segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Vindo de quem vem, o alerta é pertinente

Luís Marques Mendes no Correio da Manhã de hoje, página 2, ex-líder do PSD, fala da estratégia desastrosa dos maiores clubes nacionais nas suas políticas de contratação de jogadores para a nova época.

As suas últimas palavras são:

«As suas decisões situam-se no mesmo plano das políticas erradas que o país seguiu nos últimos anos. Só que falta saber qual a troika que vai pôr ordem nesta desordem. Do que ninguém duvida é que, pelo andar da carruagem, o desastre é inevitável.»

Pode acrescentar-se que já não é apenas o facto do desastre das políticas dos clubes é também a imagem que LMM capta do que andam a fazer os expoentes do desporto português e dos impactos sobre todo o desporto e das soluções para a crise actual.

6 comentários:

joão boaventura disse...

Caro Fernando

O alerta não vem só de quem vem. O que abunda em alertas neste país, como neste blog e no Colect. Desp., excedem em muito as necessidades de alertas, destinados a esbarrar em cegos e em ouvidos moucos.

Nem sei se vale a pena alertar porque o peso de Luís Marques Mendes acaba por ter o mesmo peso dos blogs que se desunham a chamar a atenção, dentro dos moldes moderados, uns, exaltados, outros.

A explicação plausível reside no facto de as visões de quem está por cima, no poder, são diametralmente opostas às dos que alertam e apontam descaminhos.

Os corredores do poder são muito complexos, têm muitos nichos alimentados pela burocracia e, acima de tudo, condicionados pelos velhos e revelhos parcos recursos que ao desporto concedem.

Os parcos recursos são-no intencionalmente, se se considerar que em outros âmbitos até sobram, pelo que aquela velha explicação também não colhe.

Relativamente à esperança de novos dias, não se vislumbra melhoria, pese o ar de seriedade com o novo governo se nos apresenta, porque os corredores do poder continuam a abusar do poder.

Contentemos em continuar a alertar em vão porque vozes de burros, como a minha, não chegam ao céu.

Não basta uma prisão para se ser condenado.
Todos nós somos condenados sem estarmos na prisão, porque a nossa prisão é estarmos atados ao alerta.

Um abraço

Fernando Tenreiro disse...

Caro João

Tenho a ilusão que mesmo o alerta é uma função social útil e alavancadora de vontades.

A célebre Maioria Silenciosa existe e em múltiplos domínios não só os de nefanda memória.

O desporto tem uma maioria silenciosa que faz o que lhe mandam e sabe que 'se meter com aquele cujo nome não se pode pronunciar, leva'.

Vamos pois alertando

Um abraço

joão boaventura disse...

Caro Fernando

A maioria silenciosa, no fundo, continua silenciosa, porque é uma viagem sem retorno nem paragens.

Estamos condenados a permanecermos, e a contentarmo-nos com a, maioria silenciosa.

Repare que ao fim de seis anos de maioria silenciosa, o governo esbanjou fortunas, arruinou-nos, e colocou num canto da sala o desporto, com a permanente e rebarbativa etiqueta "escassos recursos".

Posto este país nas mãos de um troika que vem ensinar como extorquir esmolas aos pobres para manutenção da riqueza dos ricos, faz lembrar a premonição de Eça de Queiroz:

"Eu creio que Portugal acabou. Só o escrever isto faz vir as lágrimas aos olhos, mas para mim é quase certo que a desaparição do reino de Portugal há-de ser a grande tragédia do... século."

E a maioria silenciosa não tem forças para impedir a premonição de Eça.

A premonição é como um cutelo à espera da sua concretização.

Um abraço

Fernando Tenreiro disse...

Caro João

Vou-lhe dizer um segredo.

Acho que o PSD e o CDS vão cometer erros semelhantes aos que o PS cometeu no desporto.

Mas isto não se pode dizer desde já porque passaram 45 dias, quando se deve esperar por 180 dias para avaliar tudo bem.

Porque é que eu estou pessimista.

Pelo que não foi feito e não foi dito.

Não é pelo que foi feito e foi dito.

A Maioria Silenciosa espera que lhe dêem um oxigeniozinho, por graça do altíssimo ou de outros factores milagreiros.

Paul Krugman, o prémio Nobel da economia, diz que os médicos medievais sangravam as pessoas para lhes curarem as doenças.

Foi isso que aconteceu no desporto de múltiplas formas durante os últimos 6 anos e agora contrataram-se os mesmos doutores da igreja para quê?

Porque é que as pessoas votam se depois se contratam as mesmas pessoas para fazerem o que se fez no passado?

Acontece que a Maioria Silenciosa recusa aceitar que foi sangrada e que vai continuar a sê-lo se os doutores da igreja repetirem aquilo que sabem fazer melhor que é sangrarem o paciente.

um abraço

joão boaventura disse...

Caro Fernando

As pessoas votam não é para que o governo faça o que elas desejam, mas para que façam o que é melhor para o país.

É por isso que elas se revoltam: é pelo facto de que os governos afinal fazem o que é melhor para eles.

É uma armadilha de que nunca nos livraremos.

Um abraço

Fernando Tenreiro disse...

Caro João

A contradição maior é que hoje os técnicos têm um maior capital de conhecimentos do que tinham no passado.

Não vale a pena falar de nomes mas pelo menos na década de 80 havia chamados técnicos no IDP que não sabiam escrever uma linha.

Hoje existe um capital de licenciados, mestrados e doutorados ou doutorandos como nunca houve no passado e veja que os livros que saem têm apenas os nomes do presidente e do secretario de estado os quais coontrolaram cada linha e cada vírgula.

Estes técnicos que são mais valiosos do que no passado não têm uma atribuição de funções e avaliação de desempenho ao nível das suas capacidades e competências.

A pergunta é: e então o desporto necessita dos licenciados ou necessita do IDP que trabalha com funções administrativas simples?

Os resultados desportivos e sociais menores mostram que as funções afectam os resultados e existe a necessidade de actuar sobre as funções.

O erro da liderança pública aqui é que quando necessita de resultados conpra fora, em vez de usar os recursos internos ao IDP e ao desporto.

A liderança pública prefere ou não fazer estudos sociais ou contratar fora ou definir e utilizar funções administrativas que são menores e combater o debate público das políticas desportivas.

O que lhe quero dizer é que é possível analisar bem o que se faz e demonstrar a irrazoabilidade do que se faz.

Os desafios são elevados e não é por isso que não exijam o nosso empenhamento e tentativa de compreensão e alerta.

um abraço