sábado, 26 de fevereiro de 2011

Se a culpa é dos outros, já pensaram em fechar o negócio do futebol?

O debate na Liga de clubes sobre a violência faz o seu discurso habitual à volta da Lei que é ou não insuficiente, das limitações do Estado na aplicação ou não na Lei, dos juristas que concluem que os resultados noutros países são diferenciados, dos clubes que não punem os adeptos violentos porque não têm meios, do Estado referindo a responsabilização dos clubes e da Liga, etc.

A violência é um custo e um prejuízo para a sociedade. A violência tem de ser combatida com ética desportiva e social.

Os clubes e o Estado não combatem com eficácia o hooliganismo porque a economia da violência beneficia das más leis, da rotina das estruturas policiais e os tribunais do Estado, dos especialistas nestes processos judiciais, da marginalidade das claques oficializadas ou não dos maiores clubes para objectivos sem ética. Os hooligans cobrem a ineficiência e o fracasso da competição profissional. Sem hooligans e com uma opinião pública exigente quanto à qualidade do produto os erros da competição surgiriam com maior nitidez.

A questão pode pôr-se de uma forma mais simples para se poder tornar eficiente.

Por eficiente quero dizer dar o produto desportivo prometido que os sócios pagam para ter uma determinada qualidade e que a violência, entre outros factores, retira essa qualidade e faz perder aos investidores o seu dinheiro no patrocínio efectuado e aos sócios o dinheiro aplicado.

Se todos os agentes privados e públicos admitem e comportam-se efectivamente atirando as culpas uns aos outros, o melhor que têm de fazer é pouparem dinheiro aos agentes privados, ao Estado e aos adeptos e fecham o negócio.

Resolver o problema da violência no futebol é uma história mal contada porque o desporto não tem uma política clara e eficiente de segurança. Por um lado, como diz o presidente do ACP gastam-se mais de 3 milhões de euros na segurança do Rally de Portugal, por outro, perdem-se milhões de euros nos estádios de futebol não só porque não há medidas de combate aos culpados, como não existem políticas de preços que levem os jovens, as famílias e as empresas em peso aos estádios. Em Barcelona as escolas são convidadas dos jogos com a participação do Estado e do clube e cada escola leva os seus cartazes a favor do fair-play, contra a marginalidade e o racismo.

A ética dos líderes portugueses enquanto ficar para os outros aplicarem é incomportável de assumir pelo Estado. O Estado também tem funções públicas que não cumpre, assim como os agentes sociais também têm responsabilidades éticas que não assumem.

O combate ao hooliganismo faz-se:

1.Avaliando o custo em milhares/milhões de euros dos erros que se cometem.
2.Ligando o impacto económico do hooliganismo ao débito do espectáculo da primeira Liga.
3.Aprovando um código de ética no desporto.
4.Elegendo um programa com objectivos, meios, estruturas, responsabilidades claras e prestação de contas públicas pelos envolvidos.
5.Assinando compromissos entre os líderes e instituições desportivos, económicos e sociais.

O cenário actual parece retórico e eticamente falseado.

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