terça-feira, 23 de agosto de 2011

Os estudos económicos e os fracassos do mercado do conhecimento desportivo nacional

Mirandela da Costa determinou a realização dos primeiros estudos económicos no desporto nacional, o Programa Integrado de Desenvolvimento Desportivo e desde aí as coisa foram morrendo por actos directos e pelo deixar andar das coisas no desporto.

Os dinheiros escorriam com relativa facilidade pelo tem de ser do boca a boca dos líderes institucionais privados e públicos.

O estudo do Euro2004 foi um paradigma, contrataram-se muitas faculdades e os resultados a obter tinham de dizer que o modelo escolhido era o correcto. Nada foi discutido com base em alternativas de investimento servindo um modelo de desenvolvimento desportivo. Nada foi analisado tecnicamente sobre o pós-evento. O Estado nunca se preocupou. A sua única preocupação foi mostrar que o Estado conseguia o equilíbrio entre aquilo que investia e os resultados do evento na óptica da contabilidade nacional.

O desporto e os resultados desportivos do investimento pré e pós-evento nunca se analisaram.

Quem levantou dúvidas sobre este modelo ficou muito mal visto e sofreu consequências. Que consequências? Apenas um exemplo do género que quem levantou dúvidas não teve bilhetes para nenhum dos jogos do Euro2004 oferecidos por quem oferecia essas benesses às pessoas que concordavam com o estudo realizado.

Chama-se a este fenómeno de captura do investigador universitário, que deveria ser independente e o deixou de ser, pelo proprietário do estudo.

Outro exemplo paradigmático são os estudos encomendados pelo Estado a empresas multinacionais sediadas em Portugal e que regra geral têm custos incomportáveis (estas empresas são caras mesmo ignorando as peculiaridades  do mercado do desporto) nada dizendo de inovador e pouco se conhecendo de resultados práticos após o fim do projecto.

Este é o caso dos estudos económicos encomendados pelo Estado para a área do desporto.

O que ressalta destes comportamentos é a inexistência de funções desportivas, económicas e sociais bem fundamentadas na administração do desporto capazes de conceber e equacionar processos de desenvolvimento do conhecimento desportivo, económico e social do desporto português.

As decisões tomadas e inquestionáveis por imperativo superior, da secretaria de estado, do ministro e do governo, eventualmente suportadas em documentos jurídicos que se auto-justificam mesmo quando entram em domínios não-jurídicos e acertadas pelo interesse de parceiros indiferenciados são a base do fracasso do desporto português em termos gerais.


O exemplo europeu é claro. Basta ler o Livro Branco do Desporto e os múltiplos actos da União Europeia para observar a sustentação desportiva, económica e social das decisões e dos programas efectuados em estatísticas e estudos que se vão desenvolvendo e surgindo.

A abordagem técnica do desporto é um processo cultural antes de ser sectorial.

Hoje no desporto português muitos técnicos do desporto vêem as suas funções de concepção do produto e das funções de gestão de desporto serem substituídas por actos administrativos e jurisdicionais ineficazes e ineficientes determinados por cadeias de decisão redundantes e avessas à concepção e à racionalidade da produção de desporto.

Há sectores técnicos que conseguem alguma actuação dentro da racionalidade própria dos seus sectores como a medicina e o doping, por via das consequências da sua não implementação que redundam em mortes ou numa imagem social muito negativa. A engenharia e a arquitectura conseguindo produzir instalações desportivas tecnicamente consolidadas na sua área de especialização. Porém, a medicina não consegue passar ao desporto as dimensões da prática que consegue noutros países desenvolvidos e as instalações desportivas são amplamente desenquadradas de resultados desportivos, económicos e sociais.

A extensão do fracasso cultural do conhecimento desportivo pela apropriação política e jurisdicional é o desafio a defrontar na actualidade do desporto nacional.

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