Os reis vão nus, diz Pedro Santos Guerreiro no Jornal de Negócios, aqui.
Alguma, muita nata da alta finança nacional está falida, como tantas outras coisas deste país.
O desporto português não é uma ilha, porque também sofre dos mesmos males.
O que acontece no desporto é que não existem estatísticas e análises e nada se sabe, mas pressente-se.
Aqui ficam estratos do artigo de Pedro Santos Guerreiro:
"O mundo não se divide hoje entre ricos e pobres, mas entre os que têm capital e dívidas. Portugal tem dívidas. Os seus banqueiros, empresários, cidadãos têm dívidas. E quando chegar a liquidação, liquidação será.
...
Esta lista (da revista Exame) dos mais ricos de Portugal é um monumento à decadência do capitalismo português. Ao listar apenas o património, mede-se a opulência. Ao ignorar as dívidas, ocultam-se os caídos. Metade dos magníficos empresários Dr. Jekyll transformam-se à noite em endividados Mr. Hyde. Só não estão executados porque em Portugal há muito respeitinho - e porque uma dívida grande não é um problema do devedor, é um problema do credor.
A semente da destruição está numa elite capitalista sem capital. Em parte porque foi expropriada em 1975 com fracas indemnizações depois. Noutra parte, porque foi recebendo dividendos na Suíça e distribuindo pelas famílias. Depois, porque nunca quis abdicar do controlo de 10 em vez de partilhar 100 (o medo de ter sócios..., sobretudo se forem - credo! - estrangeiros). E finalmente: porque há muitas empresas grandes mal geridas.
Esta estrutura empresarial está a ruir, 4% ao dia, na bolsa. A falta de capital, as cascatas de dívida, os dividendos não suportam um problema: a desvalorização dos colaterais. As acções são hoje casas decimais do que eram quando foram dadas como contrapartidas de dívidas. O caso mais famoso é o dos accionistas do BCP, num processo que foi aqui muitas vezes denunciado: o patrocínio da Caixa e do próprio BCP a uma guerra sem quartel, financiando guerreiros e guerrilheiros contra acções que não valiam o que cotavam. Os activos desvalorizam, os passivos ficaram. Agora, quem paga?
Joe Berardo, Teixeira Duarte, Manuel Fino... Os "donos" do BCP estão nas mãos dos bancos, que estão com as mãos na cabeça. Mas há mais. As dívidas da Impresa, da Ongoing, da Zon, da Brisa, das construtoras, das imobiliárias, tudo isto são dívidas também dos seus accionistas. Como o Estado: prepara-se para vender o controlo da EDP sem prémio de controlo.
...
Não estão todos assim. Amorim está mais rico que nunca depois de ter encontrado petróleo. Soares dos Santos está mais rico que nunca depois de ter criado o seu próprio petróleo na Polónia. Queiroz Pereira, que não foi em loucuras e teve os apoios certos dos Governos, prepara-se para mobilizar centenas de milhões para comprar parte da Secil (ou para disputar parte da Cimpor?). São excepções.
O cerco é financeiro. A venda de activos será acelerada e o Governo já escolheu os predilectos: alemães e franceses, talvez brasileiros e angolanos. Que venham por bem, não para desmantelar, mas para investir e gerir bem. Se assim for, que venham eles. Viva o Verão, viva este Verão, este Verão de ilusão."
Há uma pequenina diferença para o desporto.
PSG diz que o cerco é financeiro e que os predilectos do Governo são alemães e franceses, talvez brasileiros e angolanos, se vierem por bem. PSG sabe que que a finança nunca vem pelo bem dos outros.
Ficar-lhe-á bem deixar uma réstea de esperança.
A pequenina diferença para o desporto é que o passivo acumulado não tem comprador.
Primeiro - Há coisas que não têm verdadeiramente valor no mercado privado e ninguém as vai comprar porque o associativismo desportivo é composto maioritariamente por bens públicos e de mérito e não bens privados.
Segundo - O passivo acumulado não tem rendibilidade financeira. O que existe é óptimo a dar resultados com financiamentos públicos. O que se coomeça a sentir é que estes financiamentos públicos entram desavergonhadamente pelos bolsos de quem não tem nada a ver com as negociatas desportivas que se fazem com o dinheiro da população.
Mesmo quendo uma empresa municipal paga milhares de euros ao administrador do estádio que o mantém durante anos e anos sem geração de rendimentos adicionais, a origem do dinheiro do seu salário é a população que paga a incompetência não só da concepção económica da infra-estrutura desportiva como do processo de gestão equacionado.
Alguém acredita em PSG que os ricos estão falidos e também acredita, como dizem os anónimos do Colectividade Desportiva, que os últimos anos foi tudo uma maravilha no desporto português?
Na finança a solução é vender a estrangeiros.
E no desporto como vai ser?
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