Este é um exemplo clássico da economia.
Um governante resolve fazer uma ponte no deserto para salvar a economia da recessão e contrata uma empresa que cria postos de trabalho, anima a economia, os jornais vendem-se mais com os trabalhadores na ponte, os bancos emprestam e fazem o dinheiro circular, há visitas de engenheiros e outros empresários e os hóteis e restaurantes animam-se, durante 3 semanas a região comemora a construção da ponte havendo romarias à ponte no deserto.
Passada a festa a ponte deixou de ser visitada e foi abandonada.
Quem ganhou e quem perdeu com a construção da ponte no deserto?
Quem ganhou foram os empreiteiros, os bancos, as empresas fornecedoras de materiais, alguma população teve emprego, o governante teve publicidade pela obra feita, a comunicação social e o turismo.
Quem perdeu foi a população que ficou com a ponte para pagar e não tem benefício da sua utilização.
Diga-se que o governante tinha feito a ponte no deserto porque numa região vizinha duas comunidades separadas por um rio tinham construído uma ponte e o seu sucesso tinha sido instantâneo gerando novas relações entre as duas comunidades que antes para se encontrarem tinham de percorrer dezenas de quilómetros. Com a ponte sobre o rio surgiram novas actividades económicas, novas industrias, novos postos de trabalho e o governo pagou a ponte com o diferencial de aumento da actividade económica.
A listagem de obra anunciada nos últimos anos e a crise que ajudou à bancarrota do país mostram que os investimentos feitos por Portugal estiveram entre a ponte no deserto e a ponte no rio.
No caso de alguns estádios e de outras obras como centros de estágios muito caros concluímos que definitivamente são pontes no deserto.
Um centro de estágio para o atletismo pode justificar-se porque existe capital para a sua viabilização desportiva e financeira, enquanto outros centros de estágio fecham porque não existe suficiente acumulação de capital desportiva para a viabilizar. O remo de Montemor o Velho e o ciclismo de Sangalhos poderão ser verdadeiras pontes no deserto.
O hábito de fazer obra surgiu com a entrada às resmas dos dinheiros comunitários ainda no tempo do ex-primeiro-ministro Cavaco Silva onde o critério de decisão era a eficácia da aplicação dos dinheiros e não a boa aplicação dos mesmos.
Estes hábitos perduraram e depois de se esgotarem os dinheiros grátis da UE inventou-se o endividamento dos nossos filhos e da nossa velhice para o ritmo de obra se manter e mostrar no dia anterior às eleições.
O desenvolvimento económico e social é mais do que uma lista de obra.
As pessoas deveriam votar no desenvolvimento sustentado de Portugal e não nas listas de obra que por aís circulam obsessivamente.
A lista de obra é fácil de fazer e de promover.
Mais relevante será trabalhar para o bem comum e sem alarde na comunicação social deixar que a opinião pública decida se pretende manter o estilo de governação ou quer alterar para outro governante.
A possibilidade real de alternância seria melhor servida com estudos económicos que facilitassem o conhecimento dos ganhadores e perdedores da obra realizada.
Sem estudos ecoonómicos as pessoas até podem pensar que o direito de ficarem 50 anos no governo é um acto que as festas das inaugurações e as festas eleitorais justificam abundantemente.
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