sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O corpo do delito é o Desporto

Os especialistas da história do desporto europeu e do mundial sabem que o desporto no conceito da civilização greco-latina, reinventada por Coubertin e criada passo a passo pelos países europeus em competição aguerrida até alcançar o produto europeu do final do século XX e princípio do século XXI é feito de um consumo desportivo pleno por parte das populações e pela conquista de resultados em todas as competições, mesmo que sejam a berlindes.

Portugal tem inventado a sua incapacidade e matou aquele Desporto Europeu para os portugueses.

O desporto para os portugueses é uma vítima do modelo de produção desportiva nacional.

A produção de desporto na Europa é um produto de excelência em todos os seus domínios.

Portugal que está em último nos indicadores europeus e não pode assumir uma excelência para o qual não apresenta resultados,  nem esperar que a Europa o considere seriamente neste domínio.

Os sucessos de uma modalidade nacional tem sido 'o momento' e não a permanência de resultados de excelência, consumindo o talento, o esforço e a dedicação dos parceiros privados.

Não se escrutina uma solução por parte da sociedade para a realidade desportiva que as estatísticas europeias demonstram.

A liderança do regime vigente desde há muito permite manter as más soluções dos problemas, da forma que sempre foram mal solucionados os problemas do desporto português.

Já houve negligência e os erros acumulam-se por carência de diagnóstico certo, decisão bem fundamentada e visando o bem comum. Sem a correcção do bom diagnóstico o erro surge e regride o produto desportivo nacional.

Os erros surgem no plano desportivo e no económico sobre o qual assenta a norma legislativa que se diz ser asséptica e inodora. A norma criada para o desporto português é burocrática, ineficaz, ineficiente e desigual, é um meio de contaminação bacteriana e tem cheiro porque se assume como única e visa a anulação de qualquer outra ciência. É esta a matéria de que se alimenta a comunicação social e há nacos deste mau desporto que alimentam os média.


No desporto português há um corpo do delito que é o Desporto.

No desporto português há um delito que é aquilo que se faz e aquilo que se devia fazer e que não se faz.

A concepção de um modelo de desporto europeu para Portugal exige que se comece do zero, partir do nada que é o último lugar europeu, para criar um todo coerentemente europeu.

É um trabalho social a ser liderado por um querer nacional e alicerçado na capacidade de raciocínio e de debate entre agentes livres, responsáveis pelos seus sectores e capazes de assumir o risco das suas próprias responsabilidades. É para pessoas sem preconceitos, capazes de discutir publicamente as suas ideias, confrontar-se com o contraditório, reconhecer os seus erros, se for caso disso, e emendá-los, pessoas com coragem e inteligentes para juntarem os melhores valores nacionais e potenciá-los porque esse é o caminho para realizar o bem comum.

A Universidade tem um papel fundamental de apuramento dos melhores procedimentos científicos e técnicos para melhor servir a via de Portugal para a média e o topo europeu.



O último lugar europeu é o da morte do desporto português.

O último lugar europeu é a demonstração factual do delito praticado pelas políticas desportivas nacionais.

A recusa da liderança do modelo desportivo nacional em dissecar o corpo através das estatísticas e de estudos técnicos e científicos, em trabalhar politicamente os resultados alcançados e a recusa em trabalhar com os melhores em cada campo do conhecimento é a premeditação para o delito, mesmo que negligente ou involuntário.

O mau direito e a má economia do modelo desportivo vigente, para além das políticas desportivas correntes são os três instrumentos do crime perpetrado.


É sobre esta nulidade material e crise moral e social que há que trabalhar no desporto português.

8 comentários:

Marina Albino disse...

Partilho inteiramente a sua opinião . E será que alguém do poder o oiça ? ...esperemos que sim!

Fernando Tenreiro disse...

Eu sou funcionário público e não posso falar do que anda a fazer o poder, se falasse, o que não faço, diria que estão coniventes a encobrir o crime.
Mas eu não posso dizer isto.

Armando Inocentes disse...

Ler Fernando Tenreiro torna-se um privilégio quando escreve coisas excepcionais como estas...

Claro que não poderá falar sobre as conivências, mas que elas existem, lá isso existem!

Sobre o desporto português, para além dos poucos que o praticam, acabamos de ter agora mais um exemplo: o do hóquei em patins...


Quanto à pergunta da Maria Albino, cá em baixo alguém vai ouvindo Fernando Tenreiro. Façamos eco do que ele diz para ver se as suas palavras chegam lá acima!

Abraço cordial aos dois.

Fernando Tenreiro disse...

Você exagera. Isto são desabafos que não chegam ao céu. Há algum gozo em escrever coisas que agradam a pessoas como vocês.

Quanto ao hóquei patins, o seu ex-presidente Castelo Branco, já falecido, perdeu a grande oportunidade nos Jogos de Barcelona quando deveria ter juntado as duas actividades dos patins em linha e os patins de quatro rodas. Parece que os patins em linha queriam a fusão e os outros recusaram. Foi um erro mortal que podia ter criado uma federação com consumidores jovens em vários continentes.

Armando Inocentes disse...

Pois, as "coisas" deveriam era agradar aos outros... mas a esses desagradam!

E não é nenhum exagero, pois quem leu "O dinheiro é meu!" nesse livro que se chama "Em Defesa do Desporto" sabe do o que quero dizer.

Grande abraço.

joão boaventura disse...

Caro Fernando

Inteiramente de acordo, pelo que proponho que o subtítulo do seu blog
seja alterado para:

"O sentido do que não se passa no menos excitante mercado económico de Portugal mas passa-se no mais excitante mercado económico do mundo"

porque o contraste é permanentemente focado.

Infelizmente a sua semente escolheu mal o terreno para ser lançada, pela simples razão de que as anteriores sementes ainda não medraram, como se comprova com o tempo.

Um abraço

Fernando Tenreiro disse...

Em cheio!

Desta vez sou eu que concordo inteiramente consigo!

Armando Inocentes disse...

Caro Fernando Tenreiro:

Na senda de João Boaventura também proponho uma alteração nos dois últimos parágrafos:

"O mau direito e a má economia do modelo desportivo vigente, para além das MÁS políticas desportivas correntes são os três instrumentos do crime perpetrado.

É sobre esta nulidade material e crise ÉTICA, moral e social que há que trabalhar no desporto português."

Trabalhemos pois, nós, os de baixo, porque os de cima não precisam.... podem continuar a fazer mais do mesmo!

Um abraço!