Falamos dos clubes, empresas, ligas, federações, jovens que se matam e aleijam a praticar desporto, andamos atrás do Ronaldo e do Mourinho. Depois a Jéssica Augusto e o Frederico Gil dão um 'ar da sua graça' demonstrando que existe mais desporto para além do futebol e temos a cabeça cheia de ideias e falta-nos o âmago do produto e da produção que é o desporto.
Temos qualidades únicas de produção desportiva e não as exploramos ou, dizendo de outra forma, não as potenciamos porque a exploração que fazemos esgota o desenvolvimento sustentado do todo, faltando-nos saberes que a Europa descobriu ao longo do século XX mantendo-se na liderança do desporto mundial. Nós não conseguimos sequer sair do último lugar europeu.
Tenho a percepção de que à medida que o país for compreendendo o logro recente e as palavras se forem tornando mais duras na sua apreciação, haverá a curiosidade para compreender vias alternativas àquilo que foi feito no desporto e em seu nome.
Fizeram-se leis de bases e regimes jurídicos e existem leis e despachos que tendo de ser cumpridos afectam o comportamento dos agentes privados e incentivam comportamentos maus e desincentivam o desporto porque afinal se sabe mal o que é o desporto moderno, aquele que é praticado na Europa.
Nesta altura não estamos muito longe da década de sessenta do século passado quando se descobriu que o futebol tinha uma dimensão nacional, de orgulho e amor-próprio que nenhum outro sector fazia por mais apadrinhado que fosse pelo regime.
Agora deixam-se as autarquias tratar das populações como antes a Mocidade Portuguesa ocupava os jovens com actividades extracurriculares.
Não existe uma política desportiva nova que explique e sustente a actuação específica das autarquias.
Estas são compradas com fundos comunitários e contratos-programa com a administração central, que lhes sugam os rendimentos desportivos durante décadas em nome do alto rendimento, que se diz que as federações produzem orgulhosamente.
Sem dúvida que o fazem orgulhosamente mas fazem-no com pouca eficácia, fazem-no menos bem feito do que o fazem as federações dos países com quem Portugal compete na Europa e no mundo.
As federações portuguesas não estão a compreender o potencial da estrutura vertical de produção desportiva do Modelo Europeu de Desporto e fixam-se no seu topo porque é para o topo que recebem dinheiro público. Mas ganhariam muito mais trabalhando toda a estrutura vertical do informal ao alto rendimento.
A sede de conhecimento de um modelo de desenvolvimento desportivo que sustente o seu crescimento, crie postos de trabalho, produza capital social local abundante através da protecção dos clubes de bairro e atraia agentes económicos competitivos procura hoje compreender porque é que as federações portuguesas falham o seu produto desportivo, elas que são o alfa e o ómega do desporto nacional, são as instituições que têm os melhores e mais conhecedores técnicos e líderes do desporto português, alguns apoiados pelos investigadores e catedráticos de maior nomeada nacional.
A resposta poderá ser mais simples e estar na capacidade de produzir e debater ideias e acumular conhecimento que se estruture em boas instituições públicas e privadas para além das corporações e dos partidos.
Esse debate a começar deve fixar-se na definição de produto sob pena de chamando muitos nomes, desporto para todos, informal, formal, alto rendimento, actividade física, desporto, recreação, futebol, judo, etc., Portugal acaba por não conseguir fixar o elemento fundamental que identifica e distingue o desporto de todos os outros sectores da actividade produtiva.
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