quinta-feira, 5 de maio de 2011

Na Grécia antiga Cronus e Rea comiam os filhos quando estes nasciam

Rea para proteger o sexto filho, Zeus, esconde-o nas montanhas de Creta com o apoio de Cretans e a cabra sagrada Amalteia alimenta Zeus no início da sua vida.


O facto de Portugal não estruturar claramente um projecto de usufruto do desporto para a maior parte da sua juventude é um exemplo próximo da lenda grega.

Nos últimos vinte anos Portugal recusa-se a cativar e canalizar para a sua juventude os meios necessários (humanos, monetários, organizativos, científicos, ...) e objectivamente alimenta-se do que não atribui à sua juventude impedindo a sua juventude de crescer e prosperar a 100%.

Portugal não concebe definir a necessidade de financiamento para a prática desportiva de toda a sua juventude e não considera como intocáveis os meios destinados a elevar o usufruto pleno e potencial de desporto da sua população jovem ao nível da Europa ou ao nível dos seus mais ambiciosos objectivos neste domínio.

Cronus rever-se-ia no comportamento dos portugueses. Como somos deuses podemos alimentar-nos dos alimentos dos nossos filhos e não somos europeus.



É nesta contradição que melhor se materializa o Estado Exíguo definido por Adriano Moreira.

A contradição é entre as necessidades da juventude e a inépcia desportiva nacional, pública e privada, no que respeita a um domínio que deveria ser intocável e primordial como a juventude.

Portugal alimenta-se desses valores sagrados em vez de os aplicar nos seus filhos e dar o gozo da prática desportiva a todos sem excepção.



Os eleitos que lideram o desporto escolar são orgulhosos dos menos de 10% dos jovens que praticam desporto, mesmo quando lhes dizem que na Catalunha são 70% os jovens em idade escolar a usufruir de desporto.

Há duas décadas que as políticas desportivas para a juventude falham e os governos nada fizeram de efectivo para fazer crescer a participação dos jovens para valores europeus. O Estado aumentou os subsídios e os resultados continuaram a não aparecer primeiro com o Totoloto e depois com o Euromilhões. As federações não se interessaram o bastante para assumirem a liderança da produção desportiva de base actuando em parceria com escolas, autarquias e clubes.



 

Necessitamos que a troika chegue ao desporto português para podermos passar de adoradores de Cronos, a europeus e cidadãos do mundo que amam, protegem e potenciam a sua juventude também através do desporto.

Tal como o país só a troika poderá dar ao desporto a cabeça que não tem com os princípios, os instrumentos e a perseverança necessária para alcançar a média europeia apesar das medidas de austeridade que aí estão.

Sem a adequação das medidas da troika ao desporto a situação que me serviu de ilustração, de absoluto desajustamento entre as necessidades da nossa juventude e o que foi atribuído a inúmeras gerações de jovens portugueses durante os últimos vinte anos, irá tornar-se ainda mais insuportável se nos tornarmos europeus com as medidas que a troika aplicar a outros sectores.

O desporto europeu e mundial evoluiu e talvez a troika consiga regular o desporto nacional para manter os jovens no desporto, combinado acordos vantajosos entre a pluralidade de parceiros relevantes, para elevar a prática desportiva dos nossos jovens rapidamente aos 70%.

As regras da troika deveriam proteger o jovem e a sua prática desportiva, deveria ser exigente quanto às responsabilidades das grandes instituições do desporto e da educação e também envolver responsavelmente toda a estrutura associativa e a empresarial, deveria exigir transparência e ser severo na protecção dos direitos dos jovens e na correcta aplicação dos recursos destinados ao sector, assim como, na auditoria e apreciação periódica dos resultados. Por fim a troika deveria criar novos poderes no desporto e eventualmente na sociedade para ajudar os responsáveis a controlar futuras crises na produção de desporto para os jovens portugueses.

Apesar do que digo, acho mesmo que só com a troika a acompanhar.



Como certos líderes nacionais vivemos no reino do subliminar e do oblívio onde os outros povos concebem a vida dos seus deuses bárbaros.


Há coisas que não devia ser necessário ninguém exaltar-se para serem feitas.
E não vai ser por alguém se exaltar que serão feitas, nem que seja algo primordial como a juventude de Portugal.

Mas porque somos deuses necessitamos de troikas.

Atentamente de Vossas Excelências

Fernando Tenreiro

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