domingo, 29 de maio de 2011

O desporto continua parado ou talvez 'a falar sozinho'

A entrevista do Público a dez personalidades da Cultura, que sublinhei partes aqui, dá a dimensão da dinâmica do sector, onde a partir do manifesto feito ainda no fim de 2010 foi patente uma posição pública e quando o PSD sugeriu o fim do ministério cada vez mais agentes e instituições opuseram-se e discutiram a proposta, ao ponto de assiduamente surgirem artigos sobre o sector.

Politicamente o conjunto das preocupações são relevantes e um exemplo para o desporto olhar e pensar o que faz.

Há poucas semanas o Governo atribuiu 5 milhões de euros à Cultura ao mesmo tempo que anunciou tirar um montante próximo ao Desporto. Porém, nota-se que apesar desse benefício a Cultura não se calou como o desporto se cala.

Raros são os agentes culturais a exigir o desenvolvimento sustentado que se ouviu apenas no debate promovido pela Sedes e Diário de Notícias e nas dez personalidades o conceito de desenvolvimento sustentado e da promoção cultural de base não foi colocada.

Também no Desporto pouco se fala da produção desportiva de base.

Segundo se afirma os grandes teatros e orquestras possuem estrangeiros o mesmo que os grandes clubes de futebol demonstrando afinal que é possível encontrar similitudes para além da distinção possível entre os dois sectores.

As modernas sociedades e economias vão viver de sectores como a cultura, o turismo, as indústrias criativas, o ambiente, a inovação, o ensino superior e o que acontece é que se o desporto português quiser fazer parte destes sectores do século XXI terá de andar mais depressa e melhor do que o que tem feito.




A chave da produção desportiva é maioritariamente a população portuguesa e o seu maior valor não está ao nível da produção de bens transaccionáveis para equilibrar as contas externas de Portugal. Quase 50% da população não tem condições para pagar o seu consumo mas deve seguramente consumir desporto para ter um menor impacto nos custos de saúde e conseguir maior produtividade no seu trabalho e bem-estar social nacional. O contributo do desporto está directamente relacionado com o balanço social e com a produtividade nacional, assim como, as economias geradas na educação e na saúde.



Quando o Estado português investe continuadamente em infra-estruturas desportivas sem se aperceber do limite dos investimentos que faz e prejudica materialmente a produção de base, as condições de trabalho tanto do associativismo desportivo como das empresas de desporto soçobram.

Em 6 anos o desporto gerou 9 mil milhões de euros de produto (1,5 mil milhões de euros por ano vezes 6 anos) o que demonstra que a importância do desporto é grande por ser superior ao valor de vários aeroportos, auto-estradas, submarinos e tudo o mais que faz as cabeças dos políticos portugueses andar à roda.


Com uma dimensão económica tão grande a pergunta a fazer talvez seja se a lista de obra do PS às eleições de 5 de Junho não podia ser ainda maior...


Quando se relativiza o valor do desporto no PIB verifica-se que ele está abaixo de 1% e muito longe dos 2% do PIB europeu.

Por outro lado, se o Estado cobrasse 6% de IVA a todo o desporto conseguia arrecadar valores da ordem dos 90 milhões de euros que é superior aos mais de 60 milhões de euros que o desporto vai recebendo anualmente. Se o Estado passar a cobrar 23% de IVA muita gente vai deixar de praticar desporto, outros vão passar a não passar facturas e aqueles que não se importarem de pagar mais pela prática desportiva são os mais ricos.

As contas das finanças poderão ter sido vir a obter 300 milhões de euros de IVA do desporto a 23%.

As finanças 'não percebem nada de desporto', e essa questão não é importante porque deveria haver pessoas capazes de lhes dizer como é que se maximiza o produto no mercado desportivo. Deveriam dizer-lhes para e onde investir no desporto mas como não há ninguém que lhes demonstre esta realidade nos jornais, nos blogues, nas conferências das faculdades de desporto, nas negociações entre agentes privados e públicos é possível que medidas economicistas como o aumento do IVA sejam apetecíveis.


A lista de obras feitas mostra que as pessoas até trabalharam o que será a justificação para a aplicação de mais de quatrocentos e cinquenta milhões de euros de despesa central em seis anos mas o relevante seria ter a percepção clara do que está a resultar com despesa custo eficiente e do que são pontes no deserto, ver aqui.



Quando o PSD esteve no Governo fez o Euro2004 de acordo com o definido e respeitando os compromissos de governos anteriores e teve dificuldade em fazer muito mais, deixando pelo menos a atribuição de dinheiros às federações pelo COP o que constituiu um passo significativo no imobilismo económico do governo do desporto dos últimos 30 anos.


Agora o Governo de Maioria terá de ser politicamente aberto e transparente incutindo uma dinâmica de eficiência e de desenvolvimento sustentado se quiser que o desporto consiga fazer face às medidas de austeridade e simultaneamente crescer em direcção à média europeia.


Em termos económicos muito mais há a fazer quer na agência técnica do Estado para o desporto quer quanto aos líderes federados COP e CDP.

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