a falta de reputação que lhes impede obter recursos e factores de produção na sociedade portuguesa.

A média do PIB desportivo europeu é de 2%, correspondente a mais de 8 mil milhões de euros se se aplicar a percentagem ao PIB nacional. O desporto português tem menos de 0,36% equivalente a 1,5 mil milhões de euros. Estes valores demonstram como a filosofia ou o modelo de produção de Portugal é ineficiente e impossível de ser rentável em termos europeus e necessita de ser alterado para que as organizações privadas desportivas trabalhem com o mercado privado e não estejam sob a dependência dos governos. É impossível qualquer governo nacional alcançar a dimensão de financiamento desportivo que os mercados privados geram.

O desporto português não tem instituições capazes de fazer a mínima análise económica capaz e serão escassos os líderes capazes de assumir decisões competentes e competitivas caso sejam produzidos os instrumentos económicos necessários à racionalização da produção desportiva nacional para a média europeia.

De momento, o desporto não está preparado institucionalmente para compreender a sua realidade tanto desportiva, como económica, como social e face ao desvio que sofre da média europeia, não tem meios organizacionais e científicos para conceber um modelo novo e para equacionar soluções que compaginem e maximizem o seu interesse com o do país.

Era tempo de haver coragem e ir bastante fundo para encontrar a melhor saída para a crise do desporto.

Como se observa no Memorando e nos documentos da União Europeia a deriva e afastamento do desporto português não terá uma tábua de salvação miraculosa ou de última hora.

Ou o desporto tem a coragem de afastar desentendimentos pessoais e menores que marcaram o seu passado e responde a uma voz a estes imensos desafios ou vai cair fundo.

Eventualmente haverá agentes particulares a passarem por entre os pingos da chuva o que corresponderá a posições medíocres do ponto de vista do óptimo social europeu porque o seu lucro vai acompanhar a quebra mais geral do sector.

Ou o desporto se salva todo e por inteiro ou vai tudo ao fundo com os realmente pequenos ganhadores do costume.

É agora que o desporto português mais necessita de líderes de enorme dimensão ética, desportiva, social e política.

O desporto português descolou da Europa e está seguramente a descolar do país.

O desporto irá mais fundo do que os outros sectores com destaque para a cultura como os exemplos actuais bem demonstram.

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